Críticos pedem ao Papa que entregue denúncias de abusos sexuais à polícia
Antiga Presidente acusa uma alta figura do Vaticano de tentar convencer o Governo a apagar registos em 2002.
Quando o Papa Francisco chegar à Irlanda, este sábado, terá a esperá-lo meio milhão de pessoas, mas também um coro de críticas contra a forma como tem lidado com os escândalos de abusos sexuais de menores na Igreja Católica. Apesar do pedido de desculpas feito no início da semana, Francisco é instado a abrir os segredos do Vaticano sobre todos os casos até agora desconhecidos.
"Se o Vaticano entregasse às autoridades relevantes, em cada país, toda a documentação, as crianças ficariam muito mais protegidas e os padres abusadores poderiam ser mais facilmente acusados criminalmente", disse ao Financial Times Maeve Lewis, da organização One in Four, de apoio a crianças vítimas de abusos.
"Os sobreviventes estão cansados de desculpas sem significado e de expressões de solidariedade que não incluem um apelo claro à tomada de medidas", disse a mesma responsável, apontando para "o vasto arquivo de denúncias fundamentadas" guardado pelo Vaticano.
O escândalo de abusos sexuais na Igreja Católica, que teve o seu primeiro grande capítulo na cidade norte-americana de Boston, em 2002, chegou este mês ao estado da Pensilvânia. Há duas semanas, o procurador-geral local divulgou os resultados de uma investigação liderada por um grande júri: mais de mil crianças e jovens foram abusados por cerca de 300 padres desde a década de 1940.
Na Irlanda, um país que tem enfrentado um dos maiores casos de abusos sexuais e maus-tratos a crianças, a maioria em instituições ligadas à Igreja Católica, a visita do Papa Francisco está a ser aproveitada para pôr pressão sobre o Vaticano. Entre os críticos da posição da Igreja estão uma antiga Presidente da República, Mary McAleese, e um antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Dermot Ahern.
Em declarações feitas a poucos dias da chegada do Papa ao país, McAleese e Ahern acusam uma alta figura do Vaticano de ter pedido ao Governo que abafasse o escândalo em 2003 e 2004. Primeiro com um pedido para que o Governo escondesse os registos das denúncias, e depois para que o Estado aumentasse a sua quota-parte nos milhões pagos ao longo dos anos em indemnizações.