“Made in China” – A ascensão de um império e potência económica

Xi Jinping representa a “nova era” da República Popular da China e o sonho chinês. O marasmo da “Revolução Cultural” deu lugar a estratégicos investimentos em diplomacia, armamento, investigação e inteligência artificial.

Uma das maravilhas da economia é a sua imprevisibilidade e capacidade de reinventar a cada segundo que passa. Recentemente, um relatório divulgado pela PwC apresentou as previsões de crescimento para as 32 maiores economias do mundo e os países que dominarão o planeta em 2050, colocando a China como o grande líder mundial, ao representar 20% do PIB mundial. Surpreendente? Diria que não, quer por mérito próprio, quer por desmérito dos seus rivais, que ao tentar conter a sua expansão, poderão favorece-la ainda mais.

Depois de um regime pautado pela miséria, opressão e fome, o atual presidente ambiciona tornar a China na maior referência à escala global, prosperando e legitimando o seu sistema económico e político. Fruto desse objetivo, inúmeras medidas, parcerias e planos estratégicos têm sido estruturados e implementados, seguindo um regime comunista assente em príncipios do mais puro capitalismo.

Em 2016, o gigante asiático converteu-se no segundo maior investidor do mundo com um total de 170.110 milhões de dólares, tendo um quarto desse valor (41.150 milhões) tido a União Europeia como destino. Portugal é um dos países que melhor pode testemunhar a estratégia chinesa, ao ser o segundo país europeu que mais investimento direto recebeu da China entre 2010 e 2016, tendo em conta a sua dimensão económica. A venda da EDP, REN e Fidelidade estarão ainda gravadas na memória dos portugueses ao marcar a triunfal entrada dos grandes grupos chineses – China Three Gorces, State Grid e Fosun - no mercado português. Na América Latina, o país já concedeu mais crédito que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), representa um terço de todas as aquisições nas economias latino-americanas e adquire mais de quarto de toda a exportação de produtos de extração.

Para culminar este domínio, a Rota da Seda da China, a efetivar-se, poderá ser o passo final na transformação da China como potência económica mundial. Aquele que é já um projeto antigo, ambiciona reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático. Zhang Qian foi o pioneiro desta estratégia há cerca de 2000 anos, ao ligar economicamente a China com a Ásia Central e o mundo árabe. Enquanto no passado o seu nome estava intrinsecamente associado ao principal produto exportado – seda, atualmente o objetivo é transacionar produtos de todos os tipos, desde matérias-primas a eletrónicos. Este ousado projeto incluirá 60 países e divide-se numa numa rota terreste, que ligará a China à Europa através da Ásia Central e Ocidental, e marítima, que ligará a China a outros países da Ásia, África e Europa. Para apoiar o financiamento desta iniciativa, que implica a construção de infraestruturas de transporte e comunicação, o governo chinês investiu cerca de 40 bilhões de dólares através do “Silk Road Fund, criado em 2014, e do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura.  

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Portugal é, também, parte interessada, e pode aproveitar os estímulos dados por Pequim para valorizar os seus portos, revitalizar a sua atividade marítima e renascer como importante ponto nas rotas comerciais, tirando partido da sua posição central e histórica no Oceano Atlântico.

Dada as fortes relações empresariais entre Portugal e a China, será de aproveitar os valiosos recursos, nomeadamente os portos continentais de águas profundas, caso de Sines, o posicionamento estratégico das ilhas e a Zona Económica Exlcusiva (terceira maior da União Europeia e com um pedido de extensão pendente). Adicionalmente, poderá desempenhar um papel importante no contecto energético da mobilidade marítima, ao inserir-se nas rotas de transporte e reabastecimento de gás natural liquefeito (GNL).

A China, como estrategista exímia que é, vai saber tirar o melhor partido destas condições e afirmar-se como superpotência. Aliás, já o está a fazer...Enquanto Washington abandona os seus compromissos internacionais e Trump abre mão do seu papel de líder global, a China sorrateiramente preenche essa lacuna. Xi Jinping apresenta-se como grande defensor da globalização, e mesmo na guerra de tarifas que se está a instalar, tem tentado ao máximo suportar as jogadas aguçadas de Trump; apoia veemente iniciativas em defesa do ambiente (não fosse a China um dos grandes culpados também), e promove tratados de comércio internacionais.

A China comuno-capitalista está prestes a dominar o mundo – mais que uma premonição, é uma certeza. Num futuro próximo, a etiqueta “Made in China” representará muito mais do que meros produtos produzidos a baixos custos ou de menor qualidade...O jogo está a mudar e a China vai liderar, e Portugal deverá aproveitar as oportunidades decorrentes das iniciativas chinesas.

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