Uma viagem à mente de Emma Stone e Jonah Hill
A nova série de Cary Fukunaga, que esta quinta-feira foi anunciado como o realizador do próximo Bond, chama-se Maniac e saiu no Netflix.
A revelação, esta quinta-feira, da identidade do realizador do próximo filme da saga James Bond não podia ter vindo em melhor altura. É que, um dia depois, Cary Fukunaga, o escolhido para dirigir Daniel Craig, lançou os dez episódios de Maniac no Netflix, uma série de ficção científica desenvolvida por ele e pelo argumentista Patrick Somervile, que vem dos romances, dos contos e da escrita de séries como The Bridge e The Leftovers.
Fukunaga não é um realizador de televisão normal. Ao contrário do que é comum nas séries, o norte-americano de origem japonesa e sueca tem tendência a realizar temporadas inteiras e não apenas um punhado de episódios. Foi isso que aconteceu na primeira época de True Detective, em que terá tido discussões grandes com o criador, Nic Pizzolatto, que o fizeram não voltar para a leva de episódios seguintes, e é isso que acontece aqui, nesta remessa de episódios que, ao contrário do que também costuma acontecer em projectos desta envergadura, tem o bom senso de não esticar a acção por uma hora, mantendo-se à volta da barreira dos 40 minutos.
A história gira à volta de Annie Landsberg e Owen Milgren, duas almas perdidas, com perturbações mentais e mágoas por resolver, que se encontram num ensaio clínico. Em teste está um conjunto de três comprimidos especiais cujo objectivo é substituir terapia mental normal e resolver os problemas dos pacientes atacando as fontes dos traumas e da dor, revivendo-os. Ele é provavelmente esquizofrénico, filho de uma família rica, mas não quer trabalhar na empresa da família, ao contrário dos irmãos, enquanto ela encontra conforto nas drogas. Apesar de nunca ser dito, tudo se desenrola em Nova Iorque, numa versão alternativa, futurista e distópica dos dias de hoje – em que a "economia de biscates" domina tudo –, segundo o que os criadores têm explicado em entrevistas.
Esses comprimidos levam-nos não só a reviver aquilo que de mau lhes aconteceu, mas também a viverem aventuras nas suas cabeças, algumas delas mais divertidas do que outras para os espectadores, que servem como pretexto para Fukunaga mostrar que sabe trabalhar em vários géneros cinematográficos diferentes.
E há muitas referências a filmes e televisão por aqui, sejam elas explícitas ou implícitas, do 2001: Odisseia no Espaço de Stanley Kubrick a O Despertar da Mente de Michel Gondry, passando por algumas semelhanças com Legion, a série do FX a partir da banda desenhada da Marvel, que também explora muito o que há dentro da cabeça e das fantasias das personagens.
Há muitas caras e elementos que regressam ao longo dos vários episódios, actores que participam nas histórias que os protagonistas vivem enquanto estão sob o efeito, entre outros elementos, como a repetição de Mind playing tricks on me, o clássico de gangsta rap paranóico dos Geto Boys, a seminal banda de Houston, Texas.
Os criadores desta nova série baseada num original norueguês de 2014 passado num hospital psiquiátrico? tiveram o bom senso de passá-la para um laboratório e de se certificarem de que o humor – há uma boa dose de piada por aqui – não era feito à custa das doenças mentais das personagens, o que acontecia antes.
Maniac marca o reencontro de Emma Stone e Jonah Hill, que só tinham trabalhado juntos uma vez, em Superbad, a comédia de Greg Mottola lançada em 2007 – e à qual nos recusamos a chamar Super-Baldas, o abominável nome com que saiu em Portugal. Nos 11 anos que se seguiram, transcenderam ambos os papéis em comédias, tendo ela ganho um Óscar em 2017 com La La Land, dois anos após ter sido nomeada por Birdman, e tendo ele sido nomeado duas vezes, por Moneyball em 2012 e O Lobo de Wall Street em 2014.
Não são os únicos actores reconhecíveis. Além de nomes como Justin Theroux, que trabalhou com Patrick Somervile em The Leftovers, Julia Garner, de The Americans e Ozark, Gabriel Byrne ou a lendária Sally Field, um dos destaques é a britânica Sonoya Mizuno, que apareceu em Ex-Machina e em La La Land, no papel de uma cientista sempre impecável com uma franja e uns óculos grandes que passa a vida a fumar.