Já deve ter lido isto vezes sem conta: a Riviera Francesa é uma dessas zonas que reclama um passeio, de carro ou de mota, ao longo da costa. Estando Antibes a uns escassos 10 quilómetros de Cannes e a cerca de 40 quilómetros do Mónaco, a ordem é mesmo para seguir estrada fora, com paragem obrigatória em cidades mais ou menos conhecidas.
Qual James Bond, em 1995, no filme Goldeneye — mas não à mesma velocidade, tanto mais porque trocámos o Aston Martin por uma scooter 125 cc —, partimos para Norte, em direcção ao Mónaco. Terra de príncipes e princesas, este é o segundo estado mais pequeno do mundo. Monte Carlo, a sua capital, é tida como uma das cidades mais glamorosas do mundo e o vaivém de pessoas e viaturas à entrada para o casino ou para o Hotel de Paris não deixam qualquer margem para dúvidas.
Reserve algumas horas para poder visitar, também, a zona do Rochedo, onde se situa a vila antiga, com alguns dos principais monumentos do Mónaco: o Palácio do Príncipe (tome nota: o render da guarda acontece todos dias às 11h55), a Catedral e o Museu Oceanográfico. Quando regressar à estrada, tente seguir pela via que o vai conduzir até ao famoso túnel Louis II, internacionalmente reconhecido por causa do Grande Prémio de Fórmula 1.
Apanhando o sentido em direcção a Nice, há uma regra de ouro para fazer deste um passeio memorável: optar pelas famosas corniches, estradas cravadas na montanha, em detrimento da auto-estrada. Uma delas, a chamada Basse Corniche, segue sempre junto ao mar e é a melhor opção para descobrir pequenos paraísos como Cap. Ferrat e Villefranche-sur-Mer. Fica a nota para mais tarde. Por ora, apanhamos a Moyenne Corniche — ainda existe uma terceira (Grande Corniche), mais no topo da montanha — para rumar a Èze, vila medieval plantada no alto de uma colina, com vista directa para o mar. Se é fã de perfumes, aproveite para visitar a fábrica Fragonard e ficar a conhecer um pouco mais sobre a produção destas soluções que dão um agradável aroma às nossas vidas.
Próxima paragem: Saint-Jean-Cap-Ferrat, sem dúvida uma das mais belas penínsulas da Côte d’Azur. Uma mistura perfeita de glamour e natureza, ornamentada por praias idílicas e tranquilas. Por entre a enorme mancha verde da península, dezenas de mansões e palácios vão-se deixando entrever, de forma discreta. Aproveite para visitar os que são públicos — foram transformados em museus — e entrar num verdadeiro conto de fadas: a Villa Ephrussi de Rothschild, palácio inspirado na renascença italiana, e a Villa Santo Sospir, cujas paredes interiores foram decoradas por Jean Cocteau. Maravilhe-se com a quantidade de requinte que é possível encerrar dentro de uma casa só.
Uma vila piscatória cheia de charme
De regresso à estrada mas para andar muito pouco — nem dá para aquecer o motor. Villefranche-sur-Mer está mesmo ali ao lado e não há forma de escrever de maneira isenta quando se fala dela. Esta vila piscatória é um charme. Protegida por uma baía, Villefranche-sur-Mer parece viver numa perfeita simbiose com o mar. Há esplanadas de bares e restaurantes plantadas ali mesmo à borda de água e as pequenas embarcações de lazer e de pesca não param de chegar e partir. Deixe-se ficar por ali para almoçar ou jantar — os mexilhões, entre outros produtos do mar, são presença obrigatória na carta — e usufrua da tranquilidade de uma vila onde todos os habitantes se conhecem.
O seu casario colorido esconde uma série de ruelas que convidam a uma caminhada, com passagem pela Rue Obscure, uma rua escondida entre as casas, com 130 metros de extensão, e que teve uma importância estratégica na defesa do porto. Actualmente, é monumento histórico, à semelhança do que acontece com a cidadela de Saint Elme. Mandado construir em 1557 para defender a cidade e proteger o porto, este forte foi comprado e restaurado pela câmara local em 1981. Alberga, desde essa altura, a autarquia, quatro museus, um centro de conferências, um teatro ao ar livre e jardins (e é de entrada gratuita).
Não muito longe, a apenas cinco quilómetros de distância, reside a capital da região, Nice, cidade multifacetada e vibrante. Talvez por isso seja sempre tão concorrida. Destino de praia e não só, Nice conquista-nos pelas suas pequenas praças, igrejas, jardins, esplanadas e museus. O mais importante de todos talvez seja o Museu Matisse, onde os visitantes poderão encontrar uma das maiores colecções do mundo de obras assinadas por Henri Matisse, que viveu naquela cidade de 1917 até à sua morte, em 1954. Instalado numa vila genovesa do século XVII, o museu conserva, também, alguns objectos pessoais do pintor, levando o público a entrar na intimidade do seu processo criativo.
Se a estadia for mais prolongada, aproveite para visitar, também, o Museu de Arte Moderna e de Arte Contemporânea (tem mais de 1300 obras) e o Museu Nacional Marc Chagall, (reúne a maior colecção pública de trabalhos assinados pelo pintor franco-bielorrusso).
O outro grande atractivo da cidade reside naquilo que os franceses chamam de art de vivre (arte de viver). Uma forma de estar muito própria, bonita de se ver (e sentir) e que toma conta de praticamente toda a cidade, desde o centro antigo, Vieux Nice, até à frente de praia da Promenade des Anglais.
Terra de cinema e muito mais
A passadeira vermelha só ali está, em frente ao Palais des Festivals, por alguns dias, enquanto decorre o festival de cinema e o consequente desfile de “estrelas”. Mas, mesmo quando ela não está, poucos resistem à tentação de tirar uma fotografia junto ao recinto onde, uma vez por ano, os holofotes brilham com a maior das intensidades. Com poses mais ou menos elegantes, só ou acompanhado, o ritual parece não ter fim. Cannes é, definitivamente, a cidade do cinema, do glamour e do requinte, mas não só.
Nesta cidade vizinha de Antibes — são 11 quilómetros de distância, mas agora para Sul — nem tudo gira à volta da famosa La Croisette, avenida virada para o mar e que dá a volta à baía, ou da sua marina de barcos luxuosos. Cannes esconde um casco antigo de ruas estreitas e animadas, e que conduzem os visitantes até subidas mais ou menos íngremes ou escadarias apertadas para rumar ao topo de uma colina (Suquet). Lá em cima, já com necessidade de recuperar fôlego, encontrará as muralhas que concentram o Museu de La Castre e também um terraço com vista para toda a cidade.
Para quem vai com tempo, há uma proposta que importa, no mínimo, equacionar: apanhar um barco (são cerca de 15 minutos de viagem) e visitar as ilhas de Lérins, mais concretamente Sainte-Marguerite e Saint-Honorat. Dois verdadeiros paraísos naturais, ricos em fauna e flora e com muita história para contar. Na Sainte-Marguerite, por exemplo, encontrará o forte (Fort Royal) que albergou prisioneiros que ficaram na história, como o Homem da Máscara de Ferro; Saint-Honorat é, ainda hoje, habitada por monges, mantendo o seu mosteiro e abadia.
Um Rosé Piscine e um brinde
Já fica um pouco mais distante de Antibes, é verdade (a cerca de 90 quilómetros), mas seria uma falha grave estar na Côte D’Azur e não a visitar. Saint Tropez, ela própria, talvez a mais mítica de todas as vilas da Riviera Francesa. E será que se justifica tamanha fama? Gostos não se discutem, além de que também aqui existem programas e opções para todos.
São 20 quilómetros de costa, animados por clubes de praia que são uma referência a nível internacional (o Le Club 55 é um dos mais icónicos), uma vida nocturna que parece não ter fim, vários museus para visitar (na cidadela, por exemplo, mora o Museu Marítimo) e uma vila antiga repleta de ruas estreitas para explorar. E se lhe parecer demasiada agitação, procure mesa e cadeiras no Sénéquier, café histórico de Saint Tropez (abriu em 1887), com esplanada virada para a marina. Um Rosé Piscine (vinho servido com muito gelo), por favor. E um brinde a Saint Tropez.