Um bar que é, acima de tudo, um espaço de artes
As bebidas e os petiscos também constam do cardápio mas o espaço que faz parte da história da cidade de Aveiro quer “servir”, essencialmente, cultura
O interior engana. A decoração e o mobiliário moderno podem levá-lo a pensar que tudo ali é novo, acabado de construir. Mas a verdade é que aquelas paredes escondem várias décadas de história, alguns momentos áureos, outros nem por isso (o espaço esteve vários anos esquecido). O Avenida Café-Concerto veio dar uma nova vida ao Edifício Avenida, outrora importante sala de espectáculos de Aveiro, e, mais do que um simples bar, quer ser um local que vive de e para as artes. “Sejam elas quais forem: música, pintura, fotografia, dança...”, realça Hugo Pereira, um dos responsáveis pelo café-concerto.
Na sala que se estende ao longo de 160 metros quadrados, com mesas e cadeiras para 120 pessoas, foi reservado espaço para um pequeno palco, por onde já passaram vários artistas e performances. Nas paredes brancas também já mora uma exposição de pintura – coube à Academia de Belas Artes de Ílhavo protagonizar, através dos seus alunos, a primeira mostra do espaço – e outras mais se seguirão.
A cereja no topo do bolo, especialmente para quem conhece a história do antigo Cine-teatro Avenida, está prometida para breve. O espaço irá passar a contar com um auditório com capacidade para 400 espectadores e um palco pronto para receber inúmeros espectáculos e concertos. É o que resta de uma sala de espectáculos que chegou a ter plateia e dois balcões, num total de 1300 lugares, e que ficou na memória de tantos aveirenses e não só - foi precisamente ali que aconteceu o III Congresso da Oposição Democrática, realizado em 1973.
O próprio espaço da sala café-concerto já aberta ao público corresponde ao local onde outrora funcionou o bar do segundo balcão da sala de espectáculos original, o que ajuda a explicar a forte procura que o espaço tem registado. Abriu portas no final de Agosto e os únicos dias em que não recebeu clientes foram os de fecho para descanso de pessoal (fecha à terça-feira). De resto, sejam “famílias, grupos de jovens ou menos jovens”, não tem faltado gente a procurar o novo espaço da cidade “para beber um chá, ou petiscar e beber um gin ao final da tarde, ou vir beber um copo durante a noite”, destaca Patrícia Surrador, outra das responsáveis pelo espaço, juntamente com António Silva.
Sushi, cerveja artesanal e outras coisas mais
Sendo um espaço pensado para vários tipos de público, o Avenida Café-Concerto aposta, assim, numa carta com várias propostas. Do chá aos licores, passando pelos cocktails e gin, as sugestões são muitas, sendo que uma das estrelas da casa é a cerveja artesanal Musa. “Tem saído muito bem, talvez por ser uma marca independente, o que tem a ver um pouco com o nosso conceito”, destaca Patrícia.
E sempre que a fome aperta – talvez nem sempre seja preciso tanto, basta ter vontade de acompanhar a bebida com um petisco -, é escolher entre as tradicionais empalhadas (amendoins, tremoços e azeitonas), conservas (enguias, polvo, ovas, bacalhau, mexilhão, entre outras), enchidos assados (chouriça, alheira e farinheira), pica-pau de rojão e sainhas. Também há sushi, com as opções de uma, seis ou dez peças.
Quanto ao principal “prato” da casa, a programação cultural, ela vai acontecendo em vários dias da semana – nem sempre nos mesmos – e é devidamente anunciada na página de Facebook do Avenida Café-Concerto. Nos dias e noites em que nada acontece, a música ambiente é garantida ao som de blues, jazz, soul e indie.
Para quem visita o espaço (que se assume logo à entrada como pet friendly) pela primeira vez, torna-se obrigatório trocar o elevador pelas escadas. Do rés-do-chão até ao terceiro andar, há uma galeria de imagens digna de ser apreciada. Fotos do que foi o Cine-Teatro Avenida (o edifício datado de 1949 foi sendo adaptado para outros fins e passou a designar-se Edifício Avenida) e posters de espectáculos ou de protagonistas de filmes que por ali passaram (nomeadamente de James Dean e Lara Turner). Também lá está uma reprodução de uma foto do III Congresso da Oposição Democrática e uma antiga máquina de projecção de filmes. Memórias de um passado não tão longínquo assim.