Facebook bloqueia conta de chefe das forças armadas e outros militares birmaneses
Esta é a primeira vez que a rede social bloqueia a conta de líderes políticos ou militares. O objectivo é prevenir a propagação de “ódio e desinformação”.
Horas depois de a ONU ter afirmado que os militares birmaneses devem ser julgados por crimes contra a humanidade e genocídio da minoria rohingya, o Facebook bloqueou nesta segunda-feira os perfis do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Min Aung Hlaing, e de outros militares de topo da Birmânia. Esta é a primeira vez que a rede social bloqueia a conta de líderes políticos ou militares, disse a porta-voz do Facebook, Ruchika Budhraja, adiantando que não existe possibilidade de recurso.
O objectivo, disse a empresa depois de analisar o conteúdo das contas, é prevenir a propagação de “ódio e desinformação”. Uma conta no Instagram – rede detida pelo Facebook – foi também bloqueada, assim como 52 outras páginas no Facebook que fazem parte de uma campanha “que utiliza páginas de notícias e opiniões aparentemente independentes para impulsionar dissimuladamente as mensagens dos militares birmaneses”. Ao todo, as páginas tinham quase 12 milhões de seguidores.
A decisão da empresa norte-americana foi motivada não só pelas conclusões das Nações Unidas, mas também por relatos da comunicação social e de grupos de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional. Além das violações e execuções em massa dos rohingya, o relatório da ONU publicado esta segunda-feira evidenciava também o impacto das redes sociais, caracterizando o Facebook como “um instrumento poderoso para aqueles que pretendem espalhar o ódio, num contexto em que o Facebook é, para muitos utilizadores, toda a Internet”.
Em meados de Agosto, o Facebook já tinha admitido a demora em prevenir o uso da rede social para incentivar a violência e o discurso de ódio contra os rohingya na Birmânia. A declaração surgia horas depois de a Reuters publicar uma investigação que mostrava como o Facebook continuava a alojar mais de mil publicações a promover o ódio contra a minoria muçulmana.
Cerca de 800 mil rohingya viram-se obrigados a abandonar a Birmânia para fugir à violência dos confrontos com os militares. A ONU acusou a Birmânia de limpeza étnica, mas o Exército argumentou que se tratava de uma resposta militar aos ataques de uma rebelião rohingya. A crise começou a 25 de Agosto de 2017, mas a perseguição à minoria muçulmana na Birmânia dura há séculos: o Governo birmanês não os reconhece como cidadãos, não os deixa votar, não lhes permite a circulação livre e veda-lhes o acesso a serviços públicos.