A vida de um casal banal vista à lupa em Forever

A nova série da Amazon Prime com Maya Rudolph e Fred Armisen, uma criação de Alan Yang e Matt Hubbard, está disponível desde 14 de Setembro.

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Maya Rudolph e Fred Armisen: um casal normal em Forever DR

Forever tem ideias com piada e absurdas, dois talentosos actores cómicos no centro e dois criadores versados em comédia. Mas está mais preocupada com ideias dramáticas e em explorar o que é realmente um casal que fica junto ao longo do tempo do que em fazer piadas a cada cinco segundos. Sem pressa de chegar a lado nenhum e com espaço para episódios que fogem ligeiramente à narrativa principal, a série tem uma fotografia vários furos acima do que é comum em algumas comédias convencionais e zero medo de montagens puramente visuais, que contam a história de ambos sem diálogos.

Que não se vá ao engano: ainda há muito por onde rir. Afinal, a protagonista Maya Rudolph, filha da lendária cantora soul Minnie Riperton, é daquelas actrizes capaz de sacar gargalhadas do espectador através de subtilezas como uma ligeira expressão facial, um olhar ou uma reacção. E Fred Armisen, que, tal como ela, pertenceu ao elenco de Saturday Night Live, também é dotado nesse sentido.

Oscar e June, o casal Hoffman, são pessoas banais de classe média alta a viver na Califórnia. Ele, um dentista, vive perfeitamente contente com seguir as mesmas rotinas algo aborrecidas dia após dia, mês após mês, ano após ano. Mas ela quer mais e, ao longo do tempo, vai tentando quebrar a normalidade, sugerindo irem de férias para a neve e não para um lago, o que irá mudar para sempre a existência deles.

Esta é, em traços gerais, a premissa da série da Amazon Prime focada nas pequenas coisas da vida e do dia-a-dia, que saiu a 14 de Setembro. Só que não é bem isso. O que realmente se passa aqui é mais complexo do que isso, só que não se percebe até se chegar ao terceiro episódio. Antes de os oito episódios terem sido disponibilizados, os responsáveis não queriam que se soubesse do que a série trata realmente, para os espectadores irem descobrindo, sem pré-concepções, ao longo do visionamento. Por isso, optamos por não descortinar mais sobre a série para cumprir os desejos de Alan Yang, o co-criador de Master of None e ex-argumentista de Parks and Recreation que realizou também o interessantíssimo teledisco de Moonlight, de Jay-Z, que imaginava como Friends seria se tivesse um elenco negro e Matt Hubbard, que trabalhou em 30 Rock e também escreveu para Parks. Yang é um dos três realizadores da série, que incluem também Janicza Bravo e Miguel Arteta, e alguns dos outros argumentistas também trabalham em The Good Place, que tem um tom bem mais abertamente cómico, mas é igualmente profunda.

Além de Rudolph e Armisen, a série inclui também nomes como Catherine Keener, que é sempre uma presença bem-vinda seja em televisão — este ano também pode ser vista em Kidding, a série com Jim Carrey que ainda não tem estreia marcada entre nós — ou cinema. E, no sexto episódio, que é particularmente forte e tocante que foge do casal principal, Jason Mitchell, que foi Eazy-E em Straight Outta Compton, e Hong Chau, que foi nomeada este ano para um Globo de Ouro por Downsizing. Isto para não falar das caras que povoam o mundo refrescantemente diverso, de uma forma muito prática sem chamar a atenção para isso, criado por Yang e Hubbard.

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