Triatleta foi morto com um tiro na cabeça e pode ter sido por causa de dinheiro

Homicidas de Luís Grilo tinham móbil financeiro, acredita a PJ. Suspeitos — a mulher e o amante dela — serão interrogados nesta sexta-feira. Se vierem a ser considerados culpados, arriscam 25 anos de cadeia.

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O triatleta Luís Grilo foi afinal morto em casa, numa aldeia do concelho de Alenquer, com um tiro na cabeça, apesar de o seu corpo ter aparecido a 130 quilómetros de distância, no Alentejo. Motivos passionais mas também financeiros estiveram na origem do homicídio, que a Polícia Judiciária diz ter sido premeditado e atribui à sua mulher Rosa e a um funcionário judicial. Manteriam há muito um caso extraconjugal.

Que móbil financeiro era esse, as autoridades não revelam. É possível que Luís Grilo tivesse feito um seguro de vida, como acontece com muitos atletas, admite o seu treinador Nuno Barradas: “É muito frequente entre os atletas que andam na estrada." Proprietário de uma pequena empresa de informática onde a mulher, Rosa Grilo, agora detida juntamente com o seu alegado cúmplice, também trabalhava, não aparentava sinais de riqueza. É certo que custeava do seu bolso as viagens que fazia para participar em competições, uma vez que não tinha patrocínios, mas “tinha cuidado nos gastos”, recorda o treinador.

Nuno Barradas esteve com o triatleta de 50 anos no dia que se sabe agora ter sido a véspera da sua morte, a 14 de Julho passado. Era um sábado, e Luís Grilo estava “num estado de euforia próprio de quem conseguiu ultrapassar as suas expectativas”: numa prova que realizara na Alemanha, dias antes, conseguira o seu melhor tempo de sempre, descreve Nuno Barradas.

Segundo a Polícia Judiciária, o homicídio foi cometido no domingo, com uma arma registada em nome do oficial de justiça. O filho de 12 anos do casal estava fora de casa, com uma familiar.

Rosa Grilo só participou o desaparecimento à GNR na segunda-feira à hora de jantar, alegando que o marido tinha saído poucas horas antes para treinar bicicleta e nunca mais o vira. “Onde estiveres aguenta. Não vamos desistir. Vamos encontrar-te”, diziam os cartazes que espalhou por vários locais com o seu número de telemóvel e a foto da vítima, enquanto incentivava amigos e conhecidos a participar nas buscas. Aos inspectores não passaram, porém, despercebidas algumas contradições nas entrevistas que deu às televisões. E havia outras coisas que também pareciam não bater certo, como aparecer de t-shirt branca no funeral ou ter mantido a empresa informática sempre a funcionar depois do desaparecimento.

Quando o corpo foi encontrado num sítio ermo no concelho de Aviz, nas proximidades de uma localidade onde Rosa tinha familiares, despido e com um saco na cabeça, tinham passado 39 dias desde o seu desaparecimento. Estava em adiantado estado de decomposição por ter ficado tanto tempo ao ar livre, junto a uma estrada de terra batida, o que dificultou a tarefa dos investigadores.

E como tantos outros, também o treinador se começou a interrogar sobre se o engenheiro informático não teria uma vida dupla, com ligações ao mundo do crime. Questionada na altura sobre essa hipótese, a mulher respondeu que nem pensar. Que entre os treinos e a empresa o marido não tinha tempo para mais nada. Admitia que o marido tivesse sido assaltado. “O roubo correu mal por causa da bicicleta, não é a mais valiosa que ele tem, mas valia alguma coisa. Ou, então, atropelaram-no e as coisas depois correram mal.”

Filho à guarda de uma tia

Batia certo com uma entrevista dada três anos antes por Luís Grilo ao jornal regional O Mirante, na qual falava também da relação com a mulher, sete anos mais nova do que ele: “Estamos um com o outro 24 horas por dia porque trabalhamos juntos. E para que as coisas corram bem temos áreas bem definidas nas responsabilidades da empresa. Em casa não luto com ela pelo comando da televisão. Está sempre na Benfica TV."

Nesta quarta-feira a arma do crime foi finalmente encontrada. E tanto Rosa como o oficial de justiça, com 42 anos e a trabalhar no Campus da Justiça, em Lisboa, foram detidos por homicídio qualificado e profanação de cadáver. Comparecerão nesta sexta-feira no Tribunal de Vila Franca de Xira, para serem interrogados. Se vierem a ser condenados, arriscam-se à pena máxima, 25 anos de cadeia. O filho do casal está neste momento à guarda de uma tia.

Nuno Barradas sempre estranhou o engenheiro informático ter pegado na bicicleta naquela segunda-feira: não precisava de treinar porque não se avizinhavam provas desportivas e se o decidisse ter feito o mais certo seria que usasse os equipamentos que tinha em casa, até porque temia ser atropelado na estrada. Quando arriscava saía acompanhado por outros atletas, nunca sozinho. “Isto foi tudo um bocado surreal”, comenta o treinador, ainda mal refeito da surpresa.

Antes de se dedicar à engenharia, Luís Grilo deu serventia a estucadores. Trabalhou na fábrica da Covina e nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico. “Dou muito valor às pessoas de palavra”, disse na entrevista ao Mirante. “Sei que são cada vez menos, mas sou um idealista."

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