Cientistas descobrem causa da morte de Caravaggio 400 anos depois

Segundo um novo estudo, não foi a sífilis que matou o pintor italiano: a culpada foi, afinal, outra infecção bacteriana.

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Caravaggio morreu, afinal, vítima de uma infecção bacteriana, contraída após um duelo Reuters/ALESSANDRO GAROFALO

Um novo estudo realizado pelo Hospital Universitário Mediterrâneo de Marselha (IHU), em França, determinou que a causa da morte do pintor do período barroco Caravaggio foi, afinal, uma outra infecção bacteriana que lhe provocou uma sépsis. Há quatro séculos que se pensava que tinha morrido de sífilis, em 1610.

O estudo, levado a cabo por sete cientistas franceses e italianos, e publicado na segunda-feira na revista Lancet Infectious Diseases, indica que Michelangelo Merisi da Caravaggio (1571-1610) morreu às mãos da bactéria Staphylococcus aureus, que contraiu após um duelo travado “alguns dias” antes da sua morte.

De acordo com o comunicado emitido pela IHU, os investigadores analisaram a polpa dentária das ossadas atribuídas ao pintor através de dois métodos de detecção de ADN e de um método de análise de amostras de proteína, que determinaram a presença da bactéria no seu sangue. A amostra foi também testada para a presença de malária, sífilis e brucelose, algumas das causas anteriormente atribuídas à morte do pintor, mas “todos os exames foram negativos”. Como a polpa dentária é rica em vasos sanguíneos, é possível verificar a presença de bactérias ou de doenças infecciosas no sangue do defunto, caso este tenha sido infectado em vida.

Os restos mortais de Caravaggio foram localizados em 2010, depois de terem sido transferidos para um ossário, em 1956. Este foi, à data da sua morte, enterrado numa vala comum na aldeia toscana de Porto Ercole, pelo que as suas ossadas estavam misturadas com mais de duas centenas de outros indivíduos. Através de análises com carbono-14, determinou-se que dos nove esqueletos correspondentes à sua descrição física (1,65cm e mortos entre os 35 e os 40 anos), apenas um datava do século XVII.

Foi a partir do estudo do ADN desses ossos que se determinou com “85% de certeza” tratar-se de Caravaggio, já que as ossadas apresentavam altos níveis de chumbo, e o pintor era conhecido "por ser descuidado” -diz o estudo - no que dizia respeito aos pigmentos que utilizava.

“O envenenamento por chumbo não mata por si só – acreditamos que Caravaggio tinha feridas infectadas e sofria de insolação, devido ao Verão extremamente quente da época, – mas foi uma das causas”, declarou Silvano Vinceti, impulsionador do projecto de 2010, noutro estudo publicado na altura.

Os historiadores de arte suspeitam ainda que os pintores Francisco Goya (1746-1828) e Vincent Van Gogh (1853-1890) tenham também sofrido os efeitos do chumbo nos pigmentos das tintas, que pode causar depressão, dores e mudanças de personalidade.

Por fim, foram comparados perfis de ADN dos habitantes da povoação de Caravaggio, em Itália, com os apelidos Merisi e Merisio, determinando-se haver grau de parentesco com os ossos do pintor. “Apenas um dos conjuntos de ossos possuía todos os elementos para ser de Caravaggio”, disse Giorgio Gruppioni, antropólogo da Universidade de Bolonha e elemento da equipa, em 2010.

O especialista em pintura italiana do século XVII e conservador do Museu Jacquemart-André de Paris, Pierre Curie, afirmou que a nova hipótese quanto à morte de Caravaggio “não acrescenta muito nem à glória do artista, nem à história da arte”, tratando-se de “um fetiche”, possivelmente pela falta de informação quanto à vida do pintor italiano. “Caravaggio é uma personagem que nos escapa. E talvez seja melhor assim, porque permite-nos retirar o que quisermos da sua obra”, disse, citado pelo jornal espanhol El País.

Ainda assim, Caravaggio é conhecido pela sua vida turbulenta, estando "constantemente envolvido em lutas e batalhas". Passou os seus últimos anos de vida entre Nápoles, Malta e Sicília, numa tentativa de escapar à prisão, após o duelo e consequente assassínio do procurador e mercenário Ranuccio Tomassoni. O conflito levaria à sua morte, cuja causa foi agora desvendada, 400 anos depois.

O pintor italiano, autor de obras como O Êxtase de São Francisco (1595), Invocação de São Mateus (1599-1600) e Morte da Virgem (1604-1606) influenciou muitos artistas com as suas técnicas e ideias vanguardistas, tanto em vida, como na morte. O “mestre do barroco” revolucionou a pintura europeia com o contraste entre luz e sombra, numa técnica denominada chiaroescuro.

Texto editado por Ana Gomes Ferreira

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