Cascais disponível para gerir linha de comboio

Carlos Carreiras exige ao Governo que invista na linha de Cascais e fala na possibilidade de os comboios serem substituídos por autocarros.

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guilherme marques

O presidente da Câmara Municipal de Cascais diz que a autarquia está disponível para assumir a gestão da linha ferroviária de Cascais, à semelhança do que aconteceu com a Carris em Lisboa. Carlos Carreiras afirma que faz esta proposta “em estado de desespero” perante a degradação do serviço e a falta de investimento do Estado naquela linha.

“Estamos abertos a qualquer tipo de solução que resolva este problema grave. Até há disponibilidade, se quiserem, de concessionarem a linha às câmaras de Cascais, Oeiras e Lisboa. Se as outras não quiserem, Cascais está pronta para assumir a concessão”, declara Carlos Carreiras ao PÚBLICO. Dado que o investimento necessário é muito elevado, o autarca diz que, nesse cenário, a solução passaria por entregar a exploração a uma empresa privada.

Num artigo de opinião para o jornal i desta quarta-feira, o autarca escreveu que “quando tudo o resto falha, está nas mãos das câmaras lutar por uma mobilidade que seja pré-condição da liberdade e da prosperidade para todos”. No mesmo texto, Carreiras defendeu que “não há mais tempo a perder” para lançar “o BRT (bus rapid transit) em dois eixos: na A5, em faixa dedicada; e no actual espaço canal da linha da CP”. O BRT é um sistema de autocarros que, idealmente, circula por uma via desimpedida de obstáculos.

Ao PÚBLICO, o presidente da câmara cascalense já não é tão peremptório sobre a substituição dos comboios por autocarros. “Essa é a solução em limite, embora seja a que menos gostaríamos de ter”, diz. Ainda assim, aponta méritos ao BRT. “Do ponto de vista ambiental, é tão ou mais favorável do que a solução ferroviária. E tem uma vantagem adicional: tanto pode andar no espaço-canal como fora dele”, explica Carreiras.

O autarca ainda não falou com os presidentes das câmaras de Lisboa e Oeiras, cujas declarações públicas sobre este assunto não parecem muito articuladas. Fernando Medina defende a ligação entre as estações de Alcântara-Terra e Alcântara-Mar, o que permitiria fechar o anel ferroviário interno da cidade e unir a linha de Cascais à linha do Norte. Isaltino Morais não descarta a possibilidade de os comboios serem substituídos por eléctricos.

“Seja qual for a solução, tem é de haver uma solução”, diz Carlos Carreiras, que critica o Governo por nada dizer às autarquias. “O Ministério do Planeamento e Infra-Estruturas tem estado completamente calado. O que temos sabido é pelos jornais. O Governo não pode continuar a fingir que não há um problema grave.”

“Não estamos desatentos à situação da ferrovia”, comentou o ministro Pedro Marques também esta quarta, numa visita ao Algarve, onde os problemas com comboios são também frequentes. Para a linha de Cascais foram anunciados, ao longo dos últimos 20 anos, inúmeros projectos que não saíram do papel. O quadro comunitário Portugal 2020 prevê para este troço a “modernização, incluindo intervenção nos sistemas de sinalização e telecomunicações”.

Só que aos problemas intrínsecos da via férrea somam-se os dos comboios, que são dos mais antigos da frota da CP e há muito ultrapassaram o prazo de validade. Para breve está previsto o lançamento de um concurso público para a aquisição de novos comboios, mas na melhor das hipóteses só daqui a três anos é que eles chegam às linhas. Entretanto, como o PÚBLICO noticiou há um par de semanas, em Agosto vai haver redução da oferta em praticamente todas as linhas da CP.

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