Jornalistas compram Jornal do Fundão à Global Media
Dos projectos dos novos donos faz parte aposta nas plataformas digitais e a criação de uma webtv e de uma revista.
Um grupo de jornalistas e docentes universitários comprou o Jornal do Fundão à Global Media, grupo proprietário do Diário de Notícias e da TSF. O negócio foi consumado esta semana, depois de, há duas décadas, a família detentora da publicação ter vendido 51 por cento do capital ao patrão da Lusomundo.
Em Abril passado a família Paulouro alienou os 39% que ainda detinha do jornal, desvinculando-se de vez deste projecto regional fundado há 72 anos e pelo qual passaram nomes como José Saramago, Eduardo Lourenço, José Cardoso Pires ou os brasileiros Carlos Drummond de Andrade e Érico Veríssimo. Da história do jornal faz parte a resistência à censura salazarista.
“Entendi que o Jornal do Fundão estava a ser descaracterizado por um conjunto de conferências de âmbito comercial que eram contrárias ao espírito fundacional”, justificou há quatro meses o antigo director Fernando Paulouro, apontando o dedo aos accionistas maioritários.
À frente desta nova etapa que agora se inicia está o actual director do título, Nuno Francisco, de 43 anos.“Um grupo de jornalistas, docentes universitários na área da comunicação e também amigos de sempre deste semanário e dos valores que representa, adquiriram ao Global Media Group a maioria do capital”, anuncia a publicação, num comunicado em que explica também que a passagem de testemunho foi feita para a empresa Vereda das Letras, constituída com o objectivo de assegurar a continuidade do jornal e dos seus valores humanistas.
Três jornalistas, uma quarta pessoa também com ligações ao título e dois professores da Universidade da Beira Interior, José Ricardo Carvalheiro e Paulo Serra, são os accionistas. Nuno Francisco garante que esta não foi uma solução de recurso: "Quando nos apercebemos da intenção da Global Media medimos os prós e os contras e achámos que valia a pena embarcar nesta aventura". A publicação conta com sete jornalistas, incluindo o director, e tem uma tiragem de 10.200 exemplares por semana, adianta Nuno Francisco, que desempenha as funções de director interino desde 2013.
“Para continuar a ser a voz desta vasta região, desta diáspora beirã, o Jornal do Fundão apostará fortemente em ser uma marca de informação digital e global, explorará sem preconceito todas as novas ferramentas do jornalismo, dos vídeos a podcasts, do Facebook ao Instagram”, anunciam os responsáveis do título, cujos projectos passam entre outras coisas pela criação de uma webtv. Até ao final do ano está ainda prevista a criação de uma revista mensal de grande informação, igualmente com noticiário regional.
Também em comunicado, a Global Media explica que esta venda lhe permitirá focar-se “nos projectos destinados a reforçar a liderança do grupo no digital e a sua internacionalização, especialmente nas geografias onde se fala português e junto das comunidades no estrangeiro”.