Macron (o Presidente “abacate”), os lobbies e outros problemas

O ministro do Ambiente francês demitiu-se, queixando-se da influência dos "grupos de interesse" na governação. Mas essa situação é comum a outros países da UE.

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Macron com agricultores: um lobby poderoso em França Pascal Lachenaud/REUTERS

Nicolas Hulot não é o primeiro ministro do Ambiente francês que bate com a porta. Delphine Batho em parte saiu e em parte foi obrigada a sair do Governo socialista em 2013, e, embora tivesse as credenciais de ecologista como Hulot, disse-se vítima dos lobbies económicos.

Batho responsabilizou pelo seu despedimento a Vallourec, a empresa líder mundial na produção de tubos sem soldadura usados para a exploração de petróleo e gás de xisto. O seu afastamento, dizia, foi anunciado nos EUA semanas antes de se ter concretizado em Paris.

Não é uma novidade que Hulot se queixe da pressão de lobbies. Um relatório dos Verdes no Parlamento Europeu, datado de Maio, diz ter encontrado 88 casos em 13 países da União Europeia de conflito de interesse entre decisores políticos e empresas ligados ao sector petrolífero, através do fenómeno chamado “portas giratórias”: políticos que passam para empresas ligadas à sua área de intervenção e vice-versa.

Mesmo para além do sector energético, outros grupos de interesses continuam a pesar sobre os decisores. O Governo de Macron, ex-ministro da Economia e com vários ministros do sector privado, tem assumido as suas ligações aos lobbies.

“Emmanuel Macron encarna um velho mundo com uma pintura retocada, em que a última camada de verde desapareceu definitivamente”, criticou, em declarações ao jornal Le Monde, Yannick Jadot, cabeça de lista do partido Europa Ecologia-Os Verdes para as eleições europeias de 2019.

Macron é um Presidente “abacate”, como lhe chamava o Politico em Maio — verde por fora, mas algo amarelado por dentro —, porque não cumpriu os objectivos da sua política ambiental ambiciosa. A batalha para banir o herbicida glifosato na União Europeia, por exemplo, chocou com a oposição da Alemanha, que assegurou o uso por mais cinco anos.

Verdade seja dita, a política francesa não é muito diferente do que se passa noutros países da UE. A chanceler alemã, por exemplo, fez saber na segunda-feira que não está “muito contente” com a revisão das metas de redução das emissões de CO2 para 2030, que passariam de 40% para 45%. Berlim admitiu que não conseguirá cumprir a meta de redução que tinha traçado para 2020.

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