“Onde vou ter uma palavra final a dizer e o que precisará de aprovação por parte de um superior?” Quem disse isto, acredita que esta deve ser uma das perguntas a fazer numa entrevista. E, note-se, a pergunta não vem de quem está a recrutar, mas sim do candidato à vaga. Radical? Talvez um pouco. Demasiado directo? Não creio, até porque mais vale prevenir do que remediar. Pouco adianta estar caladinho a ouvir tudo aquilo que a empresa tem para dizer se, no final de uma experiência de poucas semanas, acabarmos por descobrir da pior maneira que afinal era muita parra e pouca uva. Pior, perceber que o grande problema foi nosso, que não questionámos antes de aceitar.
Sempre se deu imensa importância às perguntas que nos são feitas nas entrevistas de emprego. Das típicas (onde te vês daqui a cinco anos? quais as tuas maiores qualidades? porque é que queres trabalhar nesta empresa?), às menos comuns (o que fazes nos tempos livres? quais as tuas grandes paixões? porque é que decidiste assentar se até agora sempre te fascinou viajar por aí?). Entramos sempre preparados para tudo, quase como se de um exame se tratasse em que não há hipótese de copiar e onde, se errarmos, deitamos imediatamente tudo a perder.
Ora eu prefiro olhar para este momento como uma boa oportunidade para inverter os papéis. Afinal de contas, há que perceber se realmente queremos trabalhar ali. Está nas nossas mãos a tentativa de descortinar como é que as coisas funcionam por lá, quanta liberdade teremos se formos aceites (e aceitarmos) e se aquele sítio nos vai dar aquilo que procuramos. E uma das perguntas que me parece mais pertinente fazer é aquela que deu origem a este artigo: onde terei uma palavra final a dizer e o que é que terá necessidade de aprovação por parte de um superior? É que, se pensarmos bem, isto é extremamente importante.
A não ser que aquilo que procuramos seja uma experiência em que vigore o “eu mando tu executas” é, de facto, importante perceber como funciona a liderança dentro da empresa a que nos candidatamos. Questionar, observar e assimilar tudo o que nos for possível quando somos chamados a uma entrevista de emprego. Os tempos mudaram: continuamos a ser avaliados durante a entrevista, mas chega a uma certa altura em que se torna imprescindível que essa avaliação seja mútua. Também nós temos que analisar o local onde vamos passar grande parte dos nossos dias. Porque a realidade é essa: nós vamos passar ali muito tempo. É ali que vamos mostrar o que sabemos ou não fazer, é ali que vamos ter que aprender a lidar com pessoas de todas as formas e feitios, e é ali que nos vamos sentir bem e realizados ou extremamente frustrados. Defeitos existem em todo o lado, mas, diga-se de passagem, há sítios onde eles são bem mais alarmantes do que noutros.
À luz de uma reportagem que deu há tempos na televisão, é agora muito claro que o mercado de trabalho está a sofrer mudanças drásticas. A nova geração já não quer entrar às nove para sair às seis. Faz-lhes uma enorme confusão estar preso dentro de quatro paredes durante oito horas todos os dias. Já não faz sentido para eles (e para alguns de nós) executar sem pensar, cumprindo um horário pré-estabelecido e anuindo às ordens que vão surgindo.
Por estas e outras razões é que agora olho para as entrevistas de uma forma completamente diferente da que em tempos olhei. Questiono e avalio o local que me chamou. O pior que pode acontecer é não passar à próxima fase. Mas, se for esse o caso, está tudo bem. A resposta fica dada.