O mar está por todo o lado, no corredor que vai da sala do restaurante ao ginásio e à sala de brincar das crianças com polvos que nadam nas paredes; nos números das portas dos apartamentos, pintados como se de mercadoria de um barco se tratasse; nos quadros pendurados nos quartos e nos apontamentos decorativos nas salas; nas toalhas de praia que pousam nas cadeiras ao fundo das camas – “Sea you later alligator”, numa brincadeira entre o verbo “see”, ver, e o nome “sea”, mar; na parede exterior onde Bordalo II construiu um caranguejo com coisas velhas, mas coloridas, e, claro, do lado de fora das janelas, onde o azul do oceano parece não ter fim. No que diz respeito à hotelaria, os apartamentos You and the Sea foram a grande novidade deste Verão na Ericeira.
A vila piscatória, que é também conhecida por ser a única Reserva Mundial de Surf da Europa, começa já a ter muita oferta para dormir, dos hostels procurados pelos mais novos que querem aprender a modalidade, às guests houses e alojamento local mais do agrado das famílias. Ainda existem algumas pensões e residenciais que têm resistido à passagem do tempo e o carismático Hotel Turismo da Ericeira, anunciado como o mais antigo do país, mesmo por cima da Praia do Sul. Portanto, em termos de unidades hoteleiras havia uma falta a colmatar, acredita Margarida Almeida, CEO da Amazing Evolution, que explora o You and the Sea, também por cima da Praia do Sul, mas do lado oposto ao hotel.
Margarida Almeida não olha para a oferta já existente como concorrência – “Se existe, é porque há mercado”, diz –, mas salvaguarda que quem escolhe o You and the Sea é porque “valoriza uma estadia numa unidade como esta”. Tendo aberto as suas portas no início de Julho e com inauguração oficial marcada para 10 de Outubro, “foi com grande entusiasmo que verificámos que está a acontecer o que previmos, que já há hospedes a fazer reservas para 2019”, confessa a administradora. “São, provavelmente, pessoas que já vinham em anos anteriores e que vão continuar a vir, mas para aqui.”
O espaço – que pertence à empresa Villa de Santana, tal como o hotel 1908, em Lisboa, é gerido pela Amazing Evolution – tem 35 apartamentos, nestes há 94 quartos e 174 camas, em várias tipologias, do T0 ao T5, apartamentos grandes e espaçosos, alguns em duplex, e com uma característica comum: todos têm vista para a imensidão do oceano, seja de frente ou de lado, ninguém perderá o pôr-do-sol tão característico da Ericeira.
Apesar de ter aberto há pouco mais de dois meses, já é possível perceber quem é que escolhe esta unidade hoteleira: pessoas que gostam de estar em contacto com a natureza e com o mar. Tal como se vê em tantas janelas e varandas espalhadas pela Ericeira, também ali se observam os fatos de surf pendurados, a secar. São jovens famílias, cujos pais já ensinam aos filhos como equilibrar-se numa prancha, assim como são grupos de amigos, informa Margarida Almeida. Metade são portugueses e a outra metade são estrangeiros, do Norte da Europa e do Brasil, que ficam entre quatro a dez dias. “É o target que definimos”, congratula-se. E a Fugas confirma, à hora do pequeno-almoço, lá está, numa das mesas, a família alemã com crianças de colo e avós ainda jovens; e noutra, embora se pareça em tudo com os nórdicos, o casal louro fala com o seu bebé em português do Brasil.
Uma ementa divertida
O pequeno-almoço é tomado no restaurante A Jangada, que está aberto o dia todo, das 7h30 às 22h30 – o ideal para quem de férias perde a noção do tempo ou tem mesmo de aproveitar aquelas ondas e chega para almoçar às quatro da tarde. A ementa é diversa e está inserida na filosofia do hotel – a preocupação com a sustentabilidade. Procura-se que os produtos usados sejam os da região e da época. “Há um cuidado de aproximação à natureza”, resume Margarida Almeida, referindo que este espaço é o “filho mais novo de O Infame”, o restaurante que ocupa parte do rés-do-chão do 1908, em Lisboa, cujo chefe executivo é Nuno Bandeira de Lima, que estendeu à Ericeira o seu conhecimento, numa colaboração com André Rebelo, o chefe residente.
A ementa é diversa, das saladas aos hambúrgueres, passando pelos pokes, pizzas (o forno a lenha está a crepitar de dia e de noite), massas, e também pela cozinha portuguesa com pratos de peixe e carne, com nomes divertidos e relacionados com o mar – como o Picamarisco (um trio de mariscos do dia, neste caso foi mexilhão, berbigão e ameijoa à Bulhão Pato com pão torrado, 12 euros), Seaviche (um ceviche feito com o peixe do dia, que se vai buscar à lota, 9 euros), a Sand Witch (uma sanduíche de camarão feita em pão de caco, com caril verde, maionese de lima e gengibre, e pickle de funcho, 9,50 euros), o Sea Polpo espetada de polvo, cebola roxa e pimentos padrón com salteado de pancetta, batata, ervilha torta, tomate e funcho, 16 euros), ou o Secrets from the Sea (secretos de porco, arroz negro de berbigão e pipoca de porco, 16 euros).
Os vegetarianos não foram esquecidos e os gulosos também não. Tal como os restantes pratos, também as sobremesas foram baptizadas com nomes originais – o Drop In (brownie de chocolate e amendoim, caramelo e gelado de chocolate, 5 euros) ou o Ice Ice Baby (gelados de chocolate, nata, morango e o sabor do dia, 3 euros, a pensar nos mais pequenos). Também há Pavlova (5 euros), muito, muito fresca e leve com fruta da época, que também entra no Sundae (5 euros).
Com um ambiente descontraído onde dominam as madeiras, lembrando muito a decoração nórdica, A Jangada tem ainda uma lareira com vista, num primeiro plano, para a piscina, e, logo a seguir, para o mar. Com 80 lugares sentados, distribuídos por mesas altas e baixas, os pratos são facilmente partilháveis entre pais e filhos, tios e sobrinhos ou entre amigos. Além do espaço interior, existe ainda um varandim óptimo para aproveitar ao final da tarde, para beber um chá frio ou um cocktail e esperar pelo pôr-do-sol. Às sextas-feiras e aos sábados o restaurante fecha às 23h30 e, como está aberto ao público, já há “gente da região que é cliente regular”, congratula-se a responsável.
Sustentabilidade na ordem do dia
A preocupação com o ambiente é evidente não só em questões óbvias como a mudança das toalhas ser só quando estas são deixadas no chão, nas palhinhas das bebidas e nas canetas de cartão, ou na separação dos lixos – nas cozinhas dos apartamentos há sacos de diferentes cores para a reciclagem; mas também na decoração, na qual foram usados muitos materiais recuperados das obras, como madeiras e ferros, que se transformaram em cabeceiras das camas ou em quadros, por exemplo. Existem outras pequenas peças de arte e o caranguejo de Bordallo II, que também colaborou no 1908, feito apenas com lixo que veio dar à costa. “Queremos fazer parte da onda mundial da sustentabilidade e do cuidado com a natureza”, justifica a administradora da Amazing Evolution.
“Este é um projecto ligado à natureza e à imensidão de espaço azul que é o oceano e é isso que queremos trazer de fora para dentro”, continua Margarida Almeida, dando o exemplo dos apontamentos decorativos, mas também das actividades propostas aos clientes. Além de um spa (aberto das 9h às 19h) para o qual foram escolhidos os produtos Voya, conhecidos por serem orgânicos, existe ainda banho turco e sauna, um ginásio (disponível das 6h às 22h) e um espaço para as crianças com brinquedos, televisão e playstation (das 9h às 22h). Quem não estiver hospedado, pode usar a piscina, o spa e o ginásio por 25 euros diários.
Centrado no bem-estar dos hóspedes há pequenos mimos que fazem a diferença como uma cesta que pode levar para a praia (e comprar, caso queira uma recordação das férias), toalhas para usar na piscina ou na praia – além da “Sea you later alligator”, pode escolher a que diz “I can sea clearly now”, mais uma vez uma referência ao oceano – e a oportunidade de usar um toldo na Praia do Sul, que o hotel alugou a um dos concessionários, durante a época balnear. Existe a possibilidade de fazer aulas de surf e de ioga ou de alugar uma bicicleta (10 euros/dia) e há ainda outras actividades como saídas ao mar para pescar, que “aproximam o hóspede da vila”, avalia Margarida Almeida, acrescentando que há outros programas mais culturais como a visita ao Palácio e Convento de Mafra, à Tapada ou a olarias da região.
Com o final do Verão, o You and the Sea está já a pensar em programas de dois a três dias que incluam spa ou aulas de ioga, por exemplo. “As perspectivas são boas”, sorri a CEO, lembrando que a Ericeira também é conhecida pela passagem do ano. Mas, antes disso, a vila vai receber, de 24 a 30 de Setembro, uma etapa do circuito de qualificação do World Surf League e o hotel é parceiro, pelo que irá receber alguns dos nomes mais fortes da modalidade.
“Quisemos criar um ambiente em que as pessoas se sentissem bem acolhidas e trabalhamos para cimentar essa cultura”, conclui Margarida Almeida.
O Fugas dormiu no You and the Sea e jantou n’A Jangada a convite do hotel