Os compromissos da Direcção Editorial

Hoje como sempre, os jornais independentes precisam de uma cidadania activa e informada. Estamos conscientes do papel que nos cabe nessa relação. E garantimos aqui o nosso empenho em cumpri-lo.

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Daniel Rocha (Arquivo)

Uma das certezas da equipa que todos os dias produz e leva até si o PÚBLICO em formato de papel ou na edição online é a nossa identificação com a herança que fez deste jornal uma referência da imprensa de qualidade em Portugal. Hoje, o dia em que uma nova Direcção Editorial inicia as suas funções, é obrigatório sublinhar a valia dessa herança para garantir que, no essencial, o PÚBLICO continuará a ser o PÚBLICO. Um jornal independente de todos os poderes. Um jornal a par das mudanças e dos desafios do país. Um jornal livre, inconformista, irreverente e crítico. Um jornal empenhado em promover os valores do seu estatuto editorial, no qual se consagra o apego à democracia, o respeito pelo Estado de direito, a liberdade de expressão, a protecção das minorias, o culto da tolerância, a subscrição dos ideais da construção europeia e a certeza de que, como portugueses, fazemos parte de um mundo que nos influencia e no qual temos o dever de participar.

Sabemos que ser jornalista hoje, fazer jornalismo hoje é um desafio ainda mais difícil. O espaço de tolerância em relação às ideias e opiniões dos outros reduziu-se, entre nós como no mundo. O empenho em perceber e aceitar diferentes pontos de vista, o cimento básico de uma sociedade nacional tolerante e a cola indispensável da coexistência democrática, está em recuo. O dever de escrutinar o poder político, seja o Governo ou a oposição, dá cada vez mais lugar à produção de anátemas ou de certezas sectárias que menosprezam a exigência, a defesa do interesse público ou a factualidade verificada. A crescente propensão, muito inflacionada pelas redes sociais, de se analisar o que se publica a partir de trincheiras ideológicas, partidárias ou clubísticas estimula o vazio onde germina o populismo, a xenofobia e os radicalismos. A pós-verdade e/ou a verdade pessoal, relativa e insusceptível de questionamento, ganharam terreno. A crise da imprensa é em grande medida um espelho da crise do espaço público – mas, reconheçamo-lo, é também, e com excessiva frequência, uma das suas causas.

Pensar um jornal pressupõe uma visão e uma ideia do país. O PÚBLICO, sabemo-lo nós e reconhecem-no os leitores, defende os valores da livre iniciativa, da democracia liberal, das liberdades individuais, da fiscalização e controlo dos poderes. Assumir estas posições não implica a renúncia em acolher, divulgar e estimular visões que legitimamente as questionam. O PÚBLICO continuará a ser o lugar onde todas as opiniões cabem, excepto as que promovam valores atentatórios ao nosso estatuto editorial, sejam o racismo, a xenofobia, a homofobia ou a apologia da violência.

Dirigir um jornal nos tempos duros em que vive a imprensa (e as democracias) não é tarefa fácil. A redacção do PÚBLICO assume-se como um espaço de resistência nesse desafio. Não abdicamos da nossa edição em papel. Nem de ser o único jornal verdadeiramente nacional, com duas redacções e edições nas principais cidades do país e leitores do Minho ao Algarve, da Estremadura aos Açores. Queremos ser ainda mais um elo de união do espaço lusófono — São Paulo é com frequência a cidade onde mais se lê o PÚBLICO, depois de Lisboa e Porto. E prometemos uma edição online renovada e reforçada. Sabemos que é na Internet que o jornalismo de qualidade há-de cimentar o seu futuro. Havemos de o garantir.

Para essas apostas, contamos com a mais brilhante e empenhada equipa de jornalistas do país. Contamos também com a dedicação ao projecto do nosso accionista e com o seu compromisso em conservar a liberdade e independência editorial da redacção, que persistem desde a fundação do PÚBLICO. Contamos com o apoio crucial dos restantes departamentos da empresa. Contamos ainda com a confiança dos nossos anunciantes. E contamos, fundamentalmente, com a cumplicidade e dedicação dos leitores mais exigentes e dedicados da imprensa portuguesa: os nossos leitores. Dos que compram o jornal ou o assinam nos suportes papel ou digital. Mas também dos que nos lêem na edição online e aos quais continuaremos a apelar para que se juntem a esse grupo.

Nestes dias em que os meios dos poderes constituídos para ocultar, gerir ou branquear os factos e a verdade crescem desmesuradamente, enquanto os recursos humanos e materiais das redacções encolhem, comprar ou assinar um jornal como o PÚBLICO é um compromisso cívico em favor de uma sociedade plural e democrática. Hoje como sempre, os jornais independentes precisam de uma cidadania activa e informada. Estamos conscientes do papel que nos cabe nessa relação. E garantimos aqui o nosso empenho em cumpri-lo. 

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