Este santo não converte ninguém
Opulência de meios ao serviço do Bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus.
Estranhíssimo objecto, este, um biopic apologético, para não dizer hagiográfico, do Bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus – que é também produtor do filme, por via da Record Filmes, subsidiária da TV Record de que é proprietário.
Auto-glorificação por interpostas pessoas (ou nem tantas assim, visto que o argumento se baseia na autobiografia de Macedo), Nada a Perder é quase grotesco na maneira como a opulência de meios e de valores de produção é posta ao serviço da biografia de um “mártir” que, no entanto, tem os recursos suficientes para promover uma elegia pelo seu “martírio”: da prisão em 1992 passamos à história da vida, da infância difícil (claro), do self-made man à força de determinação e muita fé (claro), da queda em desgraça por acção de terceiros invejosos (um conluio entre o Estado brasileiro e a alta hierarquia da Igreja Católica).
Às vezes pretende ter o tom épico dos retratos de figuras “empreendedoras” que o cinema americano já soube fazer – em versão dependente de uma maneira de fazer cinema que é mais televisão, telefilme de luxo. E depois falta-lhe a amoralidade (em vez da “imoralidade”), porque o olhar sobre a personagem é desprovido de ambiguidade ou zonas de sombra. É um santo, o filme existe para os que já vêem nele um santo, é duvidoso que converta alguém.