Haddad faz campanha "à Lula" nas vésperas de ser confirmado candidato
O ex-autarca de São Paulo ainda não é o candidato oficial do PT, que mantém apoio a Lula. Para Haddad, o grande desafio é aproximar o seu perfil do do ex-Presidente.
Aproxima-se o dia de todas as decisões para o Partido Trabalhista brasileiro. Na terça-feira, dia 11, esgota o prazo para que sejam entregues as candidaturas definitivas às eleições presidenciais concedido pelo Tribunal Superior Eleitoral. Ou seja, perante a impossibilidade de Lula da Silva avançar, o PT será obrigado a confirmar a candidatura de Fernando Haddad.
O partido não desistiu de tentar manter Lula como candidato – apesar de o ex-Presidente ter sido condenado em segunda instância no âmbito da Operação Lava-Jato e, por isso, não poder candidatar-se a cargos públicos ao abrigo da Lei da Ficha Limpa. O PT apresentou um recurso junto do Supremo Tribunal Federal para contestar a decisão da justiça eleitoral de impedir a candidatura de Lula, baseando-se para isso num parecer do Comité de Direitos Humanos da ONU que lhe é favorável. No entanto, o juiz do Supremo Edson Fachin já fez saber que a opinião do organismo das Nações Unidas não se sobrepõe à lei brasileira.
Praticamente já sem esperanças de reverter a decisão nos tribunais, a definição da candidatura “petista” não pode esperar mais. O parceiro de coligação do PT, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), tem insistido que Haddad deve avançar o quanto antes, uma vez que já perdeu a possibilidade de participar nos debates televisivos.
Do lado do PT, a linha de apoio inabalável ao ex-Presidente mantém-se e ninguém quer ouvir falar em pressas para confirmar o plano B. “Nós não estamos ansiosos com isso”, disse nesta sexta-feira ao El País Brasil a presidente do partido e senadora Gleisi Hoffmann.
Uma das principais preocupações é o desconhecimento do eleitorado em relação a Haddad, que foi ministro da Educação entre 2005 e 2012 e, mais recentemente, presidente da câmara de São Paulo, e que se agrava à medida que mais tempo passa sem que apareça como candidato à presidência. As sondagens atribuem ao ex-ministro valores muito reduzidos, tornando a passagem à segunda volta quase uma miragem.
A grande esperança do PT é que Haddad beneficie de uma possível transferência de votos que seriam de Lula – líder destacado de todos os estudos de opinião – e possa garantir pelo menos uma disputa na segunda volta, provavelmente contra o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Nesse sentido, a estratégia “petista” passa por colar o mais possível Haddad a Lula. É precisamente essa a mensagem da música que anima o tempo de antena da candidatura: “É o Lula, é Haddad, é o povo.” Mas Haddad parece enfrentar um desafio até para alcançar um consenso dentro do próprio partido.
Ala esquerda contra Haddad
A imprensa brasileira diz que a ala mais à esquerda do PT preferia que o candidato fosse o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner, por ter um perfil mais próximo de Lula. Haddad, um académico que trabalhou na banca e de perfil urbano, é considerado por muitos no PT como rompendo com a tradição de líderes ligados ao movimento sindical das periferias urbanas. A piorar a situação de Haddad está a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro pelo Ministério Público de São Paulo conhecida esta semana.
Porém, o ex-prefeito foi o escolhido de Lula e poucos se atrevem a contestar essa escolha. Para fazer a quadratura do círculo – apresentar o novo candidato sem demonstrar um abandono da luta pela legalidade da candidatura de Lula – é possível que a apresentação oficial de Haddad seja feita em Curitiba na próxima semana em frente ao edifício da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-Presidente está preso.
Como candidato virtual, Haddad tem feito uma campanha com o objectivo claro de se aproximar das bases de apoio de Lula. No final da semana passada, Haddad fez um périplo pelo Nordeste brasileiro, o bastião tradicional eleitoral do PT que é considerado vital para as aspirações do partido para as eleições de 8 de Outubro.
Esta semana, o candidato percorreu várias fábricas no ABC paulista, os subúrbios industriais de São Paulo onde Lula iniciou o seu percurso político, onde foi recebido por sindicalistas.