Um Presidente menos optimista toma o pulso aos partidos sobre a legislatura

Marcelo recebe os líderes partidários segunda e terça-feira para perceber como vão as negociações do OE num momento em que está preocupado com a conjuntura europeia e internacional

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O Presidente da República recebe os partidos com assento parlamentar Nuno Ferreira Santos

É já uma tradição, como várias outras que instituiu. O Presidente da República recebe segunda e terça-feira os partidos com assento parlamentar antes das férias de Verão para tomar o pulso à estabilidade governativa, perceber como estão as negociações do Orçamento do Estado para o último ano das legislativas e fazer uma análise da situação política a curto e a médio prazo. Mas é um Marcelo Rebelo e Sousa mais apreensivo aquele que hoje recebe os líderes partidários e parlamentares, não tanto com as questões internas, mas sobretudo com a conjuntura internacional.

Foi o próprio chefe de Estado quem o revelou, há pouco mais de 15 dias, no habitual almoço de fim de sessão legislativa com os líderes parlamentares e figuras de topo da Assembleia da República – presidente, vice-presidentes e secretários da Mesa. Na altura do brinde, Marcelo fez observações marcadamente preocupadas com a evolução da conjuntura internacional, apurou o PÚBLICO.

Falou em concreto do esfarelamento da União Europeia, a tensão em torno da questão dos refugiados e migrações, a apreensão com o crescimento exponencial da extrema-direita que pode ter reflexos na composição das instâncias europeias depois das eleições para o Parlamento Europeu da Primavera, mas também com o novo papel dos Estados Unidos da América no contexto mundial e a desestabilização daí decorrente.

A mensagem para todos os partidos foi no sentido de que vêm aí dificuldades acrescidas a nível internacional, pelo que é necessária prudência. “Não esperem facilidades”, terá mesmo dito aos presentes, deixando votos de que, na política interna, se mantenha a estabilidade até ao fim da legislatura, com um Orçamento aprovado pacificamente e sustentável perante adversidades externas.

O menor optimismo de Marcelo por esta altura é, no entanto, equilibrado por uma convicção crescente de que o último OE da legislatura será aprovado “sem problema”, como disse em Marvão há pouco mais de uma semana. A sua convicção virá da hipótese de o PSD segurar o Governo, abstendo-se na votação do OE, caso algum dos partidos da esquerda roa a corda, apesar deste cenário ser remoto.

Mas o chefe de Estado responsabiliza sobretudo a esquerda pela aprovação das contas públicas, como tão claro deixou no discurso de Junho nos 184 anos da Confederação das Câmaras de Comércio e Indústria: “O óbvio é que a actual fórmula governativa vote o Orçamento do Estado, assim mostrando que é capaz de durar uma legislatura e de se constituir como uma das soluções alternativas sólidas para Portugal”.

Nestas conversas regulares com os partidos – recebe-os pelo menos duas vezes por ano e outras tantas oferece almoços aos líderes parlamentares, além de outras ocasiões formais e informais -, o Presidente da República começa por fazer uma análise inicial e depois pede a avaliação dos convidados sobre a conjuntura política. E a conversa proporciona sempre troca de impressões sobre questões concretas, colocadas tanto pelo chefe de Estado como pelos partidos. Inevitáveis serão os temas relacionados com os serviços públicos, em particular saúde e educação, pela desestabilização social que representam e pelas implicações orçamentais que têm.

Outros assuntos deverão também vir à baila, como as preocupações com o crescimento económico, os incêndios e Tancos, para mais quando o CDS pondera vir a pedir uma comissão de inquérito ao desaparecimento de material militar caso não haja suficientes explicações pelo Governo e Forças Armadas. Da parte dos partidos de esquerda, é expectável que levantem questões laborais e de segurança social, como as longas carreiras contributivas.

O PSD é o partido que leva a Belém a maior representação: além do líder, Rui Rio, estarão presentes Elina Fraga, David Justino, José Silvano e Fernando Negrão. Esta será a quinta deslocação oficial de Rio ao palácio presidencial desde que foi eleito, além de outros encontros privados que já teve com Marcelo.

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