Fogo na serra de Sintra em rescaldo, mas regresso do vento preocupa
Fogo de grandes dimensões deflagrou junto ao Convento da Peninha, tendo provocado 21 vítimas, 11 das quais tiveram que ter assistência hospitalar.
O incêndio que deflagrou este sábado à noite no Parque Natural de Sintra Cascais já está em fase de rescaldo, mas ainda preocupa os responsáveis da Protecção Civil. Isto porque o vento ameaça regressar até às 15h e de novo a partir das 22h, o que pode provocar reacendimentos. “O incêndio entrou em fase de rescaldo, mas não podemos baixar a guarda”, afirmou o comandante distrital de Lisboa, André Fernandes, numa conferência de imprensa à hora do almoço.
A prioridade foi renovar os operacionais que estão no terreno, substituindo os que estiveram durante a noite, na fase mais complicada do fogo.
O comandante distrital adiantou que o incêndio já provocou 11 feridos, todos ligeiros, dez dos quais bombeiros e um civil, que já teve alta hospitalar. Outros dez bombeiros foram assistidos no local, mas regressaram ao combate. “Contabilizamos 21 vítimas”, referiu André Fernandes.
Relativamente aos danos materiais, o comandante distrital desmente um colega do Comando Nacional de Operações de Socorro que adiantou que havia duas casas danificadas. André Fernandes garantia que o fogo só atingira anexos e destruíra uma viatura ligeira. Foi dado por dominado pelas 10h45, precisou o responsável da Protecção Civil.
André Fernandes disse que de manhã houve oito meios aéreos envolvidos no combate ao incêndio na serra de Sintra, alguns dos quais se iam manter no local até ao final da tarde. O responsável adiantou ainda que há várias máquinas de rasto no terreno a construir um aceiro, uma faixa sem vegetação, à volta do perímetro do incêndio
Pelas 12h10, estavam no local do incêndio 724 operacionais, apoiados por 216 veículos. “Estamos a falar de um incêndio num parque natural, que faz parte da rede natura 2000, que conflui com uma área urbana fortemente habitada”, justificava Paulo Santos, do Comando Nacional de Operações de Socorro da Protecção Civil, para explicar o elevado número de meios no local ao longo da noite e manhã. Os operacionais estão agora atentos aos reacendimentos, que se não forem rapidamente debelados podem fazer com que o incêndio se active novamente.
347 pessoas retiradas
O incêndio obrigou à retirada de um total de 347 pessoas, 300 das quais do parque de campismo de Cascais, e 47 das respectivas habitações das aldeias de Biscaia, Figueira do Guincho, Almoínhas e Charneca. O Picadeiro D. Carlos também foi evacuado, o que obrigou a retirar do local 70 animais.
No entanto, segundo André Fernandes à hora de almoço tanto campistas como residentes já tinham autorização para regressarem.
O incêndio deflagrou no sábado, às 22h50, na zona da Peninha, serra de Sintra, tendo depois alastrado ao concelho de Cascais. O combate às chamas foi muito dificultado pelos ventos que chegaram a ter rajadas de 100 quilómetros por hora, o que levou a uma rápida velocidade de propagação.
Olhando para as imagens de satélite disponibilizadas pelo Sistema de Informação Europeu de Incêndios Florestais, Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), estima que arderam mais de 600 hectares no incêndio.
"Fora de controlo"
Fonte oficial da Protecção Civil dizia ao PÚBLICO cerca das 00h30 que o fogo estava “fora de controlo”. O combate às chamas, que conta com a participação de diversas corporações de bombeiros de localidades dos distritos de Lisboa, Setúbal e Leiria, estava então a ser dificultado pelo vento.
O “vento muito forte” também era referido ao PÚBLICO por Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, que falava numa situação de “gravidade acentuada”, com “projecções muito grandes”. O autarca afirmou, contudo, que estão no terreno meios de combate suficientes.
Marcelo foi à Câmara de Sintra
Durante a noite, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deslocou-se à Câmara de Sintra, onde esteve reunido com o autarca Basílio Horta, para acompanhar a coordenação do combate às chamas. O primeiro-ministro António Costa também já falou sobre o incêndio, garantindo que esteve até às 4h30 a acompanhar à distância o fogo.
O local onde deflagraram as chamas esta noite, junto ao Convento da Peninha, já foi palco de alguns incêndios graves, com destaque para a tragédia de 7 de Setembro de 1966, quando 25 militares do Regimento de Artilharia Fixa de Queluz morreram durante o combate a um sinistro que durou sete dias.
Devido ao tempo seco, grande parte do país encontrava-se este sábado sob risco máximo de incêndio, nomeadamente os distritos de Vila Real, Bragança, Viseu, Aveiro, Santarém, Coimbra, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Beja e Faro.
Na primeira semana de Outubro foram registados mais de 600 incêndios em todo o território nacional. Com Lusa