Samaris e Svilar foram inquiridos em Maio no âmbito do E-toupeira
Sporting constituiu-se assistente no processo em que a SAD do Benfica é acusada de crimes de corrupção activa, oferta ou recebimento indevido de vantagem, e falsidade informática¨.
Mile Svilar teve uma ascensão meteórica: a 28 de Agosto de 2017, no dia a seguir a completar 18 anos, assinou contrato com o Benfica. Menos de dois meses depois, estreou-se pela equipa de Rui Vitória, tornando-se no guarda-redes mais jovem de sempre a jogar pelos “encarnados”. Passados poucos dias, jogava, pela primeira vez na curta carreira, uma partida da Liga dos Campeões. Nada neste percurso o poderia preparar para as circunstâncias em que se encontrou a 10 de Maio deste ano, quando foi inquirido no âmbito do processo E-toupeira.
Tal como Svilar, também Samaris foi ouvido nesse dia na investigação do caso em que a SAD do Benfica é acusada de crimes de corrupção activa, oferta ou recebimento indevido de vantagem, e falsidade informática – o assessor da administração da SAD “encarnada” para a área jurídica, Paulo Gonçalves, e dois oficiais de justiça (José Silva e Júlio Loureiro) também são acusados pelo esquema que consistia na entrega de convites e artigos de merchandising do Benfica como contrapartida para obter informação sobre processos que, na sua maioria, estavam sujeitos a segredo de justiça. O Sporting constituiu-se assistente no processo, tal como já havia feito no caso dos emails.
Svilar e Samaris são dois dos futebolistas identificados em fotos que José Silva, oficial de justiça que prestava apoio informático nos tribunais de Fafe e Guimarães, tirou numa das suas visitas ao Estádio da Luz. A 3 de Março deste ano, José Silva assistiu ao Benfica-Marítimo e após o jogo, “em zona reservada junto aos lugares de estacionamento dos jogadores, tirou fotos com Samaris, Jardel, Douglas, Eliseu e Luisão”, pode ler-se no processo E-toupeira, que o PÚBLICO consultou no Campus da Justiça, em Lisboa.
Questionados sobre as camisolas autografadas encontradas em casa de José Silva nas buscas realizadas, tanto Svilar como Samaris reconheceram a própria assinatura, mas referiram ser prática comum entregar camisolas a adeptos (no final dos jogos, por exemplo), assim como autografar camisolas para oferta.
Toupeira de cebolada
Na sequência das buscas realizadas pela Polícia Judiciária em Março deste ano, Paulo Gonçalves e José Silva foram constituídos arguidos, tendo este último visto ser-lhe aplicada medida de coacção de prisão preventiva a 7 de Março. “Foram todos comidos de cebolada pelo toupeira-mor que anda a pavonear-se pelo tribunal de Guimarães (referindo-se a Júlio Loureiro)”, desabafava no dia seguinte Cristina, referida como Tininha, funcionária desse tribunal, num telefonema alvo de escuta e incluído nos autos.
Para lá da coincidência de usar uma expressão que o próprio treinador do Benfica, Rui Vitória, utilizara anos antes (“Não quero ser comido de cebolada”, afirmou em Novembro de 2015, em contestação à arbitragem no derby contra o Sporting), Tininha é também a funcionária que em Dezembro de 2017 se queixava a José Silva que alguém andava a usar as suas credenciais de acesso ao portal Citius, no Ministério da Justiça.
“Alguém está a trabalhar com a minha password aqui num processo... Numas pesquisas à Segurança Social?”, dizia Tininha, incrédula, num telefonema com José Silva, acrescentando: “É grave!”. Passados 30 minutos, o oficial de justiça e adepto do Benfica devolvia a chamada à colega com a explicação possível. “Instalei agora um computador novo, de uma colega lá de Loures. E eu para actualizar o Citius preciso de uma password de um funcionário. Percebes?”, afirmou José Silva, sem que Tininha ficasse muito convencida. “Já está sanado... O culpado fui eu”, concluía o técnico. Palavras que não repetiria no inquérito, quando preferiu remeter-se ao silêncio.
Sem meias-palavras, era como Vítor, identificado nos autos como coordenador de José Silva, reagia a 5 de Fevereiro às notícias que aludiam à existência de uma “toupeira” do Benfica no sistema da justiça: “Manda lá umas bocas ao Júlio [Loureiro] a ver se ele deixa de... epá foda-se. O gajo que não foda a puta da vida dele pla merda de dois ou três bilhetes. Foda-se!”