Linha de Cascais perdeu 137 comboios por dia em sete anos

Horários de Verão da CP têm sido tratados directamente pelo Governo mas ainda não estão decididos, excepto a linha de Cascais.

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fau fabio augusto

Os cortes na linha de Cascais assumidos esta semana pelo Governo são apenas a decisão mais recente na progressiva redução da oferta nesta ligação. Mas a tendência já vem de trás. E tudo começou num Verão passado. 

Há sete anos, em 2011, a CP acabou com o horário de Verão da linha de Cascais que na altura reforçava a oferta com mais 70 circulações diárias. O mesmo é dizer que, desde então, a linha ficou com menos 70 comboios nos dois sentidos. Mas em Setembro desse ano a empresa decidiu acabar com a família de comboios entre S. Pedro de Estoril e Cais do Sodré. Resultado: menos 41 circulações.

O último corte foi em 2015, com mais 26 comboios diários retirados à oferta na sequência da extinção da família de Oeiras fora das horas de ponta.

Contas feitas, isto dá 137 comboios a menos em sete anos.

Se se omitir as 70 circulações cortadas em 2011 ao horário de Verão, que obedece a uma lógica sazonal de gestão da oferta, chega-se à conclusão que a linha de Cascais perdeu 67 comboios por dia em sete anos.

Há ainda outras contas nesta difícil ciência de contar comboios porque os horários são alterados muitas vezes: em 2002 esta linha tinha uma oferta, nos dias úteis, de 296 circulações por dia. Hoje, e ainda antes dos cortes de 5 de Agosto que se avizinham, a linha tem 204. Resultado: em 17 anos, perdeu 94 comboios.

O maior dos cortes até foi o de 2002 quando o então presidente da CP, Crisóstomo Teixeira, decidiu – subitamente e sem avisar os passageiros – cortar 39 comboios por dia, passando a haver apenas dois comboios por hora fora das horas da ponta. Os protestos generalizados, incluindo dos autarcas, levaram-no a recuar e o corte ficar-se-ia pelos 17 comboios.

O argumento da CP à época era o da “elevada taxa de motorização em Portugal, o forte investimento na expansão da rede rodoviária, o fraco investimento na modernização da linha e a deslocação das zonas habitacionais para áreas distantes do caminho-de-ferro”.

Dezassete anos depois, a CP não precisa de evocar uma alegada redução da procura (que os factos contrariam porque esta tem vindo a crescer) para fazer cortes na linha de Cascais. Desta vez o problema é que não tem comboios para responder às necessidades e precisa de os poupar e de os manter mais tempo em oficina.

Mas tal como há 17 anos, perante os protestos, também desta vez a CP recuou. Ou melhor, o Governo recuou porque o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, já veio dizer que este horário que começa em Agosto só vai vigorar até Setembro, isto é, durante 34 dias.

Às horas de ponta, os comboios de Cascais deixam de circular de 12 em 12 minutos em hora de ponta, passando para uma frequência de 15 em 15 minutos. "A 9 de Setembro serão repostos os horários actualmente em vigor", explicou esta semana fonte oficial do Governo. O Ministério do Planeamento e das Infraestruturas indicou ainda que a 5 de Agosto entram igualmente em vigor "outros horários sazonais em diversas linhas da CP", sem especificar quais.

O mais curioso neste processo é que, pela primeira vez, aquilo que é um acto de gestão corrente da CP – implementação dos horários de Verão – está a ser tratado no Governo. Nas últimas semanas as reuniões entre a CP e o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas para tratar deste assunto têm sido diárias e feitas ao mais alto nível. Mas com resultados que tardam em aparecer porque fonte oficial daquele Ministério disse ao PÚBLICO que só a linha de Cascais estava já decidida, mantendo-se ainda tudo em aberto para as restantes linhas do país, incluindo a já noticiada eliminação do primeiro Alfa Pendular entre Lisboa e Porto.

Isto explica-se pela situação de emergência a que chegou a CP devido à falta de material circulante e que a obriga a cortes draconianos na sua oferta regular. O caso mais paradigmático é o da linha do Oeste, cujo novo horário esteve previsto para 10 de Junho, mas que desde então tem sido objecto de discussão entre a empresa e a tutela. Na altura, o Governo afirmou que “defende o reforço, e não diminuição, do serviço ferroviário” e desde então a tutela e a empresa têm procurado soluções para uma equação que não se resolve: se não há comboios, não se pode manter a oferta. 

CDS contra solução rodoviária 

A solução de um BRT (Bus Rapid Transit) para a linha de Cascais, que tem vindo a ser proposta por alguns especialistas e lobistas desta tecnologia (que prevê vias fechadas dedicadas à circulação de autocarros regulares), não colhe o apoio da distrital de Lisboa do CDS/PP. Nuno Gusmão, vice-presidente daquela estrutura e também presidente da concelhia de Oeiras, diz que discorda "em absoluto” dessa possibilidade e defende a modernização da infra-estrutura e a compra de novos comboios.

“Um comboio de sete carruagens transporta aproximadamente o mesmo que 15 veículos BRT”, diz, sublinhando que deve-se aproveitar a via férrea que já existe e a sua interligação com a linha da Cintura através de um desnivelamento em Alcântara.

“Actualmente o trajecto Cascais – Lisboa faz-se em 33 minutos, mas com material circulante novo esse tempo pode ser diminuído para 25 minutos. Ora o BRT não é competitivo nem nos tempos de percurso, nem no número de passageiros nem na eficiência energética”.

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