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Na primeira audiência do julgamento das FARC "Timochenko" pediu perdão às vítimas

“Pedimos perdão a todas, faremos até o impossível para que possam conhecer a verdade do que aconteceu", disse Rodrigo Londoño. Foi a primeira vez que os líderes das FARC se sentaram nos bancos dos réus.

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Rodrigo Londoño, antigo dirigente das FARC Reuters/LUISA GONZALEZ

Os comandantes das Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (FARC), actualmente desmobilizadas e transformadas num partido político, sentaram-se pela primeira vez no banco dos réus na sexta-feira. Dos 31 que foram convocados para a primeira audiência, acusados de “detenção ilegal de pessoas”, só três compareceram — os outros foram representados por advogados.

Começa assim um dos primeiros capítulos de um julgamento que tem por objectivo lidar com os crimes cometidos durante a guerra civil colombiana, que durou cinco décadas. A sessão inaugural do julgamento durou quase três horas e contou com a presença de Rodrigo Londoño, conhecido pelo nome de guerra "Timochenko"; Pablo Catatumbo e Carlos Lozada. Um quarto membro do grupo armado, Jesus Santrich, assistiu ao julgamento através de videoconferência a partir da prisão. Está à espera de ser extraditado para os Estados Unidos, por um delito de narcotráfico.

Serão julgados pela Jurisdição Especial para a Paz – tribunal criado de raiz, em 2016, para julgar os crimes da guerra entre as FARC e o Estado, que começou em 1964 e causou 220 mil mortos. Os antigos guerrilheiros no tribunal terão de fornecer detalhes sobre raptos e desaparecimentos entre 1993 e 2012.

“Estou aqui à vossa disposição, profundamente emocionado por ver que o sonho que tecemos em Havana se cristalizou”, disse Rodrigo Londoño, médico e antigo comandante das FARC que agora dirige o partido político em que as FARC se converteram, a Força Alternativa Revolucionária Comum, que tomou a sigla do grupo. Mencionou os acordos de paz alcançados em Havana que puseram fim à guerra.

“Vamos lembrar realidades dantescas, e vão certamente surgir feridas, dor, angústia e perdas irreparáveis a muitas famílias colombianas e estrangeiras”, disse, ao sair da sala de audiências. “Pedimos perdão a todas, faremos até o impossível para que possam conhecer a verdade do que aconteceu. Assumiremos a responsabilidade que nos compete, vamos contribuir até onde for possível para a reparação e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para que coisas desta natureza não se voltem a repetir.”

Este julgamento só foi possível graças a um acordo de paz assinado em 2016 em Havana, conseguido pelo antigo Presidente Juan Manuel Santos, fruto de quase quatro anos de negociações. Nessa data, determinou-se que se os ex-guerrilheiros respeitarem o acordo e pusessem fim à violência, poderiam tornar-se num partido político e ter penas mais curtas — entre cinco a oito anos de prisão num lugar alternativo à prisão, por exemplo.

Este acordo está agora sob fogo: o Presidente eleito em Junho, Ivan Duque, opõe-se. Durante a campanha, prometeu sentenças mais duras para os líderes das FARC e ajustes aos acordos. Mostrou-se ainda desagradado pelo facto de os ex-combatentes terem dez lugares no Congresso; terão cinco representantes em cada câmara a partir de 20 de Julho.

O trabalho deste tribunal, que se irá prolongar durante pelo menos 15 anos, é considerado de extrema importância para as vítimas e familiares. Ainda há quem espere conseguir encontrar os desaparecidos e saber o que aconteceu aos mortos. Os raptos eram uma importante fonte de financiamento do grupo, que terá arrecadado mais de 1,25 mil milhões de dólares nos resgates pagos por 8100 raptos, escreve a Reuters. 

Este é "um acontecimento histórico que constitui um passo fundamental nos esforços para pôr termo a este conflito armado”, disse na sessão a magistrada Julieta Lemaitre.

“O país nunca mais vai ser o mesmo”, disse Rodrigo Rivera, alto-comissário para a paz colombiano. “Os líderes das FARC perante um tribunal especial é algo que parecia impossível há 50 anos.”

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