Estádio do Tottenham a caminho de se tornar o mais caro da Europa
O projecto foi lançado em 2007 e a inauguração estava marcada para este mês. Mas não foi apenas o prazo de execução que derrapou — estima-se que o custo final da obra ascenda a 1,34 mil milhões de euros.
A ideia inicial era abrir as portas aos adeptos na recepção ao Liverpool, na 5.ª jornada da Premier League, mas o dia 15 de Setembro já lá vai. Na base do adiamento estão razões de segurança e um percalço na instalação do sistema eléctrico. Por tudo isto, e porque os projectos de grande magnitude encerram sempre problemas inesperados, o novo Estádio do Tottenham Hotspur não tem agora previsão exacta para o corte de fita. A única garantia que existe é a de uma derrapagem num orçamento já de si milionário, que deverá transformar o recinto no mais caro de toda a Europa.
As projecções iniciais apontavam para um investimento a rondar os 890 milhões de euros. Um valor elevado, assumido com recurso a meios próprios e a financiamento bancário, mas justificado com o carácter inovador do projecto. À imagem de muitas das mega-estruturas desportivas lançadas nos últimos anos, os promotores enfatizam a ideia de se tratar de muito mais que um estádio. E é verdade: há uma zona comercial alargada na bancada sul (um mercado que vai alojar perto de 60 restaurantes), um museu, uma loja oficial com um auditório de 100 lugares e até uma pequena cervejaria no interior do recinto.
Para além deste rol de ofertas, há um outro “pormenor” que transformará o Estádio do Tottenham (o clube deixou cair a antiga designação de White Hart Lane na esperança de vender o naming do recinto em breve) num espaço multifacetado — o piso. Graças a uma tecnologia recente, é possível dividir o relvado em três segmentos que podem ser removidos. Qual é a vantagem? Trocar, em apenas 25 minutos, a relva natural, usada num jogo de futebol, por um tapete sintético talhado para encontros da NFL (Liga de Futebol Americano), com a qual já estão acordados dois eventos. Ou usar o mesmo expediente para outros espectáculos de massas, como concertos e festivais.
Este é o enquadramento do investimento. O resultado até à data é promissor, mas os ajustes orçamentais preocupam os responsáveis do emblema londrino, que ainda acreditam que vão conseguir completar o projecto abaixo da fasquia de um milhão de libras (1,1 mil milhões de euros). Uma previsão contrariada por alguns elementos da indústria da construção, que, na imprensa inglesa, estimam que os custos ascendam a 1,34 mil milhões de euros.
É verdade que há factores exógenos a contribuírem para esta revisão, desde o Brexit à subida do custo da matéria-prima, mas a decisão do presidente do Tottenham, Daniel Levy, de rejeitar um acordo de preço-fixo com a construtora Mace é também apontada como um erro. Até porque há um exemplo recente de uma empresa, a Multiplex, que acabou por ter de arcar com os custos acrescidos da construção do Estádio de Wembley depois de assinar um contrato de 363 milhões de euros.
Enquanto a direcção dos “spurs” tenta apressar a empreitada ao mesmo tempo que se esforça por reduzir custos, a construtora Mace — que veio ontem a público negar peremptoriamente acusações de consumo de álcool e drogas entre trabalhadores envolvidos na construção — lembra o que está em causa. “O novo estádio do Tottenham é um dos projectos mais complexos e inovadores do Reino Unido. O clube e a equipa de construção estão a trabalhar de forma diligente para completar a obra tão cedo quanto possível”, vinca, em comunicado.
Certo é que, a confirmar-se a derrapagem substancial dos custos, a nova casa do emblema londrino vai tornar-se na mais dispendiosa da Europa, ultrapassando não só os estádios que são propriedade de outros clubes — o Emirates (Arsenal) custou 689 milhões de euros e o Etihad (Manchester City) 567 —, mas também os mais onerosos Estádios Olímpicos, o de Londres (780 milhões) e o de Sochi (663).
Para já, a direcção do Tottenham não arrisca uma nova previsão de abertura, ainda que se seja pouco provável que aconteça antes do final do ano. E as perspectivas menos optimistas sugerem mesmo o fim da época desportiva. Até lá, o plantel, equipa técnica e adeptos continuarão a dividir-se entre as bancadas de Wembley, nos jogos da Premier League e da Champions, e do bem mais modesto Estádio MK, em Milton Keynes, na Taça da Liga.