Facebook acusado de ajudar anúncios de emprego a discriminar com base no género
De acordo com uma queixa nos EUA, vários recrutadores estão a utilizar a rede social para mostrar vagas só a homens.
Nos EUA, o Facebook está a ser acusado de ajudar os empregadores a discriminar os candidatos que querem com base no seu género.
De acordo com uma queixa apresentada esta terça-feira à agência federal norte-americana responsável pela discriminação no local de trabalho, vários recrutadores estão a utilizar o serviço de anúncios de emprego da rede social para criar propostas que se destinam exclusivamente a utilizadores do sexo masculino, excluindo assim mulheres ou utilizadores que se identifiquem com outro género, o que é ilegal. Nove dos dez empregadores incluídos na queixa também dão preferência a trabalhadores mais jovens.
“Não devia ser afastada da oportunidade de descobrir uma oportunidade de trabalho só porque sou uma mulher”, escreveu Bobbi Spees, uma norte-americana com 35 anos, que denunciou o processo.
De acordo com o sindicato de trabalhadores dos EUA na área da Comunicação e a União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU, na sigla americana), a tecnologia da rede social permitiu a nove empregadores listados na queixa criar anúncios destinados a grupos de pessoas com idades e géneros específicos.
Num comunicado do Facebook citado na imprensa, a rede social diz que “não há lugar para discriminação no Facebook” e que vai “rever atentamente a queixa.” O PÚBLICO contactou o Facebook para esclarecimentos adicionais, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo.
Os advogados responsáveis pelo caso dizem que descobriram o problema ao supervisionar um grupo encarregue de procurar empregos no Facebook entre Outubro de 2017 e Agosto de 2018. Para cada posto de trabalho em que carregavam, a rede social apresentava uma explicação sobre o motivo de alguém o receber o anúncio, o que incluía o facto de terem um determinado género, idade e viverem numa dada região – elementos que também podem ser usados pelos anunciantes noutro tipo de publicidade.
Embora as plataformas online não sejam neste caso directamente responsáveis pelo conteúdo que as pessoas publicam, os queixosos querem ver o Facebook a ser legalmente responsabilizado por criar um sistema que motiva os empregadores a seleccionar o género e a idade das pessoas que recebem os seus anúncios. Publicar anúncios de emprego direccionados a um determinado género nos EUA é ilegal segundo leis estatais e locais desde 1964.
“Não podemos deixar que a discriminação com base no género das pessoas ganhe novo fôlego online”, reforçou, em comunicado, Galen Sherwin, a advogada responsável pelo projecto de Direitos da Mulher da ACLU. “A segregação de postos de trabalho com base no género tem sido usada ao longo dos tempos para impedir mulheres de chegar a trabalhos bem pagos e a boas oportunidades económicas.”
De acordo com a política de utilização de anúncios de emprego da rede social, frases como “só procuramos pessoas do sexo feminino” são filtradas pela rede social que escreve que as “publicações de emprego não podem discriminar ilegalmente os candidatos com base em características protegidas”. Isto inclui a raça, etnia, nacionalidade, religião, idade, sexo, e a orientação sexual.
Esta não é a primeira vez que a rede social é acusada de discriminação no que toca aos anúncios que permite criar. Em 2016, a ProPublica, uma organização norte-americana de jornalismo de investigação, mostrou que os anunciantes podiam excluir utilizadores com uma determinada etnia de ver alguns anúncios. Em 2017, a rede social foi novamente alvo de controvérsia por utilizar o seu sistema para criar anúncios para pessoas que se diziam interessadas em temas como “ódio a judeus” ou “como queimar judeus”.