Vitória no Europeu sub-19 não garante carreira de topo aos campeões
A última vez que Portugal tinha vencido um Campeonato da Europa no derradeiro escalão do futebol de formação foi em 1999. Dos 18 jogadores que ganharam o título em 1999, apenas seis chegaram à selecção principal portuguesa.
Após 19 dias de competição, um grupo de jovens talentosos escreveu no passado domingo na Finlândia mais uma página de ouro para o futebol nacional. A vitória na final foi sofrida, mas justa. Os melhores marcadores da prova foram portugueses: Jota e Trincão, ambos com cinco golos. Pela primeira vez, a mesma geração conquistou um Europeu de sub-17 e de sub-19. O feito é histórico e a qualidade da equipa de Portugal inquestionável, mas a vitória é garantia que 1999 se tornará em “ano vintage” do futebol português? A história diz-nos que não.
Antes do triunfo em Seinajoki, a última vez que Portugal tinha vencido um Europeu no derradeiro escalão do futebol de formação foi precisamente em 1999, o ano que todos os jogadores da selecção sub-19 nasceram. Na altura, o escalão era sub-18 – passou para sub-19 em 2002 -, e a competição foi disputada na Escandinávia (Suécia) e, tal como agora, o adversário na final foi a Itália. Liderados por Agostinho Oliveira, um grupo de 18 atletas portugueses começou a competição com um empate (0-0 contra a Grécia), mas, em seguida, ainda na fase de grupos, derrotou a anfitriã Suécia (3-1) e a favorita França (1-0). Na final, um golo do avançado boavisteiro João Paulo garantiu pela segunda vez o título europeu de sub-18 a Portugal. Desses campeões em Norrköping, apenas meia dúzia chegou à principal selecção portuguesa.
Apesar de alguns dos campeões europeus de sub-18 em 1999 terem realizado carreiras meritórias no futebol nacional (Cândido Costa e Filipe Teixeira, por exemplo), apenas três conseguiram fazer mais de uma dezena de jogos pela principal selecção portuguesa: Miguel, Duda e Ricardo Costa. Para além deste trio, o guarda-redes Moreira, o defesa Tonel e o médio João Alves também foram internacionais. A grande esperança do futebol português na altura era, no entanto, Pepa, mas, vítima de uma série de lesões, o actual treinador do Tondela nunca chegou a afirmar-se. Jogadores como Pedro Albergaria, Ernesto, Carlos Mota, Hugo Cruz ou Carlos Semedo acabaram por realizar carreiras discretas, nos escalões secundários.
Formado nos escalões juvenis do FC Porto, Tonel era em 1999 o líder da defesa dos sub-18. O central, que jogou na Académica, Marítimo, Sporting, Beira-Mar, Feirense, Belenenses e Dínamo Zagreb, considera que “terminar a formação a ser campeão da Europa é óptimo, mas não é garantia de sucesso ou de uma carreira ao mais alto nível”. O antigo internacional português explica que os jogadores que venceram na Finlândia o Europeu de sub-19 estão “a terminar um ciclo” e “vão agora entrar num contexto completamente diferente, que é o futebol sénior”. “Agora será preciso ter os pés bem assentes no chão. Vão ter muito trabalho pela frente se quiserem ter sucesso. Todos têm essa possibilidade, mas nada está garantido”, refere em declarações ao PÚBLICO.
“Quem se deslumbrar e achar que já tem uma carreira garantida por ter sido campeão da Europa, está engando. Isso é mentira. Apenas acabou um ciclo e o próximo será diferente. Este será o salto mais difícil. Uns adaptam-se, outros não. Agora vão ter pela frente jogadores experientes, com carreiras feitas”, acrescenta.
O antigo defesa central, que terminou a carreira no final da época 2015-16, admite que “uma vitória destas marca sempre pela positiva” e “dá estatuto”, mas “é só um momento”: “Continuariam a ter a mesma qualidade se não tivessem vencido a final. A malha agora vai apertar e não se podem deixar iludir. Não podem ser todos Cristianos Ronaldos.”
Pelo que viu deste Europeu sub-19, Tonel destaca David Carmo, “um central canhoto com uma boa estatura e que sabe posicionar-se”, e deixa um alerta para que jogadores como Jota sejam protegidos: “É importante que quem está mais próximo dele, incluído a família, o proteja. Estes jovens têm que ser bem aconselhados e têm que ter alguém que eles respeitem que lhes digam as coisas certas. O futebol é uma roda: tanto estamos em cima, como em baixo.”