Falha de segurança: regulador europeu pede explicações ao Facebook
A informação divulgada pela rede social sobre a falha que comprometeu cerca de 50 milhões de contas na rede social é descrita como insuficiente.
O Facebook volta a ser alvo de atenção negativa por parte dos reguladores europeus depois de uma falha de segurança pôr em causa os dados de mais de 50 milhões de utilizadores daquela rede social. Até agora, a empresa diz que não sabe detalhes sobre os afectados e se houve, realmente, qualquer informação pessoal roubada. A Comissão para a Protecção de Dados da Irlanda (DPC, na sigla original) – uma das responsáveis por monitorizar as políticas daquele site – já anunciou que está a investigar a responsabilidade do próprio Facebook na falha de segurança.
“Estamos a aguardar detalhes urgentes sobre a falha de segurança que afectou 50 milhões de utilizadores, incluindo detalhes sobre os utilizadores europeus que foram afectados, para que possamos averiguar devidamente a natureza da falha e os riscos para os utilizadores”, lê-se num comunicado que a DPC publicou na tarde de domingo nas páginas das suas redes sociais.
Na União Europeia, a responsabilidade de investigar as políticas de privacidade do Facebook cabe ao regulador de dados da Irlanda visto que a sede europeia da rede social na Europa fica naquele país. De acordo com aquela organização, a informação dada pelo Facebook está longe de ser o suficiente.
Apesar da rapidez da empresa em divulgar a falha dentro das 72 horas previstas por lei (o problema terá sido detectado pelos engenheiros da rede social no dia 25 de Setembro, e divulgado dia 28 já depois de resolvido) sabem-se poucos detalhes sobre as zonas onde os utilizadores foram afectados. Também se desconhecem os motivos do ataque, os responsáveis e o tipo de informação roubada pelos atacantes.
Durante a tarde de domingo, a comissária europeia para a Justiça, Vera Jourova, pediu à rede social para colaborar por completo com o regulador irlandês. "Precisamos de saber se os utilizadores europeus foram afectados", escreveu a comissária numa publicação no Twitter. Em anexo, colocou um lembrete sobre as obrigações das empresas em caso de falhas de segurança.
Em teoria, com o novo Regulamento Geral para a Protecção de Dados (RGPD) que entrou em vigor em Maio para salvaguardar os dados dos utilizadores europeus, o Facebook pode ser multado até 1410 milhões de euros (1630 milhões de dólares). É o equivalente a cerca de 4% do volume de negócios anual da empresa. Em causa está o tipo de medidas que a rede social usa para garantir que a rede social não é alvo de ataque.
Em resposta à DPC, o Facebook diz que a investigação sobre o problema ainda está numa “fase inicial” e que mais dados serão revelados à medida que forem descobertos. Sabe-se, porém, que as contas do presidente executivo da rede social, Mark Zuckerberg, e da directora de operações, Sheryl Sandberg, estão entre aquelas afectadas.
Não é só na União Europeia que o Facebook enfrenta atenção negativa. Na Califórnia, horas depois da divulgação da falha de segurança, ainda durante o dia de sexta-feira, vários utilizadores processaram a empresa por negligência.
Os últimos anos 12 meses têm sido complicados para o Facebook, com Mark Zuckerberg em depoimentos consecutivos sobre as políticas da empresa no Parlamento Europeu, ao Senado e à Câmara dos Representantes do Congresso norte-americano. Em Setembro de 2017, o site descobriu que uma operação com origem russa promoveu a divulgação de informação falsa no site desde 2015. Mais tarde, em Março de 2018, veio o escândalo com o roubo de dados pela analista Cambridge Analytica e provas de que ataques a minorias resultaram de mentiras a circular no site como se fossem notícias.
Com o amontoar dos problemas, manter a confiança dos utilizadores torna-se difícil. De acordo com dados de Setembro de 2018 do Pew Research Centre, cerca de 44% de jovens adultos norte-americanos (entre os 18 e os 29 anos) apagaram a aplicação da rede social do seu telemóvel desde Março deste ano. Em Julho, o valor bolsista do Facebook caiu 118 mil milhões de dólares (102 mil milhões de euros) esta quarta-feira (uma queda de quase 20%), depois de Mark Zuckerberg admitir aos investidores que a taxa de crescimento de utilizadores da rede social estava a diminuir e que essa tendência se ia manter até 2019.