Ex-chefe dos comandos acusa Rovisco Duarte de não defender militares
Almoço de apoio a Pita Amorim, exonerado em Julho, juntou 400 militares no activo e na reforma
O ex-comandante do Regimento de Comandos Pipa Amorim condenou este sábado o “total desinteresse” e “alheamento” do comando do Exército para com os militares acusados no processo pela morte de dois instruendos, num almoço que reuniu 400 pessoas. Destinado a manifestar “solidariedade” para com o tenente-coronel Pipa Amorim, que se afirmou “separado prematuramente” do comando do Regimento, o almoço reuniu 400 pessoas, na maioria militares, no activo e na reserva ou na reforma.
No final do almoço, que se prolongou pela tarde, em Lisboa, Pipa Amorim dirigiu-se aos militares do Regimento que marcaram presença na iniciativa, reconhecendo o seu “desassombro” e advertindo que passarão a ser considerados persona non grata.
“O facto de estarem hoje aqui, junto ao vosso comandante, é uma missão de risco, pois será considerada uma acção conspiratória e passarão a ser persona non grata por quem não comunga dos nossos ideais e princípios éticos”, declarou.
O tenente-coronel, que recusou falar aos jornalistas por estar a aguardar a passagem à reserva, disse no seu discurso que desde o primeiro dia à frente do Regimento foi confrontado com “imorais acções persecutórias e com o alheamento e indiferença a que foram votados 19 dos melhores militares da Unidade”.
“Um total desinteresse pelos seus legítimos direitos, aspirações e expectativas, abandonados à sua sorte, sem que nunca lhes tenha sido manifestada qualquer solidariedade institucional nem preocupação pelos constantes atentados à sua idoneidade, e bom nome”, que consistiram, disse, num “verdadeiro julgamento em praça pública”.
Pipa Amorim defendeu que “as Forças Armadas devem ser objecto de uma cultura de compromisso e consenso institucional entre as várias forças políticas e os diferentes órgãos do Estado”.
“Pelo que não são concebíveis as constantes e soezes intoxicações mediáticas e as cabalas contra estes militares”, criticou.
“Inexplicavelmente, contrariando o obrigatório dever de tutela e a expectável acção de comando, são contemporizadas pelo comando do Exército numa postura consentida ou assumida que se insere em contextos que nada têm que ver com o bem da instituição”, acusou.
Organizado pelo tenente-coronel, na reforma, Tinoco Faria, a iniciativa teve na “comissão de honra” o anterior chefe do Estado-Maior do Exército, Carlos Jerónimo, que se demitiu do cargo em 2016, na sequência de afirmações polémicas do então director do Colégio Militar.
Os generais Faria Menezes e José Antunes Calçada, que se demitiram em divergência com o actual chefe do Estado-Maior do Exército por causa da forma como geriu o caso de Tancos, o embaixador António Tânger Correa e o coronel comando Raul Folques também marcaram presença no encontro.
No seu discurso, o coronel Raul Folques, que falou na qualidade do comando “mais antigo presente”, recusou que a iniciativa tenha “pretensões de natureza política”, sendo antes uma homenagem ao ex-comandante do Regimento de Comandos e enalteceu a sua “carreira competente, diversificada e muito distinta”.
“Coragem moral, frontalidade e honestidade é o que se exige” aos comandantes, disse Raul Folques, que disse recusar “o silêncio” face a “sucessivos e premeditados constrangimentos” sobre os instruendos e instrutores envolvidos nos processos de justiça.
Os militares envolvidos no processo pela morte de dois instruendos do 127.º curso, afirmou, “foram acusados com mediatismo e rotulados de forma infame, ostracizados e nunca convenientemente defendidos pela instituição que servem”.
O coronel Pipa Amorim foi substituído pelo tenente-coronel Eduardo Pombo, em despacho do CEME, Rovisco Duarte, datado de 8 de Maio, segundo noticiou o Diário de Notícias, em Julho.
Questionada pela Lusa, a porta-voz do Exército, major Elisabete Silva, disse que a substituição do comandante Pipa Amorim se insere na “normal gestão normal de recursos humanos”.
Quanto ao almoço de homenagem a Pipa de Amorim, a porta-voz do Exército disse que o ramo encara com naturalidade, uma vez que é corrente haver “despedidas informais” quando um comandante cessa funções.