Ex-líderes da JSD preferiam que Pedro Duarte tivesse esperado
Qualidades políticas à parte, Pedro Duarte perdeu a paciência com Rui Rio cedo de mais. É o que pensam outros dois ex-líderes da JSD.
Pedro Duarte não esperou 100 dias. Esperou 170 desde o congresso do PSD ou 202 desde as eleições internas no partido. No primeiro sábado de Agosto, assumiu-se como o primeiro candidato à sucessão de Rui Rio na liderança do PSD, quando a questão se colocar. “Tão cedo quanto possível”, disse o ex-líder da JSD, o partido “deve mudar de estratégia”. Contactados pelo PÚBLICO, dois antigos presidentes da "jota" reconhecem qualidades políticas ao seu antecessor, mas entendem que o seu “tão cedo quanto possível” pode ter surgido cedo de mais.
“A disponibilidade manifestada por Pedro Duarte para disputar a liderança do partido revela a enorme vitalidade do PSD, por um lado, o que é positivo, mas não deixa de ser surpreendente, uma vez que foram disputadas eleições internas há pouco mais de seis meses e, nessa ocasião, não se vislumbrou essa disponibilidade”, disse ao PÚBLICO Pedro Rodrigues, que liderou a JSD entre 2007 e 2010.
Jorge Nuno de Sá, que presidiu à mesma estrutura entre 2002 e 2005, também entende que, “sendo um activo importante do partido, com leitura política e instinto como poucos, Pedro Duarte soube interpretar os sinais dados pelo afastamento de Pedro Santana Lopes e pelos percalços que podem surgir no caminho de Luís Montenegro e percebeu que havia um espaço a ocupar”.
Mesmo sabendo que o posicionamento de Pedro Duarte não “é para agora nem para Setembro, mas sim para depois das legislativas de 2019”, Jorge Nuno de Sá reconhece que não é, ainda, tempo para disputar a liderança por ter havido eleições recentes. “Não ponho em causa a qualidade da pessoa, mas o timing”, assume ao PÚBLICO o ex-deputado que tem a militância suspensa desde 2017.
As palavras do homem que dirigiu a campanha de Marcelo Rebelo de Sousa foram proferidas ao Expresso, tiveram honra de primeira página e animaram a silly season. Jorge Nuno de Sá diz também que ajudaram a criar uma crise quase artificial, contribuindo para que a direcção de Rui Rio se tornasse numa das mais acossadas de sempre. Já Pedro Rodrigues defende que, para ser mais do que um “exercício típico da silly season, não pode deixar de ser acompanhado de uma clara explicitação de como esse debate deve ser feito e de o que verdadeiramente alternativo tem para se apresentar.”
Para Rodrigues, que lidera o movimento Portugal Não Pode Esperar, o partido está neste momento a discutir “uma importante revisão dos seus estatutos, que pode constituir uma decisiva oportunidade para que o partido se modernize, se aproxime dos cidadãos e dos militantes”, e, por essa razão, os esforços no que diz respeito às discussões sobre assuntos internos “devem ser centrados nessa matéria” e não em qualquer outra.
“Assim que o partido aprove os seus novos estatutos no próximo dia 12 de Setembro haverá com certeza oportunidade para perceber o sentido que esta liderança tomará e tirar conclusões sobre a sua capacidade para apresentar uma alternativa mobilizadora na sociedade portuguesa”, diz, acrescentado que nessa altura estará ele próprio “disponível para participar seriamente na construção de uma alternativa para Portugal que permita ao PSD voltar a conquistar a confiança da maioria do eleitorado e libertar o país desta maioria de esquerda que continua a manter Portugal preso a um passado sem esperança...”
Outros ex-presidentes da JSD (e também a actual líder) foram questionados sobre a futura candidatura de Pedro Duarte à liderança do PSD, mas preferiram não prestar declarações. Mas Pedro Rodrigues ainda acrescentou, quando questionado sobre se acredita que podem aparecer outras alternativas vindas das fileiras da JSD (ex-líderes que possam disponibilizar-se): “O futuro a Deus pertence!”