Cimeira de Salzburgo: plano de May não funciona e "Brexit" entra no "momento da verdade"

Ao contrário do que sugeriam as palavras de circunstância de Donald Tusk e da primeira-ministra britânica, não há muitos motivos para manter o optimismo.

Foto
Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu EPA/ANDREAS SCHAAD

Em Londres e em Bruxelas todos sabem que já se entrou na “fase crítica” e que chegou “o momento da verdade”. Mas quem ouvisse Donald Tusk e Theresa May no fim do encontro informal de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, esta quinta-feira em Salzburgo (Áustria), poderia não perceber o nível de dramatismo e o sentido de urgência que tomou conta das negociações do “Brexit”.

“Tivemos uma boa discussão, estou mais convencido que será possível chegar a acordo”, disse Tusk, o presidente do Conselho Europeu, que até já marcou no calendário a data de uma cimeira extraordinária para assinar o documento: 17 e 18 de Novembro. “Ainda há muito trabalho a fazer, mas com vontade política estou confiante que seremos capazes de encontrar uma fórmula que respeite a decisão dos britânicos no referendo”, concordou Theresa May.

Mas ao contrário do que sugeriam as palavras de circunstância dos dois líderes, não há muitos motivos para manter o optimismo. A seis meses do abandono do Reino Unido da União Europeia, as dúvidas e (sobretudo) as diferenças nas posições de ambas as partes para fechar um acordo de saída e definir os termos da sua relação futura persistem. E a possibilidade de que o “Brexit” venha a consumar-se sem acordo não está descartada.

“Tenho dito desde o princípio que também estamos preparados para um cenário de no deal”, sublinhou Theresa May, que voltou para Londres com poucos argumentos para suster os ataques da sua oposição interna — as facas já estão a afiar-se para a conferência do Partido Conservador que começa no dia 30 em Birmingham.

Como se esperava, a União Europeia não modificou a sua apreciação da proposta do Reino Unido para um acordo de livre comércio de bens agrícolas e industriais após o “Brexit”, o chamado “plano de Chequers” que Donald Tusk anda a dizer desde Julho que “não funciona”. Repetiu-o esta quinta-feira: “Embora haja elementos positivos na proposta de Chequers, o quadro previsto para a futura parceria economia não funciona, porque põe em causa o mercado único”, explicou. 

E como era previsível, a primeira-ministra britânica também não mudou de opinião sobre a solução dos europeus para evitar a reposição das fronteiras na ilha da Irlanda. “É inaceitável”, insistiu Theresa May, que se comprometeu a apresentar “dentro dos próximos dias” o seu próprio plano para assegurar que a integridade territorial e constitucional do Reino Unido não são comprometidas com a eventual manutenção da Irlanda do Norte no mercado único e união aduaneira depois do “Brexit”.

Essa é a solução de último recurso — o chamado “acordo-tampão” ou backstop — de que a UE não prescinde no articulado do acordo de saída a assinar pelo Reino Unido. A não ser que Londres encontre outra solução criativa que garanta o respeito pelo Acordo de Sexta-Feira Santa (que pôs fim às décadas de violência sectária na ilha da Irlanda), um compromisso político assumido por ambas as partes no início das negociações. “A proposta vertida no nosso livro branco continua a ser a única maneira séria e credível de cumprir esse objectivo”, notou May.

Mas na intervenção que fez durante a sobremesa do jantar de líderes (e que podia ser lida como um apelo à ajuda dos seus parceiros europeus) a primeira-ministra britânica não logrou abrir brechas na unidade dos 27. No final da reunião, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o Presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro, António Costa, alinhavam todos pelo mesmo diapasão: houve progressos, e há margem para compromissos. Mas uma coisa ficou clara. “A decisão sobre o acordo final tem de ser tomada em Outubro, sem prejuízo de depois haver acertos na redacção final ou uma cerimónia que simbolize a conclusão em Novembro ”, disse Costa.

Sugerir correcção
Ler 18 comentários