Michael Cohen declara-se culpado e compromete Donald Trump em tribunal

Advogado diz que Donald Trump levou Michael Cohen a cometer um crime ao pagar o silêncio de duas mulheres que dizem ter tido relações sexuais com o Presidente dos Estados Unidos.

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LUSA/JUSTIN LANE

Michael Cohen, antigo advogado de Donald Trump, chegou na terça-feira a acordo com os procuradores federais do estado de Nova Iorque. O antigo aliado do Presidente dos Estados Unidos declarou-se culpado dos crimes de que estava acusado – fraude bancária, fuga aos impostos e violação das leis federais de campanha.

Em tribunal, Cohen admitiu ter feito pagamentos a pelo menos duas mulheres (que não nomeou) a “mando de um candidato” presidencial com quem trabalhou e que também não nomeia — mas que é Donald Trump. O antigo advogado de Trump afirmou que foi com “a coordenação e direcção de um candidato” que “orientou o pagamento do silêncio de duas mulheres” com “o principal objectivo de influenciar as eleições”. 

Apesar de em tribunal ter omitido os nomes, à saída, o seu advogado, Lanny Davis, dissipou as dúvidas e esclareceu que Cohen se referia ao Presidente norte-americano.

“Hoje, [Cohen] enfrentou o tribunal e testemunhou sob juramento que Donald Trump o levou a cometer um crime ao pagar a duas mulheres pelo seu silêncio, influenciando o resultado da eleição”, declarou o advogado de Cohen, citado pela Reuters. “Se esses pagamentos são um crime para Michael Cohen, porque não serão também um crime para Donald Trump?”, perguntou o advogado de Cohen.

De acordo com a lei eleitoral norte-americana, qualquer tipo de indemnização atribuída durante uma campanha para exercer influência numa eleição deve ser declarada. Um pagamento para silenciar alguém, no caso um possível caso extraconjugal, pode ser encarado como uma contribuição para a campanha, dizem os especialistas consultados pela Reuters.

O acordo entre o antigo advogado de Trump e os procuradores federais surge na sequência da investigação às actividades de Cohen, incluindo um negócio de licenças de táxi e os empréstimos contraídos, que somam mais de 20 milhões de dólares, e os “acordos de silêncio” celebrados com várias mulheres que disseram ter mantido relações sexuais com Trump, investigados pela possibilidade de violarem as leis federais da campanha. 

Foi Michael Cohen quem, para encobrir uma suposta relação entre o então candidato e a actriz de filmes pornográficos Stormy Daniels, admitiu, em Fevereiro, ter transferido 130 mil dólares (cerca de 105 mil euros) da sua conta pessoal para a da artista. Trump diz que nunca soube deste pagamento. O seu advogado, “Rudy” Giuliani, afirma que os pagamentos foram feitos para “poupar a família Trump à vergonha” e que não estão relacionados com a campanha.

Outrora um apoiante fiel de Trump — Cohen chegou a dizer que daria a vida pelo multimilionário —, o advogado afastou-se progressivamente do círculo de confiança do Presidente. Desde Abril, data do início das investigações, que coincidiu com uma busca do FBI aos escritórios, casa e quarto de hotel de Cohen, que a relação entre os dois começou a ficar fragilizada. Ao divulgar as gravações que fez às escondidas de conversas com Trump sobre a compra dos direitos de divulgação de uma história sobre um caso extramatrimonial com uma modelo da Playboy, Cohen rompeu definitivamente os laços com o seu cliente de longa data.

Pela proximidade de Trump, Cohen pode passar a ser uma peça fundamental para a investigação do procurador especial Robert Mueller às suspeitas de intervenção russa nas eleições presidenciais de 2016, que Trump ganhou. Por enquanto, ainda não é claro se Cohen concordou colaborar nessa investigação, escreveu na terça-feira à noite a ABC News. Mas, nos últimos meses, o ex-advogado de Trump tem-se mostrado receptivo à ideia de colaborar com as autoridades.

As novas revelações pressionam o Presidente norte-americano a poucos meses das eleições para o Congresso, em que os democratas tentarão reconquistar o controlo da Câmara dos Representantes e do Senado.

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