Caminhada pelos trilhos da raia homenageia antigos contrabandistas em Chaves
O objectivo é homenagear o contrabandista raiano e dar a conhecer uma actividade secular de comércio ilegal.
Cerca de 150 "contrabandistas" vão atravessar a fronteira pela calada da noite do dia 14, partindo de Vilarelho da Raia, Chaves, numa recriação desta actividade ilegal que serviu de subsistência para as famílias raianas durante décadas, contou a organização.
A caminhada nocturna denominada "Pelos trilhos do contrabando" é organizada pela população local, com o apoio do Centro Social, Cultural e Desportivo de Vilarelho da Raia e do Ayuntamiento de Oimbra, em Espanha.
O objectivo é, segundo José Carlos Silva, da organização do evento, "homenagear o contrabandista raiano" e dar a conhecer "uma actividade secular de comércio ilegal, que muito caracterizou o modo de vida dos dois lados da fronteira.
Era uma vida dupla a destes homens e mulheres, a maior parte agricultores que à noite trilhavam as serras e atravessavam rios com a mercadoria às costas num jogo de escondidas com os guardas-fiscais e com os mais temíveis carabineiros espanhóis.
E, arriscando a liberdade por uma vida melhor, passavam pela fronteira todo o tipo de produtos, desde os bens alimentares como café ou bacalhau, ao volfrâmio ou até carros.
Em Vilarelho da Raia estas vivências do passado não se escondem.
"Esta era a aldeia que tinha mais contrabando aqui no concelho de Chaves e a capital do contrabando em Portugal era Chaves. Na nossa aldeia quase todos faziam contrabando, até o padre de vez em quando fazia contrabando", afirmou José Carlos Silva.
No dia 14, os visitantes transformados em contrabandistas vão ser separados em grupos e entregues a guias, todos eles ex-contrabandistas, que vão repetir os trajectos que faziam antigamente, com o fardo às costas e a esconderem-se dos guardas portugueses e espanhóis.
Pelo caminho estarão espalhados os vigias, haverá senhas e contra-senhas, guardas-fiscais e carabineiros.
O trajecto far-se-á em silêncio, escondidos na noite, e só depois, já no regresso, é que os antigos contrabandistas vão partilhar memórias e vivências.
"Para recriar o contrabando é indispensável a emoção, a aventura, a magia, o medo e o suspense. Para o efeito, o ambiente circundante tem de ser animado e improvisado através dos recursos disponíveis, sem que, a verdade das vivências seja deturpada", referiu a organização.
O passeio nocturno é realizado apenas uma vez por ano em Vilarelho da Raia, mas a rota do contrabando foi já transformada num programa turístico que é feito durante o dia, para grupos de visitantes.