Intenso ciclo eleitoral em Espanha arranca na Andaluzia a 2 de Dezembro
PSOE enfrenta dificuldades para fazer passar Orçamento mas conta que bom resultado andaluz influencie os eleitores antes das municipais e autonómicas de Maio. Eleições de Dezembro são primeiro teste ao novo líder do PP.
E a baronesa do PSOE lá acabou com o suspense: as eleições autonómicas antecipadas na Andaluzia serão a 2 de Dezembro. Susana Díaz, presidente do governo regional, quer aproveitar o bom momento dos socialistas e antecipar-se ao previsível desgaste do Governo. Para o primeiro-ministro, Pedro Sánchez, a expectativa é que um bom resultado da eterna rival tenha repercussões na grande ida às urnas de Maio, com municipais e autonómicas em toda a Espanha, para além das eleições europeias.
Mais uma vez serão os andaluzes a marcar o arranque das disputas eleitorais no resto do país. Repete-se o que aconteceu em 2015, quando Díaz decidiu ir a votos em Março, dois meses antes do previsto e da realização de eleições em todos os municípios espanhóis e assembleias de 13 comunidades autonómicas.
Há quatro anos foi ela a romper a coligação com a Esquerda Unida. Desta vez não teve escolha – o partido Cidadãos, que lhe garantiu a investidura quando perdeu a maioria, abandonou em Setembro o pacto com a socialista, queixando-se da “falta de vontade” de Díaz em cumprir as propostas do partido de direita para obter a regeneração democrática (alteração da lei eleitoral, limite aos cargos de nomeação e aos mandatos dos deputados regionais). Na prática, o que o Cidadãos quis foi afastar-se do PSOE na sequência da mudança de inquilino na Moncloa.
No início de 2015 estava em causa a confirmação do fim do bipartidarismo, com o crescimento do Cidadãos, à direita, e do Podemos, à esquerda. Algo que as sondagens indicavam e que a votação confirmou um pouco por toda a Espanha, com a eleição de autarcas e presidentes regionais destes partidos em algumas cidades e regiões, enquanto noutras os resultados obrigaram o Partido Socialista e o Partido Popular a negociar apoios com as novas formações políticas.
Desta vez, o cenário nacional é bem diferente. E mais ainda do que na anterior legislatura muito se joga aqui a nível nacional. No poder, em vez do PP, está agora Sánchez, que derrubou Mariano Rajoy com uma moção de censura no início de Junho. Uma iniciativa que abalou o Cidadãos – o partido fundado na Catalunha por Albert Rivera, que apoiava o Governo conservador, não acreditou no sucesso da moção e manteve-se à margem, o que o fez descer nas sondagens que desde as eleições catalãs de Dezembro o apontavam como mais votado num cenário de legislativas.
Se este será o primeiro teste eleitoral de Sánchez pós-chegada ao poder, as expectativas sobre o resultado do PP, agora presidido por Pablo Casado, são quase maiores. Isto porque em causa está a liderança do espaço político da direita, que Casado quer evitar perder para o Cidadãos. As escolhas dos andaluzes servirão ainda de laboratório para Sánchez perceber a eventual utilidade de antecipar as eleições nacionais.
Orçamento em risco
A campanha vai começar com Sánchez ocupado a tentar salvar o Orçamento de 2019 – chegado ao poder com o apoio do Podemos e dos independentistas catalães e bascos, arrisca-se a perder estes apoios no voto do documento que tem de ser aprovado antes do fim do ano. Com os deputados eleitos pela Catalunha a recusarem apoiar o texto (em troca queriam que Madrid aceitasse um referendo sobre a independência e fizesse retirar as acusações mais graves, rebelião e sedição, contra os ex-líderes catalães detidos) agora é o próprio Podemos que diz estar a reconsiderar o seu voto.
Esta é precisamente a semana em que o Governo terá de apresentar ao país as linhas gerais do documento que na próxima segunda-feira vai apresentar em Bruxelas. Caso não tenha votos para aprovar o Orçamento, Sánchez pode governar com o que vigora este ano (com todas as restrições que isto implica e a impossibilidade de pôr em prática as prometidas medidas sociais) ou decidir antecipar as legislativas.
Na Andaluzia, Díaz liderava na última sondagem, com 34%. No inquérito do Instituto Geral de Opinião Pública da região, já de Fevereiro, o C’s surgia em segundo, com 19,8%, logo seguido pelo PP, com 18,3%.
Casado pede aos espanhóis todos os votos “à direita do PSOE”, como única forma de “derrubar Sánchez”. Na Andaluzia, disse esta segunda-feira aos jornalistas, espera “um resultado magnífico” que leve ao poder o líder dos populares na comunidade, Juan Manuel Moreno.
O PP acusa Díaz de fazer coincidir o anúncio da data das eleições com a sua denúncia do caso da extinta Faffe em que responsáveis usaram cartões de crédito desta antiga fundação para pagar festas em bares de alterne. O caso é anterior à presidência de Díaz, mas a oposição acusa-a de ter ocultado informações ao parlamento autonómico.
O Cidadãos, por seu turno, espera “continuar a crescer até 2 de Dezembro e ter o apoio da maioria dos andaluzes para uma mudança real” na única região onde nunca houve alternância e os socialistas governam há 37 anos. Rivera, aliás, é o líder nacional que mais tempo tem passado na comunidade, acompanhando o dirigente local, Juan Marín, o mesmo que negociou com Diáz em 2015 e que agora espera tomar o seu lugar.