Lisboa Soa: quatro dias para ouvir a cidade aquática
A terceira edição do festival de “arte sonora ambiental” leva concertos, instalações, workshops, uma masterclass e um passeio sonoro aos reservatórios de água de Lisboa.
Pela terceira vez, o Lisboa Soa vai pôr os visitantes a pensarem sobre o som da cidade. Desta quinta-feira até domingo, o festival, que se define como de “arte sonora ambiental”, propõe sete concertos, cinco instalações e ainda workshops, uma masterclass e um passeio sonoro.
Depois de ter passado pelo Jardim da Tapada das Necessidades em 2016 e pela Estufa Fria em 2017, o festival de entrada livre, que está inserido na programação do Lisboa na Rua, ruma agora ao Reservatório da Mãe d'Água das Amoreiras e ao Reservatório da Patriarcal, com a Galeria do Loreto pelo meio. Raquel Castro, a directora artística e programadora, conta ao PÚBLICO que o programa deste ano gira em torno da água. “O festival tem tido sempre um programa relacionado com o ambiente e o urbanismo e pretende fazer essa reflexão e ligação através do som. É uma experiência sonora entre os lugares que nós habitamos e os espaços públicos. As propostas que temos são todas pensadas para o lugar em que estão”.
Do programa deste ano, a responsável prefere não destacar nada. “Isto é pensado como uma experiência total, não nas diferentes propostas que acontecem aqui e ali”.
Mesmo assim, há muitas pessoas que só vão aos concertos, admite Raquel Castro. Só que só quem se fica por aí “perde essa experiência” total: “Uma instalação é diferente de um concerto, de certeza que não será a mesma experiência. O som precisa de espaço e de tempo.” Conclui, argumentando que o festival é “bastante diurno” e “é bom que as pessoas percebam que podem vir, visitar as instalações e passar tempo com elas e, ao fim do dia, ouvir concertos que têm em conta o tema, as preocupações e a arquitectura”.
Esses concertos arrancam neste primeiro dia com Sirius, o duo do trompetista natural da Suazilândia mas há muito residente em Portugal Yaw Tembe e do percussionista Monsieur Trinité (ou Francisco Trindade) e, logo a seguir, a japonesa Tomoko Sauvage, improvisadora e inventora de instrumentos aquáticos cuja música aproveita sempre o espaço físico em que é tocada. Na sexta-feira há Banha da Cobra, o duo de exploração de “ruínas sonoras” de Mestre André e Carlos Godinho, e Luís Bittencourt, o percussionista brasileiro radicado no Porto. Sábado é dia do violoncelista Ricardo Jacinto e da compositora norueguesa Jana Winderen. No domingo há o único concerto que, ao contrário dos outros, é na Patriarcal e não na Mãe d'Água: o espectáculo de encerramento, a cargo do duo de Henrique Fernandes – que também vai dar um workshop de instrumentos – e Jorge Quintela, e parte da instalação que ambos fizeram para o festival, Sublumia.
No campo das instalações, que podem ser vistas todos os dias do festival, das dez da manhã às oito da noite, há, no Terraço da Mãe d'Água, Chinampa (Let the Water Lose its Still Form), de Diana Policarpo, que aproveita a água, enquanto Listening Station, no jardim, é uma escultura sonora do alemão Lukas Kuhne – que também orienta o passeio sonoro do festival –, para elucidar sobre a relação entre o som e o espaço. Na Casa do Registo da Galeria do Loreto, pode ver-se Sínia / Noria / Azenha, do espanhol Edu Comelles – que dará uma masterclass e um workshop –, peça que parte de uma máquina que tem como fim tirar água de poços. Por fim, o Reservatório da Patriarcal tem duas instalações: MyConnect, uma cápsula que gera som através do batimento cardíaco de quem lá dentro, executada pelo trio esloveno composto pela artista Saša Spacal, o cientista Mirjan Švagelj e Anil Podgornik, especialista em construção e a já mencionada Sublumia, de Henrique Fernandes e Jorge Quintela, que envolve um conjunto de objectos espalhados pelo recinto.