Austrália: presidente da televisão pública demite-se após acusações de interferência política

A demissão de Justin Milne surge na sequência de relatos de que teria mandado despedir dois jornalistas por escreverem peças que desagradavam ao anterior primeiro-ministro, Malcolm Turnbull.

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Justin Milne apresenta a sua demissão DAVID CROSLING/EPA

O presidente da cadeia de televisão pública australiana ABC, Justin Milne, demitiu-se nesta quinta-feira na sequência de uma polémica sobre interferência política e independência dos meios de comunicação públicos. Milne terá pedido o despedimento de dois jornalistas porque o seu trabalho desagradava o Governo.

"Há claramente muita pressão sobre a organização e, como sempre, o meu interesse tem sido o de proteger a empresa", afirmou numa entrevista que será transmitida na ABC. 

O Governo negou ter pressionado os trabalhadores e Milne confirmou-o. "Ninguém do Governo alguma vez me ligou ou me disse o que fazer em relação à ABC", disse, na mesma entrevista.

A renúncia de Milne surge quatro dias após ter sido despedida a directora da estação, Michelle Guthrie, vencedora de prémios jornalísticos e frequentemente criticada pela coligação conservadora do Governo que a acusa de não representar os interesses da emissora pública.

Milne viu-se no meio de uma "tempestade", como descreveu na entrevista sobre a sua saída, quando o grupo de media Fairfax revelou emails seus, datados de Maio, onde pedia a Guthrie que demitisse a jornalista Emma Alberici, chefe dos correspondentes da editoria de economia. Isto porque Alberici teriadado uma notícia sonre a redução dos impostos às empresas que não agradou ao então primeiro-ministro Malcolm Turnbull.

"Eles odeiam-na... Livra-te dela. Precisamos de salvar a ABC, não a Emma", terá escrito Milne, citado pela BBC.

Também o editor de política, Andrew Probyn, estaria na mira de Milne, escrevem os jornais da News Corporation, do magnata Rupert Murdoch.

Na madrugada desta quinta-feira, os responsáveis da ABC reuniram-se com Justin Milne para pedir explicações sobre este email. Depois da reunião, o presidente demitiu-se.

Já Malcolm Turnbull, amigo e ex-sócio de Milne, disse que, embora se tenha queixado de imprecisões no artigo de Alberici, "nunca pediu que ninguém fosse demitido."

Essas queixas estão a ser investigadas pelo Ministério das Comunicações australiano.

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, aplaudiu a decisão de Milne nas redes sociais. "A direcção da ABC e o seu presidente fizeram o que é correcto. É hora da ABC retomar a transmissão normal, independente e imparcial. É isso que os contribuintes australianos pagam e merecem".