Regressos e promessas de um festival que ainda respira música
A 26.ª edição do Vodafone Paredes de Coura arranca na próxima quinta-feira. Durante quatro dias a praia fluvial do Taboão volta a ser palco para meia centena de bandas. Estas são algumas das que por lá vão passar.
No final do ano passado, ao anunciar o primeiro cabeça de cartaz, a organização do Vodafone Paredes de Coura lançava um trunfo que elevou as expectativas para a 26.ª edição. A islandesa Björk apresentaria o seu mais recente trabalho, Utopia, no célebre anfiteatro natural na noite de encerramento. Mas como aconteceu em 2012, quando esteve agendada para o Nos Primavera Sound, Björk passou uma rasteira e em Fevereiro voltava a adiar a quarta passagem por Portugal. No mesmo dia, era anunciado um dos regressos mais esperados de uma banda que se mostrou a Portugal pela primeira vez no verde da praia fluvial do Taboão, e recuperava-se a esperança de que não seria este ano que a organização iria facilitar no cartaz.
Os Arcade Fire voltam ao sítio onde garantiram o lusco-fusco mais memorável dos quase 26 anos da história do festival. Ainda no início deste ano passaram por um Campo Pequeno esgotado, mas dali não dava para ver aquele pôr-do-sol de 2005, sonorizado pelos canadianos poucos meses após o lançamento do seu álbum de estreia. Era ali que tinham de regressar.
Vão fazê-lo precisamente 13 anos e um dia depois, no fecho desta 26.ª edição, a 18 de Agosto e seguramente noutro horário e com outro estatuto, passando o testemunho num festival que é um espaço que se abre a revelações que depois se podem transformar em consagrados. Paredes de Coura ainda é feito de música, com nomes estabelecidos e uma porta aberta para descobertas, como a que aconteceu naquele ano. Quis o destino ou outras vias que escapam à sorte que em 2018 fossem os principais responsáveis pela lotação esgotada do derradeiro dia do festival. O último álbum, Everything Now, está longe da genialidade da estreia, Funeral, mas metade do trabalho que terão para caírem nas graças do público já está facilitado pelo regresso.
E é de retornos, de bandas que já garantiram o seu espaço no mainstream e de novas promessas que mais uma vez se faz o alinhamento de quatro dias, que este ano se divide entre 15 e 18 de Agosto.
Rock'n'roll made in Oceania
Decididos a bater recordes guardados por músicos como Frank Zappa, os King Gizzard & the Lizard Wizard regressam a Coura, onde tocaram em 2016, com uma promessa, feita no mesmo ano, cumprida com sucesso. Ainda longe do número de edições sobre-humano do guitarrista que liderou os Mothers of Invention, os australianos conseguiram atingir a meta proposta ao editarem cinco álbuns em apenas um ano. Reservaram 2017 para o fazer. No dia de arranque, a mescla rock’n’roll de mil cores do colectivo de Melbourne dificilmente será relegada para outro lugar que não seja o de banda da noite.
Na mesmo dia a curiosidade levará alguns a tentar perceber se a atmosfera dançável dos The Blaze, que na sua génese vive também da comunhão entre som e imagem, funcionará em palco. Caberá aos primos Guillaume e Jonathan Alric a tarefa de transferir com sucesso para o palco algumas das composições que vivem apoiadas nos videoclips que os próprios realizam, como Territory, Heaven ou Virile.
Ainda no plano das possíveis revelações, dividem o alinhamento do primeiro dia com Marlon Williams, “vizinho” dos King Gizzard, que da Nova Zelândia trará o seu indie/folk rock pintado a country e soul. Da ala nacional ouvir-se-ão as propostas dos Grandfather's House, Linda Martini e Conan Osiris, este último a garantir um lugar na edição deste ano talvez mais para satisfazer a curiosidade mórbida dos que tentam perceber o segredo da sua ascensão meteórica e não tanto pela genialidade das composições.
Do indie-folk dos Fleet Foxes ao psych-garage por revelar
O segundo dia é encabeçado pelos Fleet Foxes, dois anos após a passagem destes norte-americanos pelo Nos Alive, onde apresentaram o mais que inspirado Crack-up, editado após um pequeno hiato forçado pela necessidade de uma fuga aos holofotes por parte do vocalista, guitarrista e compositor Robin Pecknold. Dificilmente encontrariam melhor auditório ao ar livre para revisitarem o último álbum do que aquele que os espera no Taboão.
Já com dois palcos a funcionar intercaladamente, as movimentações entre ambos será feita para também espreitar a soul funk setentista dos londrinos Jungle, o pós-punk promissor dos britânicos Shame ou o psych-garage dos californianos The Mystery Lights, que por cá já passaram em palcos mais pequenos de Lisboa e Porto. De regresso a uma casa que conhece bem, The Legendary Tigerman apresenta nesse dia o novo Misfit.
Ao terceiro dia ressuscitam os Slowdive que precisaram de 22 anos para lançarem o sucessor de Pygmalion. Sem novo registo desde 1995, tinham estado no Nos Primavera Sound em 2014 e em Paredes de Coura em 2015. No início deste ano passaram por Lisboa e Porto para apresentarem o novo álbum homónimo.
Veteranos do rock em dia de grime
A banda de Neil Halstead e Rachel Goswell é um dos pilares do shoegaze e ajudou a criar as fundações do dream pop. No mesmo dia terá a concorrência dos novatos DIIV, que se movem dentro do mesmo espectro e piscam o olho ao lado mais melancólico da Seattle dos anos 1990, por onde andavam uns Walkabouts ou uns Screaming Trees - mas sem a densidade e o grave do vocalista Mark Lanegan, que no último dia se juntará aos Dead Combo num palco que já pisou para dar voz ao tema que gravou no último trabalho da banda de Tó Trips e Pedro Gonçalves, Odeon Hotel.
Da ala mais veterana, tocam ainda os ...And You Will Know Us By The Trail of Dead, a comemorarem este ano duas décadas desde o lançamento do primeiro álbum homónimo. Não trazem nada de novo na bagagem. O último registo dos texanos, IX, é de 2014.
A meio do mês passado algumas Pussy Riot, banda e grupo activista declaradamente anti-Putin, foram mais uma vez condenadas a uma pena de prisão, desta feita na sequência da invasão de campo que protagonizaram na final do mundial. Quatro activistas foram condenadas a 15 dias de cadeia, mas as Pussy Riot vêm a tempo de poderem estar em Paredes de Coura. Esse dia também está reservado para o grime de Skepta, vencedor de um Mercury Prize, que com artistas como Dizzee Rascal, Kano ou Lethal Bizzle segura o estandarte do género nascido e propagado no início do século nas rádios piratas londrinas.
O lugar de proa do último dia já está reservado para os Arcade Fire, mas há motivos suficientes para considerar a hipótese de serem encontrados outros nomes que possam vir a figurar no quadro de honra de Paredes de Coura.
Os nova-iorquinos Big Thief reúnem nos dois álbuns de estúdio, Masterpiece (2016) e Capacity (2017), argumentos mais do que válidos para que se ouça e veja o indie folk que ali vão entregar. A libanesa Yasmine Hamdan esconde segredos na sua electrónica carregada de influências do Médio Oriente que poderão deixar marcas - em Outubro do ano passado desvendou parte deles em concerto no Teatro da Trindade. Há ainda a soul com cadência rítmica blues de Curtis Harding que deixa também em aberto essa possibilidade rumo à imortalidade.
Na edição anterior foram batidos todos os recordes no que toca a número de público. Passaram por lá 105 mil pessoas. Até ao momento, para esta edição, só a última noite é que está esgotada. Façam-se as contas no fim. Por agora contam-se os dias que faltam até se ouvir o primeiro acorde.