Mayra Andrade e Sérgio Godinho recordam Charles Aznavour
Na morte de Charles Aznavour (1924-2018), as recordações de dois cantores, ouvidos pelo PÚBLICO.
O cantor francês Charles Aznavour morreu esta segunda-feira na sua residência no Sul de França. Tinha 94 anos. O PÚBLICO ouviu Mayra Andrade, que gravou um dueto com Aznavour em 2005, e Sérgio Godinho, que, apesar de não o ter entre as suas referências francófonas, o elogia como cantor e actor.
Mayra Andrade: “Merece todas as homenagens”
“Recordo Charles Aznavour com muita ternura. Foi realmente dos primeiros, senão o primeiro, a acreditar em mim. Convidou-me para gravar um dueto em Je danse avec l’amour, em 2005, no ano em que foi lançado o meu primeiro disco, e isso mostra que o que lhe importava era a voz e não a relevância ou a importância da minha carreira. Fui-lhe apresentada pela filha dele, que é uma amiga minha. Como o pai estava a preparar um disco de duetos em homenagem ao pintor Toulouse-Lautrec, ela ligou-me a perguntar se eu estava disponível para ir a estúdio e eu disse que sim, mas pensei que ele precisava de uma vocalista para gravar uma maqueta. Afinal era para gravar um dueto com ele! Era muito elegante, muito cavalheiro. Gravámos à antiga, cara a cara, e essa é uma recordação que vou guardar para sempre em mim. Merece todas as homenagens”
Sérgio Godinho: “Cantava muito bem e era um bom actor”
“As minhas referências francesas passam sobretudo pelo [Jacques] Brel, pelo [Georges] Brassens, de certo modo pelo [Léo] Ferré mas não todo, embora tivesse coisas extraordinárias como Les Chansons d'Aragon. E mais tarde o [Serge] Gainsbourg. O Charles Aznavour não fazia parte desse meu grupo, mas cantava muito bem e ao mesmo tempo tinha um timbre suave, que era único. Também compunha bem, embora tivesse alguns êxitos que não eram dele. E era um performer e um bom actor, um tipo sóbrio e de bons recursos. Fez um filme do [Claude] Chabrol, que se chama Les Fantômes du chapelier, a partir de um romance do [George] Simenon, em que ele é excelente. Mas mesmo não pertencendo ao meu “grupo”, o Aznavour era um tipo que eu estimava e que agarrava as canções de uma maneira muito pessoal. Foi descoberto pela Piaf.”