Haddad visitou Lula na prisão mas um sector do PT pede que ex-Presidente se afaste

Bolsonaro já começou contactos com os novos deputados. O seu resultado teve efeitos positivos na bolsa e no valor do real.

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Fernando Haddad à entrada na prisão de Curitiba onde está Lula da Silva Rodolfo Buhrer/Reuters

O candidato do Partido dos Trabalhadores à presidência do Brasil, Fernando Haddad, visitou nesta segunda-feira Lula da Silva na prisão de Curitiba para traçar a estratégia para a segunda volta. Foi o seu primeiro acto de campanha e alguns sectores do partido pedem uma mudança de estratégia.

O partido está fraccionado sobre como deve ser a estratégia da segunda volta e um sector considera que Lula, o antigo Presidente que cumpre uma pena de 12 anos de prisão por corrupção, deve entregar definitivamente a campanha a Haddad.

Em declarações ao jornal Folha de São Paulo, um dirigente do PT cujo nome não é citado disse que a prioridade na segunda volta deve ser criar “uma zona de conforto” para que os eleitores que rejeitam Jair Bolsonaro, o candidato de extrema-direita que ficou largamente à frente na primeira volta, mas que também são críticos do PT (e de Lula), “possam apoiar Haddad num movimento pela democracia”.

Os analistas brasileiros sublinharam, na campanha da primeira volta — a segunda realiza-se a 28 de Outubro —, que a estratégia imposta pela ala dominante do PT, de colar Haddad a Lula no lema “Haddad é Lula, Lula é Haddad”, foi prejudicial ao candidato petista devido à polarização que transformou as presidenciais num movimento pró-lulismo e anti-lulismo. Disseram também que Haddad tem que assumir os erros do partido e da sua governação, nomeadamente a corrupção, de forma a distanciar-se da era Lula (que incluiu a presidência Dilma Rousseff).

Jair Bolsonaro, por seu lado, começou de imediato a capitalizar os 46% de votos que recebeu na votação de domingo (Haddad teve 29% dos votos), dando início à campanha posicionando-se como o candidato que mais hipóteses tem de se tornar o próximo Presidente do Brasil. Nesta segunda-feira, anunciou, começou a fazer os primeiros contactos com os novos legisladores no Congresso de Deputados (o Partido Social Liberal, que o apoio, tem a segunda maior bancada e há várias outras formações preparadas para se aliarem), para criar condições de governabilidade no caso de ser eleito.

Disse também que vai manter Paulo Guedes, o economista que prometeu tornar num super-ministro para reverter a grave crise económica no país, como conselheiro económico da campanha da segunda volta. E prometeu continuar a ser um candidato com uma mensagem de linha dura — não será um candidato “da paz e do amor”, disse. 

Os efeitos da votação de domingo — primeiro lugar de Bolsonaro e grande representatividade dos partidos que o apoiam — na bolsa foram positivos, que abriu em alta de 6%. A moeda brasileira, o real, também recuperou valor em relação ao dólar.

Segundo o economista Alexandre Póvoa, o mercado não esperava uma votação tão expressiva em Bolsonaro e a reacção foi positiva. “A expectativa era algo perto de 40% ou 41% dos votos válidos, mas foi surpreendente, acima do que o mercado esperava”, disse o economista ao Estadão, a edição online do jornal Estado de São Paulo.

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