Zero pede melhor fiscalização de praias com episódios de poluição
Associação ambientalista avançou que o número de praias onde os banhistas já foram impedidos de ir a banhos quase duplicou em relação ao ano passado. É preciso mais informação, fiscalização e prevenção, diz a Zero.
Ainda no início do mês de Agosto, a bandeira azul da praia do Cabo do Mundo, em Matosinhos, foi arriada e os banhos de mar desaconselhados devido às "lamas” que escorreram de um camião que as transportava da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Leça de Palmeira.
De quando em vez, situações assim acontecem, tal como descargas ilegais que arrastam poluentes por ribeiros abaixo, contaminando praias, de água doce e salgada, e fazendo com que, nalguns casos, as autoridades desaconselhem ou proíbam os veraneantes de ir a banhos. Este ano, desde o início da época balnear e até quarta-feira, tal já aconteceu em 38 praias.
As contas são da associação ambientalista Zero que concluiu que o número de praias onde a qualidade da água foi afectada duplicou em relação ao ano passado, quando 21 praias tinham sido interditas a banhos. E ainda que a associação admita que estes são problemas “relativamente diminutos e esporádicos” — metade destes episódios tiveram lugar em zonas balneares classificadas como Excelente —, alerta para a ausência de medidas de controlo em algumas praias e pede que haja uma fiscalização mais apertada e rigorosa sobre estes eventos.
“As autoridades no curto prazo até têm a atitude certa de decidir pela interdição. Mas não nos parece que em termos de informação haja uma articulação tão boa como seria desejável”, repara Francisco Ferreira, presidente da Zero. Isto porque há casos em que a poluição é visível, mas há outros casos em que os banhos são proibidos, sem prestar qualquer informação ao banhista.
No site da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), exemplifica Francisco Ferreira, consta informação sobre a interdição, mas não se especifica durante quantos dias nem o porquê. “Podia-se melhorar a informação e a justificação associada a cada uma das praias”, insiste.
Actualmente estão identificadas 608 praias (mais sete do que no ano passado), sendo que 480 são costeiras ou de transição e 128 interiores, isto é, de água doce. Face ao ano passado, o número de praias com problemas na qualidade da água quase duplicou (subiu de 21 para 38), tendo origem em descargas ilegais ou na poluição difusa, decorrente de chuvadas intensas e da presença de linhas de água que transportam águas residuais contaminadas para as praias.
A Zero insiste que deve ser feita uma maior fiscalização e prevenção e que devem ser tomadas medidas de médio e longo prazo. A praia do Inatel e dos Alemães, ambas em Albufeira, “têm sistematicamente problemas sempre que há uma chuvada ou que há problemas nas ETAR mais próximas”, aponta Francisco Ferreira.
Nestas praias do Algarve e na praia fluvial de Melres, no rio Douro, em Gondomar, os problemas na água tendem a persistir. Este ano, três análises sugeriram o desaconselhamento ou interdição de banhos.
Francisco Ferreira acredita que a gestão das bacias hidrográficas para garantir melhor qualidade das águas balneares está a falhar e que a APA deveria apostar mais na fiscalização e na aplicação de “medidas mais profundas” de prevenção, para que se consiga evitar emissões destas cargas de poluentes.
Mais poluição em praias fluviais
A maioria destas praias esteve entre um a três dias interdita pelos delegados regionais de Saúde: Ponte da Barca - Rio Lima, Praia d’El Rei em Óbidos e Pintadinho em Lagoa. Além dos que constam na informação disponibilizada da Zero, houve outros casos de interdição de praias, como a da Vieira na Marinha Grande, devido a um episódio de poluição no rio Lis.
Já os banhos na praia fluvial do Areinho, em Arouca, estão proibidos desde o início da época balnear por risco de contaminação por salmonela.
Segundo a associação, a maioria dos casos ocorre em zonas balneares de água doce (20 praias), ainda que haja “muito menos praias interiores do que costeiras e “uma maior tolerância” em relação aos indicadores de poluição, explica Francisco Ferreira. Isso pode justificar-se pelo facto de estarem "mais susceptíveis a descargas ou à falta de tratamento de águas residuais”.
“É [preciso] identificar as causas, perceber se é um problema sistemático que tem de ser resolvido, porque é que não há tratamentos de águas residuais, porque é que há uma fonte de poluição próxima, se é uma descarga ilegal, se é um problema de poluição difusa. E depois procurar resolver”, propõe o responsável, para quem a APA e a Inspecção Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território têm “um papel decisivo”.
A avaliação da ZERO foi feita a partir dos resultados relativos à qualidade das águas na presente época balnear que estão disponíveis para consulta no Sistema Nacional de Recursos Hídricos, tutelado pela APA. Foram depois comparados com a informação registada no ano passado, no mesmo período de tempo. A Zero ressalva ainda que nenhuma das praias que foram interditas ou desaconselhadas a banhos integra a lista das 44 zonas balneares que a associação classificou como “praia ZERO”, ou seja, "onde não foi detectada qualquer contaminação nas análises efectuadas ao longo das três últimas épocas balneares".