O quinto primeiro-ministro australiano em cinco anos é Scott Morrison
O conservador, que substitui o moderado Malcolm Turnbull, não prevê convocar eleições. Nenhum primeiro-ministro cumpriu o seu mandato até ao fim na última década na Austrália, a “capital dos golpes do Pacífico”.
O conservador Scott Morrison é o novo primeiro-ministro australiano, o quinto em pouco mais de cinco anos, depois de eleições internas do Partido Liberal que lhe deram a vitória nesta sexta-feira. Sucede ao moderado Malcolm Turnbull.
A Austrália está há anos mergulhada em instabilidade política, mas a provável saída de Turnbull, que diz não querer ocupar o seu lugar de deputado, põe em risco a maioria do partido no parlamento. “Esta roda-viva de primeiros-ministros tem de parar”, apela-se.
Essa imagem de uma porta giratória é evocada pelo liberal Warren Entsch, citado pela agência Reuters, pedindo que o cenário de tumulto político termine depois de anos de quedas sucessiva dos chefes de governo – Morrison será não só o quinto primeiro-ministro australiano em cerca de cinco anos, como o sexto em 11 anos.
O Guardian é taxativo ao descrever o que se passa na política australiana nos últimos meses: “uma guerra civil” na coligação do governo que deu a Camberra o epíteto de “capital dos golpes do Pacífico”. Foi, como descreveu o diário Sydney Morning Herald, “um dia extraordinário na política australiana”.
Parte deste contexto, do lado da opinião pública, é que “muitos cidadãos australianos se queixaram esta semana de que os seus líderes estavam demasiado focados em maquinações políticas à custa de assuntos mais importantes, incluindo uma seca que espalha o caos pelo país há meses”, como resumia o New York Times na quinta-feira, na véspera da eleição prevista de Morrison, até aqui ministro das Finanças do país.
O Governo australiano é composto por uma coligação entre o Partido Liberal e o Partido Nacional, tendo o Partido Trabalhista na oposição. Morrison já tinha assumido a liderança do seu partido em 2015 e embora não se tenha candidatado directamente a este escrutínio, tendo apoiado a continuidade do actual primeiro-ministro, Malcolm Turnbull, acabou por emergir como vencedor na luta com o ex-ministro do Interior, Peter Dutton, por uma votação de 45 contra 40 votos. Entre outras bandeiras, Morrison é o autor da dura posição anti-migrantes da Austrália e votou contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Foi um dos visados no caso dos Cabinet Papers.
O resultado da eleição deveu-se a “vingança, ambição pessoal e luta de facções” no partido, disse Turnbull aos jornalistas. Citado pela Reuters, foi na sequência dos resultados da eleição que disse que iria abandonar o parlamento “sem grande demora”. Essa ameaça de abandono do seu lugar no Parlamento pode forçar a convocatória de eleições visto que a maioria da coligação governamental é suportada por um único lugar a mais na Câmara dos Representantes.
Mas o cenário, ainda assim, não faz com que Scott Morrison pondere convocar eleições antecipadas. “Penso que ninguém deve fazer planos de ter eleições em breve”, disse aos jornalistas esta sexta-feira. Perante o semblante carregado de parte da opinião pública, disse ainda que a seca que afecta o país será sim a sua prioridade. A seca na região leste do país é tão intensa que o estado de Nova Gales do Sul está com seca decretada em 100% do seu território. “É a necessidade mais premente e urgente neste momento.”
Turnbull tinha, por seu turno, ganho o poder na sequência de um golpe interno em Setembro de 2015, depondo o antigo primeiro-ministro Tony Abbott. Desta feita, e com várias moções alternativas à sua, retirou-se da corrida em poucos dias.
A mais recente guerra interna no Partido Liberal eclodiu na terça-feira, quando Peter Dutton – o rosto de uma política de imigração férrea – tentou retirar o poder a Turnbull. Uma carta assinada por grande parte dos membros do partido pedindo a sua demissão e duas votações depois (que envolveram ainda a ministra dos Negócios Estrangeiros, Julie Bishop, que ficou na primeira volta), Morrison emergia como mais um primeiro-ministro na instável década de política australiana.
Scott Morrison apela agora à “união do parlamento” depois de uma semana que deixou, admitiu, o seu partido “moído e magoado”. Quer ser o arauto da “nova geração” de liderança liberal.
Já Turnbull optou por criticar, no seu discurso de despedida, o populismo e o debate anti-imigração que grassa no seu país: “Somos a sociedade multicultural mais bem sucedida do mundo e sempre defendi isso e avancei isso como uma das nossas grandes mais-valias. Nunca devemos permitir que as políticas de raça ou divisão ou de pôr os australianos uns contra os outros se tornem parte da nossa cultura política”, disse, citado pelo Guardian.
Nas Finanças, Morrison será substituído por Josh Frydenberg, que era o ministro da Energia. Os novos ministros serão anunciados na próxima semana. Os mercados reagiram bem ao nome de Morrison, recuperando de perdas consecutivas de três dias nas bolsas e motivando esperanças dos analistas que a instabilidade política e suas consequências para a competitividade do país tenha chegado ao fim. Ainda assim, as próximas legislativas australianas são já dentro de menos de um ano, em Maio de 2019.