Morreu o director da Folha de S. Paulo
Otavio Frias Filho esteve 34 anos à frente do diário paulista, onde lançou iniciativas que renovaram o jornalismo brasileiro na década de 80. Morreu aos 61 anos.
O jornalista e escritor Otavio Frias Filho, que dirigia a Folha de S. Paulo desde 1984, e era também o director editorial do Grupo Folha, morreu esta terça-feira, aos 61 anos, no Hospital Sírio-Libanês, em S. Paulo, onde estava internado devido a um cancro do pâncreas que lhe fora diagnosticado em Setembro de 2017.
Filho do empresário Otavio Frias de Oliveira, que comprou a Folha de S. Paulo em 1962, Frias Filho começou a trabalhar no jornal aos 18 anos, em 1975, como adjunto do então director Cláudio Abramo, tendo participado no processo de renovação do título, que abriu as páginas a colunistas de várias tendências, incluindo opositores da ditadura. Uma linha pluralista e crítica que Otavio Frias Filho depois prosseguiria a partir de 1984, quando assume, aos 26 anos, a direcção da Folha.
Iniciativas então pioneiras na imprensa brasileira, como o lançamento de um Manual da Redacção, publicado pela primeira vez em 1984 e regularmente actualizado desde então, ou a nomeação de um ombudsman (provedor do leitor), em 1987, ou ainda a criação da rubrica fixa Erramos, contribuíram para consolidar o prestígio da Folha de S. Paulo como jornal de referência.
Acusado de colaboração com a repressão no início dos anos 70, o jornal assumiu desde o período final da ditadura uma postura de distanciamento crítico face aos sucessivos governos, que manteve durante os executivos de Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o que lhe valeu frequentes acusações de favorecer a oposição ao PT.
Certo é que Otavio Frias Filho deixa a Folha como o jornal brasileiro mais lido em formato digital, e o terceiro em circulação impressa, segundo dados de 2017 do Instituto Verificador de Circulação. O jornalista lega ainda um conglomerado que detém o maior portal de língua portuguesa, o UOL, e que possui outros jornais e revistas, um instituto de pesquisas de opinião, uma gráfica e uma distribuidora, entre outros negócios.
Formando em Direito, com uma pós-graduação em Ciências Sociais, Otavio Frias Filho foi também dramaturgo – várias das peças que publicou nos anos 90, incluindo Típico Romântico, Rancor ou Don Juan, foram encenadas no Brasil – e publicou ainda volumes de crónicas, reportagens e ensaios, como De Ponta Cabeça (2000), Queda Livre (2003) ou Seleção Natural (2009).
Segundo a Folha, deixa também pronto um livro infantil – A Vida É Sonho e Outras Histórias para Pensar – e uma colectânea de artigos publicados nos últimos anos.