A engenheira que saltou para os campos de ervas aromáticas

Se deixar Lisboa para investir no mundo rural já é pouco usual, o que dizer de quem chega a número um do sector ao mesmo tempo que gera uma família numerosa? Rita Guerreiro deu uma cambalhota na sua vida e caiu de pé

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A exploração agrícola de Rita Guerreiro é uma das que tem ajudado a mudar a realidade económica da zona de Palmela DR

Em cinco anos, a empresa que Rita Guerreiro, de 35 anos, criou com a família alcançou o estatuto de maior produtor nacional de ervas aromáticas, e exporta tudo para o norte da Europa.

A engenheira do Ambiente, que era responsável pela qualidade numa fábrica de embalagens para medicamentos, deixou o emprego, em Lisboa, em 2013, para fundar, com o pai e os irmãos, a ‘Aroma das Faias”, uma empresa de agricultura biológica, localizada no Forninho, zona rural do Poceirão, no concelho de Palmela.

“Chegou uma altura em que disse que não podia ser porque já não suportava ir para Lisboa todos os dias, perder horas de vida no trânsito”, conta a agora agricultora.

O investimento, de 400 mil euros, contou com apoio de financiamento comunitário e desde então os 12 hectares de terreno têm vindo a produzir cada vez mais quantidade de ervas aromáticas, como lúcia-lima, cidreira, hortelã, tomilho e stevia.

À medida que as técnicas, não só de cultivo mas também de secagem das ervas, foram evoluindo, as quantidades aumentaram. No ano passado a propriedade vendeu 25 toneladas de produto, já seco, e este ano deve crescer 30%. A capacidade instalada é de 35 toneladas por ano.

Estes resultados fazem já desta produção a maior do país, num sector em que a média por produtor não ultrapassa as seis toneladas. E a quantidade nem é o mais importante. Segundo Rita Guerreiro, o que os clientes procuram, principalmente, é a qualidade.

A quinta trabalha, exclusivamente, com métodos biológicos, procurando uma actividade ambientalmente sustentada que passa também pela aposta na energia solar e na poupança de água, através da rega gota-a-gota controlada electronicamente.

Uma preocupação que apura a qualidade e que é valorizada pelo mercado.

Os importadores, sobretudo da Alemanha, mas também de França e um pouco de Espanha, são os fabricantes de produtos farmacêuticos, cosméticos e alimentares. Preferem as ervas portuguesas, ainda que um pouco mais caras, do que as de outras geografias, como, por exemplo de Marrocos, onde a produção é mais maciça.

O momento que o país e o mundo atravessam é também um factor importante para o sucesso do produto português. “Portugal está na moda e as ervas aromáticas também, pelo que há mais procura desta matéria-prima na Europa e a origem portuguesa tem maior cotação”, explica Rita.

Entusiasmada com a nova vida no campo, a engenheira revela estar a adorar a experiência de agricultora. “Decidi agarrar nisto e é espectacular”, disse ao PÚBLICO. E a intensa dedicação a um projecto recém-nascido não a impediu de querer ter mais filhos. Já tinha uma criança, agora com cinco anos, e decidiu ter mais, duas meninas, ainda bebés. “Agora somos família numerosa”, brinca, sempre de sorriso nos lábios.

Os resultados do negócio acabaram por despertar o interesse de um gigante, do grupo Nabeiro, dos Cafés Delta, que acordou com a ‘Aroma das Faias’ a compra, em exclusivo, de toda a produção. O destino continua a ser a exportação, e basicamente para os mesmos países, mas a jovem empresa deixou de estar exposta às “oscilações de preços”.

Chegada ao sector há relativamente pouco tempo, Rita começa a constatar uma mudança de mentalidades entre os agricultores portugueses.

“Tenho sentido que na agricultura não há muita partilha, que existem muitas ‘quintinhas’, pouca disponibilidade para fazer em comum ou para partilhar meios, como tractores, secadores ou até conhecimento. Isto nota-se mais nos mais antigos. Os jovens agricultores, da minha geração, já têm outra filosofia, somos diferentes da ‘velha guarda’”.

As perspectivas são de crescimento da actividade, com Rita Guerreiro a apontar para um reforço do negócio por via do mercado nacional. “Começa a haver muita procura de lojas bio, cujo número está claramente a aumentar em Portugal, e estamos a desenvolver a marca e produtos específicos para esse segmento alimentar, com bolachas e chás de ervas aromáticas”, diz.

A exploração agrícola de Rita Guerreiro é uma das que têm vindo a mudar a realidade económica da zona de Palmela, no coração rural da península de Setúbal. Nos últimos anos há cada vez mais projectos modernos, alguns dos quais inovadores, como são também o cultivo de framboesa e outros produtos vermelhos que contam já com várias empresas e algumas delas com capacidade para se unirem e trabalharem em conjunto.

O presidente da câmara municipal de Palmela, Álvaro Bolseiro Amaro, destaca a crescente atractividade do território e do sector. “Grande parte das pessoas que investem hoje em explorações agrícolas nestes territórios não tem formação académica nesta área. Há por aqui psicólogos e outras coisas”, diz o autarca ao PÚBLICO.

Os apoios públicos ao desenvolvimento deste género de investimentos têm sido significativos na região. Segundo a Associação para o Desenvolvimento Rural da Península de Setúbal (ADREPES), que gere estes incentivos, as candidaturas têm aumentado substancialmente. Num primeiro concurso houve 41 projectos de “pequenos investimentos na exploração agrícola” e na segunda vaga aumentou para 57.

As candidaturas ao segundo concurso, segundo a ADREPES, são maioritariamente dos concelhos de Palmela, Montijo, Setúbal, Sesimbra e Alcochete (por esta ordem).

“Muitos projectos são para viticultura mas temos vários para produção de hortícolas, fruta, ovinos, pequenos frutos e bagas, plantas aromáticas e medicinais”, disse Isabel Conceição, presidente da associação, ao PÚBLICO.

De acordo com esta responsável, se todas as candidaturas fossem aprovadas, o investimento total seria de 1,5 milhões, com os incentivos a chegarem ao meio milhão de euros.

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