Taiwan perde mais um amigo para a China, o sexto sob a liderança de Tsai

El Salvador é o mais recente aliado a trocar a amizade com Taipé pelos milhões de Pequim. Isolamento não preocupa a Presidente: “Quanto mais nos reprimem, mais determinados nos sentimos para nos aproximarmos do mundo”.

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Salvadorenhos e chineses brindam à nova aliança EPA/HOW HWEE YOUNG
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Presidente Tsai está cada vez mais isolada na arena internacional EPA/RITCHIE B. TONGO
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China recebe El Salvador de braços abertos Reuters/POOL

Na lista dos (poucos) aliados de Taiwan foi riscado mais um nome: El Salvador. O pequeno Estado da América Central oficializou esta terça-feira o corte de relações diplomáticas com Taipé e a inauguração dos laços com Pequim, em mais um duro golpe nas aspirações da ilha em ser reconhecida como Estado. É já o sexto país a virar as costas a Taiwan – o terceiro no bastião taiwanês na América Latina – desde que Tsai Ing-wen chegou à presidência da ilha, há pouco mais de dois anos.

A Presidente do território reivindicado pela República Popular da China como uma província sua, “temporariamente ocupada”, está a colher as consequências de ter abdicado de uma estratégia cooperante com o princípio da existência “uma só China” – sagrado para Pequim e respeitado, ainda que com reservas, pelos antecessores de Tsai. Privilegiou uma abordagem mais próxima da autonomia e mais distante da reunificação.

Esta decisão, provocadora aos olhos da China continental, levou Xi Jinping a redobrar esforços na implementação do plano chinês de isolamento internacional de Taiwan. Para além da persistência em demandas diplomáticas para a manter Taiwan fora das principais organizações internacionais e da pressão exercida sobre empresas estrangeiras para se referirem à ilha como território chinês, foram intensificados os contactos com os 23 países que, à data da eleição de Tsai, privilegiavam a legitimidade de Taipé, em detrimento de Pequim.

Burkina-Faso, Gâmbia, São Tomé e Príncipe, Panamá, República Dominicana e, agora, El Salvador são os mais recentes membros do clube de Xi, que impõe como requisito de adesão um juramento favorável ao princípio da inalienabilidade do território chinês – com Taiwan incluída.

Para as autoridades taiwanesas, estes “contactos” de Pequim não são mais do que promessas de investimentos avultados e regalias económicas. Um tipo de competição em que Taipé se recusa a participar. “Não vamos envolver-nos na ‘diplomacia do dólar’ da China”, disse o secretário dos Negócios Estrangeiros de Taiwan, Joseph Wu, citado pelo El País, revelando que El Salvador pediu recentemente à ilha “enormes fundos” para construir um porto e que essa petição foi rejeitada devido à “inviabilidade” do negócio.

Salvadorenhos e chineses negam, no entanto, as acusações de Wu. Lu Kang, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, garantiu nesta terça-feira que os latino-americanos não impuseram “quaisquer pré-condições económicas” e esclareceu que a China está aberta a estabelecer relações diplomáticas com “qualquer país que aceite a existência de ‘uma só China’”.

Já Sánchez Cerén, Presidente de El Salvador, limitou-se a destacar as “oportunidades extraordinárias” trazidas pela sua decisão, num comunicado ao país em que elogiou profundamente o “papel importante da China” na “promoção da paz mundial e do desenvolvimento partilhado”.

A “traição” de El Salvador é um soco no estômago de Tsai, que ainda recentemente saíra dos Estados Unidos – onde fez escala no regresso de um périplo pelo Paraguai e pelo Belize – com a sensação de ter conquistado uns pontos à China, devido ao mediatismo internacional que a sua visita às instalações da NASA em Houston (Texas). Foi a primeira vez, desde a normalização as relações Pequim-Washington, em 1979, que um Presidente de Taiwan pôs um pé num edifício do Governo federal norte-americano, em visita oficial.

Sem descurar das alfinetadas à China, a mensagem da líder taiwanesa à luz da redução do número de aliados para apenas 17 países é, no entanto, de enorme confiança: “Vamos virar-nos agora para países com os mesmos valores que os nossos para lutarmos, juntos, contra o comportamento internacional cada vez mais descontrolado da China. Quanto mais nos reprimem, mais determinados nos sentimos para nos aproximarmos do mundo”.

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