May agarra-se ao “plano Chequers” com todas as forças e desafia Bruxelas a apresentar alternativas

Primeira-ministra britânica contesta rejeição da sua proposta para o “Brexit”, com discurso duro contra os líderes europeus. Tusk diz que May já conhecia posição da UE “há varias semanas”. Saída sem acordo continua em cima da mesa.

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Theresa May, primeira-ministra do Reino Unido Peter Nicholls/Reuters

“Que a União Europeia tenha bem claro: não vou reverter o resultado do referendo, nem vou desmembrar o meu país”. Deixada praticamente para o fim de uma intervenção firme a partir em Downing Street, a frase de Theresa May sintetiza a posição irredutível do Governo britânico, na ressaca do chumbo dos líderes europeus à sua proposta para a saída do Reino Unido da União Europeia.

A primeira-ministra reagiu esta sexta-feira à chuva interna de críticas pela “humilhação” sofrida em Salzburgo responsabilizando Bruxelas pelo impasse das negociações e desafiando a UE a avançar com alternativas ao “plano Chequers”.

Em mais uma demonstração de resiliência, face à oposição que existe dentro e fora do Partido Conservador, e em Bruxelas, em relação aos seus planos para o “Brexit”, May “exigiu respeito” à UE, fazendo depender dessa postura o “bom relacionamento” entre as partes “no final do processo”. E com os líderes europeus a assumirem que o mês de Outubro é o “momento da verdade” para a obtenção de um acordo, a primeira-ministra reafirma que “vai continuar a trabalhar” para preparar os britânicos para um cenário de “no deal”.

“Não é aceitável que simplesmente se rejeitem as propostas de uma das partes sem haver uma explicação detalhada ou qualquer contraproposta. Por isso, agora precisamos de ouvir da parte da UE quais são os verdadeiros problemas, quais são as suas alternativas e como podemos discuti-las”, defendeu a líder do Governo conservador. “Sem isso não podemos progredir nas negociações”, resumiu.

Os líderes europeus reunidos nos últimos dois dias na Áustria rejeitaram o chamado “plano Chequers”, por entenderem que a sua proposta para a relação futura entre o Reino Unido e o bloco comunitário pode “pôr em risco” a solidez do mercado único – Londres pretende um acordo de livre comércio de bens agrícolas e industriais. O Presidente francês Emmanuel Macron disse que o plano era “inaceitável” e o presidente do Conselho Europeu Donald Tusk assegurou que “não funciona”.

Os 27 exigem à primeira-ministra uma mudança de planos em matéria de comércio e no que toca à fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda. Mas esta sexta-feira May voltou a rejeitar a hipótese de manutenção da Irlanda do Norte no mercado único e na união aduaneira depois do “Brexit”, em nome da integridade territorial do Reino Unido.

A estratégia de May para desviar o foco de Londres e incidi-lo sobre Bruxelas, incluiu ainda palavras de esperança para os mais de três milhões de cidadãos europeus residente no Reino Unido. “Somos vossos amigos, vizinhos e colegas e vamos proteger os vossos direitos”.

Em resposta à intervenção de May, Tusk emitiu um comunicado esta sexta-feira, no qual garante que o “plano Chequers” foi “estudado de forma séria” e que os resultados da avaliação que os Estados-membros fizeram das suas propostas “já eram conhecidos em detalhe no lado britânico há várias semanas”. O polaco assegurou ainda estar convencido de que “é possível” encontrar um “compromisso bom para todos”. “Digo estas palavras como amigo próximo do Reino Unido e verdadeiro admirador da primeira-ministra May”, afirmou.

Corybn: “Não-acordo não é opção”

Os opositores do Governo não pouparam críticas ao discurso da chefe do executivo, uma vez que, denunciam, deixa a porta escancarada para uma saída sem acordo. Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia disse que a intervenção de May foi “pavorosa”, já que procura “culpar a UE” por um potencial cenário de não-acordo. “May vai provocar danos enormes a todos aqueles que deveria estar a servir”, lamentou a líder do Partido Nacional Escocês, citada pela Reuters.

Já o líder do Partido Trabalhista voltou a questionar a capacidade da Conservadora Theresa May para liderar o processo de saída. “Desde o primeiro dia que a primeira-ministra se mostrou incapaz para conseguir um bom ‘Brexit’ para o Reino Unido. A sua estratégia negocial tem sido desastrosa”, acusou Jeremy Corbyn, exigindo o fim dos “jogos políticos” entre a UE e o Governo. “Um não-acordo não é opção”, rematou.

A ala eurocéptica do Partido Conservador encarou os últimos episódios da saga “Brexit” com sentimentos contraditórios. Se a rejeição europeia do “plano Chequers” reforçou a necessidade de mudar de estratégia e apostar num "hard-Brexit” (sem acordo), o pano de fundo da intervenção de May foi recebido com algum agrado, mesmo que moderado.

Jacob Rees-Mogg, líder da facção brexiteer do Partido Conservador, elogiou a “determinação férrea” da primeira-ministra ao “fazer frente aos bullies  da UE”. Uma declaração que oferece algum oxigénio a May, quando falta uma semana para o congresso anual do partido – o teste decisivo à sua liderança.

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