Quino repreende uso de Mafalda na campanha contra despenalização do aborto

Imagem da famosa personagem de banda-desenhada foi usada sem a permissão de Quino. O desenhador veio dizer que é a favor dos direitos das mulheres e nega estar contra a lei.

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Quino, fotografado em 2003 ADRIANO MIRANDA

A personagem de banda desenhada Mafalda, criada pelo artista argentino Quino, foi utilizada nas campanhas contra a despenalização do aborto no país. Na altura em que se debatia a legalização da interrupção voluntária da gravidez – aprovada há um mês – circulou pelas redes sociais uma suposta citação de Quino, assinada por si, que afirmava que o aborto o “enojava” e que “a Mafalda está sempre a favor da vida”. Agora, o criador, que tem 86 anos e perdeu a visão quase toda devido a um glaucoma, veio desmentir tais afirmações na quinta-feira: “Não autorizei o desenho, não reflecte a minha posição e peço que seja retirado”.

A posição também foi desmentida nas contas oficiais de Mafalda no Twitter e no Facebook, acrescentando que o cartoonista Quino, de seu nome original Joaquín Salvador Lavado, “sempre e explicitamente defendeu os direitos das mulheres”.

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A personagem Mafalda foi criada há mais de 50 anos DANIEL GARCIA

Como refere o El País, as falsas declarações de Quino causaram estranheza entre os admiradores de Mafalda: como é que uma miúda com uma posição crítica em relação aos discursos tanto do Estado como da Igreja se poderia manifestar tão abertamente contra a despenalização do aborto?

O esclarecimento não tardou. “Quando lhe contei que [a mensagem] estava a circular, ele disse-me ‘bom, isso acontece sempre, mas vamos fazer um curto esclarecimento para que não exista confusão’", explica o sobrinho de Quino, Diego Lavado, ao jornal espanhol. “Ele sempre foi muito feminista, foi o primeiro feminista que conheci”, prosseguiu Lavado. “No final do comunicado, disse-me ‘vamos acrescentar que esperamos que [as defensoras da lei da despenalização do aborto] tenham sucesso nas suas reivindicações’.”

A lei que legaliza a interrupção voluntária da gravidez até às 14 semanas no serviço público de saúde foi aprovada (por escassa margem) na câmara baixa do Congresso argentino a 14 de Junho, depois de um intenso debate que dividiu o país. A lei ainda vai ter de passar pelo Senado, algo que deverá acontecer em Agosto.

Na altura da votação, o Presidente argentino, Mauricio Macri, dizia aos membros do seu partido (Proposta Republicana) que votassem de acordo com as suas convicções, ainda que ele se mostrasse contra a legalização do aborto. Tal como acontece em grande parte dos países da América Latina, a Argentina só autorizava a interrupção da gravidez em casos excepcionais, como a violação e o risco de vida para a mulher – e, mesmo nestas circunstâncias, a interrupção da gravidez só podia ser feita depois da autorização de um juiz.

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