Pichardo, um potencial recordista mundial que já pode saltar por Portugal

O triplista de origem cubana já vai poder representar as cores portugueses a partir de 2019 e tem objectivos ambiciosos, ganhar medalhas e bater o recorde de Jonathan Edwards que tem mais de duas décadas.

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Pedro Pablo Pichardo LUSA/JOSÉ COELHO

Nos Jogos Olímpicos de 2016, que se realizaram no Rio de Janeiro, Cuba teve os seus piores resultados em quatro décadas — apenas 11 medalhas. Não muito longe deste número foram os pódios conquistados por atletas cubanos (sete) a competir por outros países. Em 2020, haverá mais um e, potencialmente, um campeão olímpico. Pedro Pablo Pichardo, um dos melhores da actualidade (e de sempre) no triplo salto, está autorizado pela Federação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF) a competir por Portugal nos Mundiais de 2019 no Qatar e nos Jogos de Tóquio em 2020. E, estando em boas condições físicas, é um candidato a ambos os títulos.

A decisão de autorizar Pichardo a competir com as cores portuguesas acabou por ser o desfecho desejado pelo atleta numa altura em que a IAAF está a apertar o cerco às naturalizações de atletas. Os novos regulamentos do organismo liderado por Sebastian Coe falavam em três anos de espera até um atleta poder competir por outro país, e Pichardo só obteve a nacionalidade portuguesa em Novembro de 2017. Mas, segundo explicou ao PÚBLICO Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo, a IAAF é sensível a analisar os casos individualmente e, no que diz respeito ao cubano, foi sensível aos seus argumentos, sobretudo ao facto de ter havido um conflito entre o atleta e a federação cubana — Pichardo queria ser treinado pelo pai Jorge, o que era contrário aos responsáveis cubanos.

Menos de um ano depois de ter perdido Nelson Évora para o Sporting, o Benfica apresentou em Abril do ano passado o seu grande reforço para a equipa de atletismo, Pedro Pablo Pichardo. E logo na altura se falou da possibilidade de o cubano poder competir por Portugal, depois de ter desaparecido dez dias antes de um estágio da selecção cubana em Estugarda. Mas, para que tal acontecesse, Pichardo teria de obter a nacionalidade portuguesa e esperar pela autorização, duas condições que geralmente levam algum tempo.

O cubano acabaria por obter a nacionalidade portuguesa em tempo recorde — em Dezembro do ano passado — e, a 4 de Maio deste ano, estabeleceu um novo máximo português do triplo, 17,95m, ultrapassando os 17,74m de Évora feitos em 2007, nos Mundiais de Osaca.

Já com a nacionalidade portuguesa na mão, Pichardo acabaria por não participar nos Europeus de atletismo de Berlim porque não tinha ainda autorização da IAAF para competir por Portugal. Nelson Évora acabaria por se sagrar campeão continental (com 17,10m), e o cubano publicou uma mensagem a comentar o título do português: “Sem a minha presença é fácil”. Évora disse, numa entrevista ao PÚBLICO, que o comentário era produto da “frustração” por não estar nos Europeus.

Ainda sem um currículo recheado como o de Évora (campeão mundial, olímpico e muitas outras medalhas em grandes competições), Pichardo, vice-campeão mundial em 2013 e 2015, já pode ser considerado como um dos melhores triplistas de sempre, seguindo a tradição de excelência cubana nos saltos. O seu recorde de Cuba (18,08m) é a quinta melhor marca de sempre e Pichardo é um de apenas cinco atletas a passar os 18 metros — no topo da lista está, desde 1995, o salto a 18,29m de Jonathan Edwards. E Pichardo tem feito marcas que, consistentemente, o aproximam do recorde de Edwards — são dele seis das 20 melhores marcas de sempre, sendo que, na actualidade, tem um rival em patamares semelhantes, o norte-americano Christian Taylor, que tem um recorde pessoal superior (18,21m, segundo melhor de sempre), mais três títulos mundiais e dois olímpicos.

“É um prazer e honra representar as cores deste óptimo país e todos os portugueses. Agradeço muito a todas as pessoas envolvidas para que isso tenha sido possível. Muito obrigado Portugal”, escreveu o atleta numa publicação no Instagram a acompanhar uma fotografia sua com a camisola do Benfica e a segurar a bandeira portuguesa.

Numa entrevista em Agosto passado ao Tribuna Expresso, Pichardo, de 23 anos, dizia que, após sair de Cuba, o seu objectivo era o de se fixar na Europa, e que foi uma empresária que o colocou na rota do clube “encarnado” e de Portugal. Nessa mesma entrevista, chegou mesmo a colocar a hipótese de ir treinar para outro país — “América ou outro país onde possa treinar com boas condições” — e revelou que, num futuro próximo, também se irá dedicar ao salto em comprimento e experimentar os 100m.

Pichardo não é o primeiro atleta de origem cubana a representar Portugal. A judoca Yahima Ramirez nasceu em Havana, mas já conquistou uma medalha de bronze em Europeus (2008) e foi olímpica por Portugal (2012), e a selecção portuguesa de andebol tem tido vários internacionais de origem cubana. Não deixou, no entanto, de ser uma surpresa que o atleta de 23 anos tenha escolhido saltar por Portugal, já que boa parte dos seus compatriotas do atletismo escolhem Espanha, como Orlando Ortega, vice-campeão olímpico dos 110m barreiras em 2016 (que desertou em 2013), ou Niurka Montalvo, campeã mundial do salto em comprimento por Espanha em 1999, depois de ter sido prata por Cuba em 1995.

Mesmo o panorama internacional do triplo salto tem vários cubanos a competir por outras bandeiras, como Alexis Copello, que compete pelo Azerbaijão, ou Yordanis Durañona, que salta pela Dominica. A partir de 2019, terá Pichardo, natural de Santiago de Cuba, a competir por Portugal.

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