“Chegou ao aeroporto uma avioa que vem prenhe”
Não há memória de se assistir na cidade de Beja a uma manifestação de entusiasmo como a que envolveu a chegada de um A380 da companhia Aérea HiFly. Até se chorou
Ninguém poderia antecipar a mega romaria de gente que na tarde desta segunda-feira rumou ao aeroporto de Beja para assistir à chegada do maior avião de passageiros do mundo – o Airbus A380. De carro, autocarro, bicicleta, de motorizada e a pé, milhares de pessoas bloquearam literalmente o acesso ao aeroporto de Beja apesar do intenso calor a demonstrar que o Verão chegou, finalmente. Tudo à espera da “aviôa que vem prenhe” comparou um dos romeiros. “Isto (a avioa) só no Alentejo é que podia aterrar", acrescenta, convicto. Na linguagem regional um pequeno avião é um avianito. Um avião grande “é uma avioa” que, por ser robusta e bojuda, parece “prenhe”.
O trânsito foi de tal forma intenso que as brigadas da GNR mobilizadas para ordenar o movimento de carros foram forçadas a travar o acesso de mais viaturas à aerogare do aeroporto de Beja. Ao mesmo tempo uma fila compacta circulava em sentido contrário por não ter espaço para estacionar, a mais de um quilómetro do local da romaria.
A ANA-Aeroportos de Portugal previu uma onda humana e abriu as portas do aeroporto para este ficasse um pouco mais ao fresco. As pequenas elevações de terreno que circundam a unidade aeroportuária estavam repletas de gente e de viaturas. “Até parece que estamos na Segunda Circular” em Lisboa, comparou José Piçarra, lamentando ter chegado ao aeroporto quando o avião já tinha aterrado.
A ansiedade pela chegada do enorme aparelho levou algumas pessoas mais sensíveis à comoção. Na altura em que a enorme aeronave sobrevoou o local da concentração num voo em círculo e a baixa altitude, que deu bem a dimensão do “bicho”, houve lágrimas.
“É mesmo grande. Enorme. E único”, exultava Marília Contreiras, que agitava, como a maioria das pessoas, uma pequena bandeira azul da HiFly que dizia “A380”. E que jurava que nunca tinha sonhado em ver uma coisa daquelas “tão pesada no ar e por cima da cabeça”. E depois de um suspiro, saiu-lhe um grito: “É lindo, lindo!!!” Outro dono de mais um nariz no ar gritava, entusiasmado: “O gajo até deu uma voltinha para a gente o ver bem”.
O presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, frisou que a chegada do aparelho vinha confirmar “as capacidades” da infra-estrutura que tanta polémica e algumas anedotas tem suscitado. “Do ponto de vista histórico e simbólico, o que aconteceu em Beja com a chegada do A380 foi extraordinariamente importante”, assumia o autarca, também ele perplexo com a adesão das pessoas ao apelo do Movimento Beja Merece +.
Com efeito, ao longo das últimas semanas, os coordenadores do movimento Florival Baiôa e o humorista Bruno Teixeira fizeram insistentes apelos à comunidade baixo alentejana para que fossem ver a aterragem, explicando que era fundamental contar com a presença dos cidadãos de forma a testemunharem este momento “histórico”. E pediam que toda a gente, recorresse as fotografias e vídeos para mostrar ao mundo que o aeroporto de Beja existe e que tem todas as condições par ser alternativa ao de Lisboa. Baiôa não escondia a ansiedade. “O raio do avião já me está a dar muito stress. Vai fazer um voo rasante a Beja. Aterra no aeroporto às 16h30 horas”. Aterrou pouco depois. Foi a primeira vez que o A380, o maior avião de passageiros do mundo, tocou terras portuguesas. No entanto, chegou e sairá vazio pois o aeroporto será apenas usado para estacionamento e manutenção até quinta-feira. Tal como tem sido usado até aqui por outros "avianitos".
Vindos de todos os cantos
Percebia-se que a mole humana e de viaturas como Beja nunca viu – nem no dia em que o aeroporto foi inaugurado em 2011 – vinha de todos os cantos e recantos do Alentejo.
“Agora é que é”, acredita a maioria das pessoas, como José Rojão, confiante de que o aeroporto de Beja vai finalmente “andar para a frente” como alternativa aos de Lisboa, Algarve e Andaluzia.
A auto-estima dos baixo alentejanos está por agora em alta. Por momentos, não há lugar para mais frustrações como as que têm tido lugar nos últimos tempos com as posições do Governo de não adiantar uma data para a electrificação da via férrea entre Casa Branca/Évora e Funcheira/Ourique ou a abertura do IP8 que tem um troço de 16 quilómetros concluído mas que não abre ao trânsito há quase um ano por alegadamente ter havido um erro na concepção da respectiva portagem.
A chegada do A380 é, assim, encarada como uma “demonstração das capacidades da região que sucessivos governos tardam em perceber”, observa o Movimento Beja Merece +.