O espaço é maior, mais claro, com janelas largas que dão para a Rua de Entreparedes, mas, de resto, os clientes habituais da Cervejaria Gazela não vão dar por diferenças no novo espaço que a casa abriu. Praticamente em frente um ao outro, com a Praça da Batalha pelo meio, os dois espaços partilham os famosos cachorrinhos, acompanhados de batatas fritas e um fino gelado, mas a casa nova, que abriu esta segunda-feira, tem espaço suficiente para comportar um pouco mais: ali há francesinha e o caldo verde deve estar também para chegar. Tudo um pouco mais à larga.
O conceito é o mesmo: o balcão em U voltado para a azáfama dos funcionários que não largam os grelhadores de onde saem, uns atrás dos outros, os famosos cachorrinhos; a parede decorada com fotografias de clientes ilustres, com o já falecido chef Anthony Bourdain a sobressair da composição.
O destaque aparece também nas palavras de Américo Pinto, proprietário do espaço. A clientela da tradicional casa do centro do Porto, aberta em 1962, “aumentou muito desde a chegada do Anthony”, explica. Em Fevereiro, o chef provou os cachorrinhos da Gazela, quando esteve no Porto a filmar um episódio do seu programa Parts Unknown. Desde então, a diferença para a casa situada junto ao Teatro Nacional de São João, na Travessa do Cimo de Vila, foi “abismal”, diz Américo Pinto.
Até aí, o espaço apertado da casa original, onde os clientes do balcão central quase tocam nas costas de quem se arruma nas bancadas presas nas paredes, chegava - e fazia até parte da experiência de ir à Gazela. Depois de Bourdain e do número de turistas que procuraram o cachorrinho estreito e longo, cortado em pequenos pedaços, as coisas mudaram. “O espaço começou a ser curto. Exigia-se ter mais condições para os clientes”, diz Américo Pinto.
A ideia inicial era ampliar a casa-mãe, mas o projecto acabou por não ser possível e, por isso, foi preciso encontrar um outro local para abrir uma segunda Gazela. A solução acabaria por surgir bem perto, na Rua de Entreparedes, no número 8, mesmo a chegar à Praça da Batalha, numa antiga churrasqueira que tinha fechado as portas. O espaço foi todo renovado, desde o conceito do interior à estrutura eléctrica, mas a razão para ir à Gazela – a sua comida – continua intacta. “Trouxe a Gazela para aqui”, garante Américo Pinto, e basta saborear o primeiro pedaço de cachorrinho para ver que assim é.
Mas, com mais espaço e outras condições ao nível da cozinha, decidiu-se arriscar um pouco mais e juntar à ementa outra iguaria tradicional da cidade que, até agora, não entrara na Gazela: a francesinha. Feita com pão bijou (não confundir com pequeno) faz agora companhia aos cachorrinhos e aos outros elementos da carta da casa, menos famosos, como os pregos e as omeletes.
No primeiro dia com as portas abertas ao público, os funcionários estavam já tão atarefados na Gazela Entreparedes como estariam no espaço original. E mesmo com alguma demora e confusão típicas do arranque de um espaço novo – alguns utensílios ostentavam ainda a etiqueta do preço colada –, ninguém desistia de esperar pela sua vez e os cachorrinhos (aos pares, porque um só nunca chega) continuavam a ser a estrela nos pratos de quem ocupava todos os espaços vazios dentro e fora da cervejaria, num pequeno balcão que aí existe. Poderia haver curiosos de primeira viagem, mas a maior parte, como se percebia pelo aperto de mão oferecido pelos funcionários aos velhos conhecidos, eram clientes habituais.
Agora, turistas e locais podem escolher entre as duas Gazelas para almoçar. Na nova, onde tudo é maior, há também um pouco mais de tempo para experimentar as especialidades da casa. Os dois espaços fecham ao domingo, mas enquanto a Gazela original encerra portas ao sábado a partir das 17h30, na Rua de Entreparedes, nesse dia, ainda se pode jantar.