Pregar aos convertidos

A história que Rob Reiner conta podia ter dado um bom thriller político à antiga. Em vez disso, é um telefilme comatoso, chato até à quinta casa.

Operação Shock and Awe: há actores e política, não há cinema
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Houve uma altura em que Rob Reiner — que os mais velhos recordarão como actor, como o genro “moderno” de Archie Bunker na velha Família às Direitas — foi um cineasta com graça, com jeito, com alguma inteligência classicista: Spinal Tap, Conta Comigo, O Capítulo Final, Uma Noite com o Presidente e sobretudo Uma Questão de Honra e Um Amor Inevitável. Mas a sua nova vida como cineasta político, guardião do “filme liberal” em plena era conservadora de Trump, parece negar tudo o que ele fez de bom enquanto cineasta. Depois do desastre de LBJ, Operação Shock and Awe — a história verídica dos jornalistas da agência Knight Ridder que desde o início receberam com dúvidas a “versão oficial” da administração Bush — é outra desgraça, um telefilme comatoso com ambições a aula de história política moderna sobre o “quinto poder”.

É como um Caso Spotlight que não surgisse organicamente da história que se conta mas antes inventasse uma narrativa para fazer passar a sua mensagem — isso fica explícito na história do jovem soldado patriota que se alistou e que serve de “contraponto” aos jogos de bastidores de Washington (numa estrutura que nos faz lembrar os Peões em Jogo de um outro veterano liberal, Robert Redford, e que era infinitamente melhor filme para lá de ter sido feito mais atempadamente). Há actores de sobra — Woody Harrelson, Tommy Lee Jones, James Marsden, Jessica Biel, Richard Schiff, o próprio Reiner — e uma inegável consciência política e moral. O problema é que não há cinema, apenas um didactismo puramente utilitário de campos, contra-campos, marcações e actores sem espaço para criar personagens que se contenta em pregar aos convertidos.

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