Macri assume crise, suprime ministérios e admite: “Pobreza vai aumentar” na Argentina

Presidente da Argentina prepara o país para a austeridade e aponta o dedo ao Governo anterior. MNE argentino estava em Lisboa para uma visita oficial mas teve se regressar com urgência a Buenos Aires.

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Mauricio Macri, Presidente da Argentina Reuters/MARCOS BRINDICCI

O Presidente da Argentina assumiu esta segunda-feira que o país atravessa uma grave crise financeira e que a situação é de “emergência”, pelo que não terá outra solução senão fazer cortes e aumentar impostos. Num anúncio televisivo que serviu de pontapé de saída para a adopção de medidas de austeridade, Mauricio Macri, anunciou a redução de “pelo menos metade” dos ministérios e o aumento das taxas de exportação. 

“Já tivemos muitas crises e os argentinos sabem bem disso. Mas agora temos um Governo que enfrentar a realidade sem a esconder e sem ter medo de pagar os custos para a mudar”, disse Macri, afiançando de seguida: “Esta crise não pode ser só mais uma, tem de ser a última!”

Horas depois do anúncio do Presidente, o Governo oficializou a supressão de ministérios. Dos 20 criados há três anos pelo dirigente político da direita liberal, ficam apenas 11. Os ministérios do Trabalho, Saúde, Ciência, Tecnologia, Ambiente, Desenvolvimento, Energia, Agro-indústria, Turismo e Cultura passam a secretarias de Estado, ao passo que o da Modernização desaparece mesmo.

As mudanças na estrutura do executivo apanharam o ministro dos Negócios Estrangeiros de surpresa. Uma fonte diplomática confirmou ao PÚBLICO que o cancelamento do encontro entre Jorge Faurie e o seu homólogo português, Augusto Santos Silva, agendado para esta segunda-feira em Lisboa, se deveu à remodelação imposta por Macri. O chefe da diplomacia argentina já se encontrava em Portugal, mas foi obrigado “a regressar com urgência a Buenos Aires”.

Quanto às exportações – Macri antecipara a entrada em vigor de um imposto “mau, muito mau, que vai contra o que quer fomentar” –, o plano do Governo é avançar para o aumento das taxas no sector agro-pecuário, que inclui a soja, o milho ou o trigo, produtos que a Argentina vende para o exterior como mais ninguém a nível mundial.

O chefe de Estado argentino elogiou o “apoio inédito” que o seu Governo conseguiu do Fundo Monetário Internacional (FMI) – com quem se encontra a renegociar um programa de ajuda no valor de 50 mil milhões de dólares (cerca de 42 mil milhões de euros) –, mas diz que “passaram-se coisas que voltaram a lanças dúvidas” sobre a postura argentina.

Na mira de Macri está o modelo económico implementado pelo executivo anterior, liderado por Cristina Kirchner, bem como os recentes escândalos de corrupção que envolvem o nome da ex-Presidente. 

“Durante dois anos a economia cresceu e a pobreza reduziu. Depois houve problemas e isso fez com que aqueles que nos emprestam dinheiro começassem a duvidar”, afirmou Macri, na presidência desde 2015 e cada vez mais ameaçado por Kirchner nas sondagens para as eleições do próximo ano. “Não podemos continuar a gastar mais do que temos e continuar a conviver com a corrupção”, acrescentou, numa alfinetada à anterior detentora do cargo.

Mas o ministro das Finanças reconheceu que o actual Governo também “cometeu erros” e que a “recessão deste ano vai ser mais pronunciada” do que aquela que tinha estimado inicialmente. Falando depois de Macri, Nicolás Dujovne não quis arriscar, no entanto, uma previsão sobre até quando e quanto é que o dólar vai subir, face ao peso argentino.

Uma postura que dá força ao cenário pessimista a que o Presidente tinha feito referência, quando confessou que “com esta desvalorização a pobreza vai aumentar”. O peso já caiu mais de 50% desde o início do ano.

Segundo Dujovne, para além do imposto para as exportações e da redução dos ministérios, o Governo vai levar a cabo uma série de ajustamentos e cortes na despesa pública com o objectivo de alcançar défice zero em 2019, indo para além da meta fixada para um défice de 1,3% do PIB, acordada com o FMI

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