“Confusão de notícias verdadeiras e falsas” levou à renúncia de Robles
Catarina Martins explicou aos jornalistas em Belém porque é que o BE começou por segurar o vereador em Lisboa e depois o deixou sair, por sua vontade.
Foi a “confusão criada entre notícias verdadeiras, legítimas, e notícias falsas, com agendas políticas de ataque ao Bloco” que criou “um ruído” e “uma situação pública que não permitia fazer aquilo que é o trabalho que o BE deve fazer, na luta pelo direito à habitação que está sob ataque no país”.
A coordenadora do Bloco de Esquerda estava preparada para responder a todas as perguntas sobre o caso Ricardo Robles, ainda que respondesse da mesma maneira a perguntas diferentes. À saída da reunião com o Presidente da República, as negociações sobre o Orçamento do Estado foram quase uma nota de rodapé nas longas explicações que Catarina Martins fez questão de dar aos jornalistas sobre o que levou o BE a começar por segurar o vereador de Lisboa e três dias depois deixá-lo sair dos cargos concelhios.
No início, era a lisura do processo. Na sexta-feira, a avaliação do partido e do próprio vereador fundamentaram-se nestes argumentos essenciais: “Não existiu nenhuma ilegalidade, não existiu nenhum aproveitamento do cargo e Ricardo Robles comportou-se de forma eticamente irrepreensível perante os inquilinos”. Sim, é verdade que a “havia uma opção do Ricardo e da sua família que contrariava aquilo que seriam os princípios do Bloco”, reconheceu Catarina Martins, referindo-se à decisão de venda para arrendamento local, logo atalhando ao dizer que “foi travada essa opção antes de ser tomada” e noticiada. Perante isso, “achamos que o Ricardo continuava a ter as condições para continuar a exercer o seu cargo”.
O que mudou, então, de sexta para segunda-feira, dia em que Robles renunciou ao cargo? “Uma catadupa de notícias” e “a confusão que se gerou entre notícias reais e noticias falsas” que dificultavam “as circunstâncias normais de desempenho do cargo e levantavam um problema ao trabalho do BE”, explicou Catarina. “O Ricardo fez o que devia para proteger esse trabalho”, “protegeu o partido e as suas lutas e pediu a sua demissão”.
A coordenadora do Bloco rodeou-se de cuidados ao apontar à comunicação social a responsabilidade da situação, não fosse parecer igual a outros políticos num processo de vitimização. “Eu tenho um enorme respeito pelo escrutínio que é feito de todos os titulares de cargos políticos, em Portugal há escrutínio a menos e [este] é bem-vindo, também sobre os dirigentes do BE”, começou por dizer.
“Mas a par de trabalho bem feito, houve também uma agenda política de instrumentalização, com reprodução de notícias falsas que nunca chegaram a ser desmentidas e que criaram circunstâncias que [levaram Robles] à decisão de renúncia do cargo”, concluiu.
Catarina Martins não quis responder directamente às perguntas sobre se este caso afecta a credibilidade do Bloco ou se se arrepende das declarações feitas no sábado, nem sobre qualquer divisão interna no partido. Mas já não se escusou a dizer o que pensa sobre a frase dita por Jerónimo de Sousa na véspera, em comentário ao caso. “Fazer política para servir os outros, não para me servir a mim” é, para a líder do BE, “uma frase muito justa, muito certa, com que eu concordo em absoluto, é uma máxima a cumprir por todos os que fazem serviços públicos e que o Bloco de Esquerda seguramente também”.
Quem não concorda totalmente com Jerónimo de Sousa é Rui Rio: “O que Jerónimo disse aqui foi ‘quem não deve não teme’ e eu não acho que seja assim, pois hoje em dia, no quadro que nós temos, mesmo quem não deve tem de temer. De hoje para amanhã pode acontecer qualquer coisa em que verificamos que, mais uma vez, mesmo quem não deve tem de temer”.
Também Carlos César escolheu uma frase forte para comentar o caso Robles: “Não temos comentários a fazer sobre situações de âmbito pessoal que o BE resolveu como entendeu e, se ocorrerem divisões no BE, nós esperamos que essas divisões sejam resolvidas a bem de um partido que dá um contributo muito útil à democracia”.